Fertilizantes da Amazônia

Do Brasil Econômico

Dilema dos fertilizantes ameaça a Amazônia

Petrobras e a empresa canadense do banco Forbes & Manhattan prospectam jazidas de potássio amazônico. Mas viabilidade econômica e ambiental dos projetos é polêmica

Domingos Zaparolli

Nos últimos dois anos o Brasil importou US$ 15,4 bilhões em nutrientes para a produção de fertilizantes – potássio, fósforo e nitrogênio. As importações respondem por 70% da demanda nacional.

Este rombo na balança comercial levou o governo a colocar o estímulo à produção local destes insumos entre suas prioridades. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez apelos para que a Petrobras e a Vale se dedicassem a investir no setor. Os movimentos nesse sentido começaram a ocorrer.

Mas como mandam as leis da física, as reações também. Mineradoras se preparam para explorar o potencial amazônico na produção de potássio. A questão é que podem estar disparando o estopim de uma batalha ambiental sem precedentes.

A Petrobras informa que pretende investir na produção de ureia para a produção de nitrogenados, o que provocou uma acirrada disputa entre governadores e prefeitos para receber o investimento.

Enquanto isso, o governo estuda a prospecção de fósforo e potássio em águas internacionais profundas do Atlântico Sul, e a Embrapa busca soluções economicamente mais viáveis, em rochas brasileiras e material orgânico.

Entre os nutrientes que compõem os fertilizantes, o potássio é o maior problema, pois a dependência externa supera 90%. E os preços internacionais variam ao ritmo de birutas de aeroporto. Hoje custa por volta de US$ 500,00 a tonelada. Em 2008, antes da crise, superou US$ 1.000,00.

Estudos geológicos prévios apontam que o Brasil detém a terceira maior reserva mundial de potássio, atrás apenas de Canadá e Rússia.

O porém é que essas reservas estão às margens do rio Madeira, área ambientalmente delicada. Há dois projetos de mineração no local.

O primeiro, e mais conhecido, é da Petrobras, que detém uma área de 300 mil hectares em Nova Olinda (AM), onde a presença do minério já foi constatada.

Fonte ligada à empresa informou ao Brasil Econômico que, nos próximos três meses, a presidência da companhia receberá o relatório de análise técnica e econômica do reservatório, encomendado a uma consultoria estrangeira especializada no setor.

Só a partir desse documento será definido o melhor modelo de negócio para o empreendimento. Entre outras decisões, será possível definir se o projeto será desenvolvido pela estatal em parceria com a mineradora Vale ou com outros sócios

Até mesmo a recriação da antiga Petromisa, subsidiária de mineração da Petrobras extinta há 20 anos, está em estudo. A decisão sobre o investimento deve ocorrer até julho.

Investimento canadense

Em terreno contíguo, de mesma dimensão, a Potássio do Brasil, empresa que pertence ao banco canadense Forbes & Manhattan Inc., iniciou em janeiro um trabalho de sondagem para confirmar a existência de jazidas de potássio. Os resultados deverão ser conhecidos em meados do ano.

Hélio Diniz, presidente da Potássio do Brasil, demonstra confiança nos trabalhos de sondagem. “Sabemos que há potássio na região. O que precisamos é determinar o tamanho da reserva”, diz.

O passo seguinte será a realização de um estudo de viabilidade econômica da mina, que consumirá um ano de trabalhos. Confirmado o potencial, a expectativa da empresa é investir US$ 2 bilhões para uma exploração mineral que resultará na produção anual provável de 2 milhões de toneladas de cloreto de potássio

Os números projetados pela companhia são os mesmos previstos para a área pertencente à Petrobras em Nova Olinda.

Rejeitos no Madeira

A exploração do minério na Amazônia, porém, pode gerar um passivo ambiental de grande vulto. Esta é a opinião do geólogo e pesquisador da Embrapa Cerrados Eder de Souza Martins.

Na região, o potássio está a uma profundidade de mil metros. Segundo Martins, a extração exigirá a perfuração de canais profundos, por onde será injetada água quente para tornar solúveis os sais minerais depositados na jazida, o cloreto de potássio e de sódio.

“Este processo gera uma grande quantidade de resíduos salinos que serão despejados em água doce. É uma grande ameaça ao ecossistema do Madeira”, diz.

Eduardo Daher, secretário executivo da Associação Nacional para a Difusão de Adubos (Anda), também se mostra cético com o potássio amazônico. “Hoje é inviável. Vai gerar um embate ambiental que exigirá grandes investimentos em ações compensatórias. Qual será a viabilidade econômica destes projetos?”, indaga. Hélio Diniz, porém, é contundente. “Não investiríamos US$ 100 milhões em prospecção e estudos se não houvesse viabilidade econômica”, afirma.

O executivo vai além. Garante que não haverá impacto ambiental e que ainda colocará o nutriente no mercado do centro-oeste do país, o principal consumidor, por um preço inferior ao do importado. “Menor em pelo menos US$ 100,00 por tonelada”, diz.

Luis Nassif

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