Jaime Sodré: músico, escritor, professor, comunicador, homem de terreiro, poeta da vida, por Josias Pires

As minhas palavras ficarão circunscritas a algumas das suas ações que, de algum modo, tocaram diretamente no meu trabalho e na minha vida.

Jaime Sodré: músico, escritor, professor, comunicador, homem de terreiro, poeta da vida

por Josias Pires

Muito se pode dizer e escrever sobre o professor Jaime Sodré, falecido nesta quinta-feira (6) em Salvador. As minhas palavras ficarão circunscritas a algumas das suas ações que, de algum modo, tocaram diretamente no meu trabalho e na minha vida. A primeira lembrança que me ocorre é da sua condição de músico, xicarangoma (o mestre da percussão no candomblé jeje), profundo conhecer da música de candomblés da Bahia e, por extensão, do samba em todas as suas variantes, assim como da capoeira, conhecimento vivencial e pelo estudo, pois Jaime Sodré era professor doutor em teoria e história da arte e da cultura afro-brasileira, com livro publicado sobre o imortal Manuel Querino.

Jaime Sodré nos deixou um belíssimo CD de música sacra do candomblé (1998), que concebeu e produziu (com Carlos Maguari), disponível no YouTube aqui.   Selecionou o repertório com Edinho de Oxaguian e reuniu um time de grandes músicos para a gravação na WR. No texto publicado no Youtube, embaixo do vídeo com o CD, o leitor encontrará detalhes relevantes sobre Música Sacra do Candomblé. A primeira delas incluímos em um trecho do documentário “Mastros Sagrados e Profanos”, da série Bahia Singular e Plural, da TV Educativa da Bahia. Além do CD disponibilizado aqui, há outros na WEB da mesma coleção (CD Ketu e Jeje), (CD Nação Keto Ogum), (CD Nação Jeje Bessem) (CD Ketu Exu Elegbara).

Durante anos Sodré manteve uma coluna semanal de artigos no jornal A Tarde, fonte enorme de informações e casos sobre a Bahia. Conhecedor de segredos de terreiros, presente nas festas de largo, nos sambas, nos palcos (ele me contou que tocou percussão numa das orquestras de shows do sambista Ederaldo Gentil), ainda menino Jaime Sodré deixou-se impressionar pela figura mitológica do poeta popular Cuíca de Santo Amaro. “Parecia um boneco mamulengo daqueles que via em circos”, contou quando o entrevistamos para o filme documentário “Cuíca de Santo Amaro” (2011).

Enquanto a cidade crescia, Jaime foi alargando cada vez mais o seu conhecimento em todas as direções. Quando a TV Educativa, em 2007, resolveu fazer a transmissão ao vivo do Carnaval de Salvador com o suporte de comentaristas especializados, Jaime Sodré foi dos primeiros que chamamos. Seus comentários dos desfiles dos blocos durante os Carnavais demonstraram tratar-se de um comunicador excepcional.

Quando fiz com Frede Abreu (de saudosa memória) o documentário “Artes da Capoeira”, na TV Educativa, chamamos Jaime para a primeira Roda de conversa. Foi uma felicidade o ver tornar-se imediatamente entrevistador, junto com Frede Abreu, ajudando a conduzir a conversas com os mestres presentes. Os interessados podem conferir seu desempenho na Parte 1 no You Tube . Homem versátil, escritor, historiador, Jaime fez graduação, mestrado e doutorado na Escola de Belas Artes da UFBA, estudando Manuel Querino e Mestre Didi.

Tornou-se professor de designer, inclusive concebendo protótipos de peças utilitárias. Termino este pequeno texto com uma nota muito pessoal, familiar. Denotando a sua profunda disponibilidade para novas atividades, Jaime investiu parte do seu tempo, em 2010 e 2011, para criar uma revista HQ “Supercadeirante”, cujos textos são dele e de Huna Pires e os desenhos são de seus alunos da Universidade Estadual da Bahia.

Grande Jaime, sua alegria, sua sabedoria e sagacidade, sua verve, seu humor, sua ironia e picardia jamais morrerão na memória de todos os que os conhecemos.

Redação

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