A morte de Goldman, o último dos moicanos, por Luis Nassif

Com Goldman desaparece o último vestígio de um partido que, em algum momento, encampou teses modernizantes e visão social.

Passei pelo velório do ex-governador Alberto Goldman. Recebeu meu primeiro voto, nas eleições de 1970, fazendo dobradinha com Marcelo Gatto.

Na ocasião, estudava e votava em São João da Boa Vista e recebi a dica de amigos de confiança. Com a pesada censura já em vigor, mal entrando no AI5, aceitávamos a dica no escuro. E, felizmente, jamais me arrependi.

Depois, em São Paulo, acompanhei a trajetória de Goldman, primeiro no MDB “autêntico”, depois no PSDB. Sempre foi combativo. No período de vice-governador cedeu momentaneamente ao clima de ódio alimentado por José Serra. Mas foi por pouco tempo.

Quando os ventos se tornaram tempestade e o ódio passou a contaminar toda a política, saiu em defesa dos valores civilizatórios. Coube a ele a grande jogada política que revelou, em toda sua extensão, a personalidade dos neo(po)líticos, capitaneados por João Dória Jr, brandindo discursos de ódio. Enquanto a maioria do partido se acomodava às conveniências, e José Serra sumia, como em todo momento de crise, Goldman cresceu e enfrentou. A reação de Dória foi taxar Goldman de “velho”, “aposentado de pijama”. Nunca a personalidade de Dória foi exposta de forma tão cristalina. Foi o último grande serviço público de Goldman.

Agora, no velório, revejo velhos políticos tucanos, da fase mais civilizada da política brasileira, que se esgotou com a ascensão de Serra ao governo do Estado e, posteriormente, a candidatura à presidência.

Em um canto, o ex-governador Paulo Egydio de Souza, que veio de cadeira de rodas homenagear Goldman. Paulo Egydio foi governador na fase mais terrível do golpe, e tentou avançar com a abertura gradual. Em outro lado, o ex-chanceler Celso Lafer, com o olhar perdido dos que, mesmo em público, continuam imersos em pensamentos. Com Goldman desaparece o último vestígio de um partido que, em algum momento, encampou teses modernizantes e visão social.

 

Luis Nassif

20 Comentários

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  1. Conheci o filho dele, André, na faculdade. Ele estudava na FAU, e eu era aluno da Poli, mas tínhamos umas disciplinas lá. Se o ex-governador (que não conheci pessoalmente) era como o filho, posso dizer então que era boa pessoa

  2. Mais um que morre sem passar pela cadeia. Os tais ‘Honestos AntiCapitalistas’ que fariam Política de outra forma. Agora que morrem, até parece que deixam de pertencer ao Tucanato de Banestado, de Satihagaha, de Privatarias, de Mensalão, Merendão, Petrolão, Trensalão, Dossiê Cayman, Cartões Corporativos das Contas de Paulo Preto,…. Mas pelo menos é a História Brasileira que começa a se livrar de 9 décadas de Estado Absolutista Caudilhista Esquerdopata Ditatorial Fascista. Mais um das bases do Golpe Civil Militar de 1930 que se vai. A turma de Fefelech de USP (de 1934). Nome certo da Redemocracia da Anistia de 1979, que chegava para traze Educação, Empregos, Segurança, Saúde, Ensino Público, Saneamento Básico,…que diziam que haviam sido negligenciados no Período Militar. 40 anos de nada. Fora Novas Elites Nababescas. Descanse em Paz.

  3. Você cometeu uma falha imperdoável seu Nassifão.Deveria ter coxixado no ouvido mouco de FHC: Bem que Mário Covas deblaterou para posteridade:Você só vale um dólar tapado.

    1. Em verdade eu relutei em mandar o comentário abaixo por receio da guilhotina,mas vamos lá.
      O que Nassifão,para os íntimos,devia ter soprado no ouvido dele:”Por que diabos ele foi primeiro que você”.

  4. Foi ele o redator, na época da campanha do “mensalão”, do infame artigo falando em “sangrar” o PT, o Lula, pra conseguir o poder nas eleições de 2006…

    Que entende que durante aquele período foi chocado o ovo da serpente, não deve olvidar sobre quem fez o quê no verão passado.

    Obituário não é biografia.

  5. “Vice do PSDB diz que ‘País não aguenta’ e defende impeachment de Dilma Publicado 5 anos atrás em 20/01/2015 no Jornal de Brasília”.
    Morreu golpista.
    Sem perdão!

  6. Morrer todos vamos, morte não é certificado de perdão, não apaga erros cometidos e não beatifica o falecido, apoiou o golpe logo foi golpista, se o resultado do golpe não foi o que esperava paciência, tivesse eleito Alckmin continuaria a cantilena golpista, descanse em paz, as consequências de suas escolhas ruins ficam para os vivos suportarem.

  7. Caro Nassif
    Você cometeu um erro temporal: Goldman e Gatto foram dobradinha nas eleições de 1974, aquela em que Quércia derrotou o candidato do governo, Carvalho Pinto. Goldman era candidato a deputado estadual. As eleições de 1970 foram apenas para vereador. E quanto à Paulo Egídio, a maior parte de seu mandato, se não o total, se deu sob Geisel, num período um pouco menos escuro da ditadura.

  8. O BRASIL ACABOU – num grupo de família do qual sair desde a época da campanha, um primo ecetista tinha Deus no céu e o Kpetão na Terra : tudo bem, entendo a indignação diante dos Minions arrependidos mas, por outro lado, sei que aquilo foi uma engenharia muito bem montada pelos EUA e oligarquias nacionais e internacionais e que entrou em ação a partir de junho de 2013: tal qual aconteceu no Egito, o Brasil passou pelo mesmo processo suicida : há vários poréns aí : Como disse o @jornalggn tempos atrãs, um país como o Brasil será aquilo que sua elite quer que ele seja : pesar do erro de terem entrado na onda do golpe, vejo-os como vítimas de uma poderosa superestrutura formada pelos sistemas midiático, judicial, religioso e educacional : superestrutura que, como sabemos, é muito eficiente em manipular corações, mentes e votos …basta ver como se comportaram os jornalistas nesta noite na entrevista de Gleen : como disse Zé de Abreu ao comentar o Roda Viva : o Brasil chegou ao fundo do poço : o último que sair que apague a luz do aeroporto : me lembro de uma frase de um jornalista de direita o Reinaldo Azevedo, quando da eclosão do ovo da serpente em 2013 : O Brasil Acabou :

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