Exposição recria universo do cantor baiano Elomar

Enviado por MCN

Do Correio da Bahia

Mostra no Itaú Cultural recria universo do cantor baiano Elomar

A mostra segue até 23 de agosto e reúne trechos de originais dos romances, tirinhas do bode Orelana e as músicas marcantes

Idealizada pelo Itaú Cultural, a mostra Ocupação, que chega à 25ª edição, destaca o universo criativo do cantor e compositor baiano Elomar. Localizado na Av. Paulista, em São Paulo, o espaço se transforma numa réplica da fazenda onde ele vive, em Vitória da Conquista, e abre a porteira para revelar o mundo desse compositor que se celebrizou por meio de músicas dos discos Na Quadrada das Águas Perdidas, Auto da Catingueira, ConSertão ou Concerto Sertanez, entre outros.

Elomar na visão de Juraci Dorea
(Foto: Juraci Dorea/Divulgação)

A mostra será aberta sábado e conta com a presença ilustre do homenageado, que apresenta o concerto Da Carantonha Mili Légua a Caminhá, no Auditório Ibirapuera, com a participação de Heraldo do Monte e João Omar, maestro e instrumentista, filho de Elomar.

A mostra segue até 23 de agosto e reúne trechos de originais dos romances, tirinhas do bode Orelana – personagem de Henfil inspirado em Elomar – as músicas mais marcantes de sua carreira, poema inédito, cartas e objetos pessoais. E ainda traz trechos da entrevista dada pelo músico à equipe do Itaú Cultural.

Respeitando o gosto de Elomar, nessa Ocupação não há fotografias suas, mas sim desenhos feitos por seu conterrâneo Juraci Dorea representando a sua figura, a sua música e o seu mundo.

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https://www.youtube.com/watch?v=eShNz54yNgw height:394

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Do Itaú Cultural

Ocupação Elomar

Entre as luas nova de julho e crescente de agosto de 2015, o universo do músico Elomar Figueira Mello transforma o Itaú Cultural em uma casa de fazenda. A 25ª edição do programa Ocupação torna-se morada para registros, objetos e memórias que revelam de onde surgem as referências que, para além da música, habitam romances, poesias e peças de teatro compostas pelo artista. A mostra é gratuita e pode ser visitada a partir do dia 18 de julho.

O espaço expositivo faz menção ao local em que hoje vive Elomar – a Casa dos Carneiros, fazenda que fica em Vitória da Conquista (BA). Elementos como a aridez do solo, cercas, bodes, grandes janelas da fazenda e narrativas presentes na música de Elomar convidam o público a adentrar um espaço de contemplação e deixar-se levar pelos encantamentos do sertão profundo.

Música e linguagem

Arquiteto por formação e músico por destino, Elomar ainda criança se fascinou. “As primeiríssimas peças que compus eu tinha 9, 10 anos – no violão, sem texto. A música Deus mandou para mim muito cedo. Com 7, 8 anos já chegou o despertar, o grande encantamento”, diz o compositor. Elomar conta que o texto, a poética, chegou um pouco mais tarde.

Ainda garoto percebeu a existência de duas linguagens: a culta, que estava nos livros e no falar do pessoal das cidades; e a dos roçalianos, que ele só conhecia oralmente. E assim desde o primeiro trabalho explora uma expressão própria da língua portuguesa – grafia e termos – que reproduz a fala do sertanejo e foi batizada pelo criador de dialeto sertanezo. “Todo texto meu que se refere a discurso de vaqueiro, de retirante, de camponês ou de habitante do sertão versa em sertanez”, conta. Pelos registros da oralidade dos próprios habitantes do sertão transita o português castiço.

Carreira

O estudo de música era paralelo ao curso de arquitetura, realizado na Universidade Federal da Bahia (UFBA), em 1959. Elomar frequentava os Seminários Livres de Música dos regentes e professores Ernst Widmer e H. J. Koellreutter.

Na década de 1960, o músico voltou a Vitória da Conquista, onde se casou e teve três filhos. Depois disso lançou seu primeiro compacto simples, em 1968, com as composições “Violeiro” e “Canções da Catingueira”. Em 1972 publicou o primeiro álbum, Das Barrancas do Rio Gavião, em que agrega elementos e influências do romanceiro medieval ibérico e do cancioneiro popular nordestino. São desse período os trabalhosParcelada Malunga e Fantasia Leiga para um Rio Seco, entre outros. Em 1981 estreou em São Paulo o prestigiado espetáculo ConSertão, com participação de Arthur Moreira Lima, Paulo Moura e Heraldo do Monte.

Em 1984, ano do show Cantoria – com Geraldo Azevedo, Vital Farias e Xangai –, passou a trabalhar sua obra erudita e adentrar o universo das óperas, dos concertos, das antífonas e da escrita orquestral. Com o filho e parceiro João Omar, transita com desenvoltura pelos espaços da tradução cultural desses elementos de origem europeia. O disco Árias Sertânicas, de 1992, registrou os fragmentos de seu trabalho operístico Lançou álbuns pelos emblemáticos selos Kuarup e Marcus Pereira e também crio sua própria gravadora, a Rio do Gavião, responsável por quatro de seus 16 discos.

Manto Cantado

Educadores e visitantes embarcam em uma viagem para o sertão imaginário das canções de Elomar na produção coletiva de um manto de cavaleiro. Durante a mostra, aos sábados e domingos, o grupo produzirá – a partir do mote de canções – imagem e/ou texto com os materiais e técnicas de bordado e desenho em tecido e feltro. O manto do cavaleiro, ao final, será oferecido ao homenageado.

Redação

7 Comentários

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  1. Cultura catingueira

    A caatinga é um bioma marcante, e o povo que vive nele possui uma resistência formidável!

     

    Elomar consegue ilustrar de forma belíssima o linguajar e o canto desse povo, com tons de repente e de aboio em suas letras e canções!

     

    Comparo sua poesia com a de João Cabral de Mello Neto, Ariano Suassuna e a dupla Gonzaga-Teixeira, pela pureza e profundidade da alma nordestina-catingueira que consigo captar em seus versos.

     

    Viva Elomar!

  2. Elomar

    Homenagem mais que merecida. Elomar ainda e um ilustre desconhecido para a maioria dos brasileiros apesar do grande valor de sua obra. Algumas de suas pecas lembram o universo de Guimaraes Rosa.

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