A estratégia ideológica-comercial da velha mídia

Penso que não é apenas a racionalidade econômica que determina a atuação de agentes com poder para consolidar idéias. Empresas que vendem bens tangíveis, agem norteadas sempre pelo seu fluxo de caixa e seus resultados no curto prazo. Isso não se aplica necessariamente aos agentes que lidam com informações, e mais, que têm potencial para construir e consolidar idéias. Neste caso há uma margem de aposta na eficácia da venda dos seus produtos para além do presente. Um jornal vende conceitos, influencia opiniões e tem por isso uma atuação política.

Não é possível entender um jornal apenas pela lógica mercadista. Seria um erro fazer isso dado o caráter muito peculiar do que ele se propõe a vender que não é matéria bruta. Claro que a lógica econômica também faz parte das suas estratégias, pois vivemos numa economia de mercado. Mas essa lógica não pode ser a única a explicar a atuação das empresas da mídia.

Esse tipo especial de agente para além de econômico é político, e seu tempo, pelo componente político da sua atuação é outro. Suas estratégias dentro deste tempo diferenciado de análise conjuntural (que não é meramente de fluxo de caixa), comporta a tomada de decisões que são ideológicas e que sendo assim, carregam expectativas voltadas para o futuro, realizáveis ou não.

A Folha parece cada vez mais ter optado por se pautar por este componente ideológico e político em suas estratégias e bem menos pela razão econômica em sua atuação, o que é uma estratégia de alto risco. Mas é uma estratégia na qual parecem acreditar piamente esperando colher frutos no futuro de suas opções políticas, ideológicas e eleitorais que estão sendo semeadas no presente.

A grande questão é que a semeadura no presente, desconsiderando a estação, pode resultar numa colheita catastrófica e numa sobrevivência futura no mercado que pode não se coadunar com seus planos que hoje não colocam a lógica econômica como racionalidade definitiva na tomada de decisões de como vender seu produto. Mas seus estrategistas acreditam nisso dentro do espaço temporal diferenciado que este muito particular tipo de empresa lhes concedem.

A opção político-partidária do jornal é exposta claramente todos os dias, seja pelo seu proprietário ou pelos seus articulistas de maior proeminência, que lhe seguem. Eles todos sabem que estão na contramão da opinião da grande maioria dos cidadãos deste país solicitada a se manifestar institucionalmente da última vez há quase quatro anos atrás, como prevê a Constituição Federal ou de forma amostral, agora semanalmente cutucada nestes tempos que antecedem a nova consulta constitucional de 2010 chamada de eleições. Eles sabem que navegam contra a maré.

No entanto, tomados em suas decisões e estratégias por algo que nada tem da lógica econômica e que portanto não pode ser explicado a partir dela, acreditam que suas crenças prevalecerão futuramente e é exatamente isso que devemos combater desde agora, ainda mais que se valem de quaisquer meios para convergí-las no futuro com a razão econômica e por conseguinte, sobrevivência. 

Luis Nassif

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