Agnelli e a tentativa de terceiro turno

Coluna Econômica

A matéria do Estadão sobre a demissão de Roger Agnelli – publicada no domingo – responsabiliza o Bradesco pela saída do executivo. Segundo a matéria, outros interesses do banco com o governo – Banco Postal, parcerias com o Banco do Brasil no cartão Elo – teriam levado o Bradesco a rifar Agnelli.

Há a nítida sensação de que o banco foi usado pelo jornal para fins políticos.

A quantidade de repórteres envolvidos indica que foi matéria encomendada pela direção do jornal. Onze jornalistas participaram da matéria, todos de Brasília.

Mencionam-se como fontes dois diretores da Vale, um ex-funcionário, três ministros, quatro parlamentares e dois advogados do sistema financeiro. Nenhum é identificado. Fica-se sem saber a origem de cada informação publicada, o grau de isenção da fonte consultada. Não existe um documento, uma gravação, foto ou o que seja que dê consistência às versões apresentadas. É uma revista Veja sem gravação.

A única fonte que aparece em on é o próprio Bradesco, ao afirmar que todas as ilações relatadas são improcedentes.

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OBraO Bradesco nunca foi partido político, nem defensor de ideologias.

Por estar focado exclusivamente no mercado bancário, desde que Roger Agnelli foi para a Vale, há 11 anos, saiu da órbita do banco, passando a responder à Bradespar – a holding que controla os negócios não financeiros do grupo.

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Há a firme convicção de que a matéria partiu do próprio Agnelli. O sentimento, no banco, é de deslealdade do antigo funcionário. O Estadão quis o terceiro turno; Agnelli, um acerto de contas com a organização, por ter perdido não apenas a Vale mas a futura liderança do grupo.

Quando apregoava amizade com Lula, tocando a vaidade dele, Agnelli colocava-se acima do banco.

No ano passado, deu um tiro na água. Quando as pesquisas melhoraram para José Serra e criou-se a torcida para sua virada, Agnelli deu a declaração na África dizendo que o PT estava atrás do seu cargo. Apostou no cavalo errado.

Quando se viu em maus lençóis, começou a envolver o nome do Bradesco na história, colocando-se como vítima, tentou mobilizar políticos e lobistas e começou a tomar decisões pessoais, atitude imprópria para o CEO de uma empresa do porte da Vale.

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O Banco Postal é uma parceira do Bradesco com os Correios. Foi resultado de licitação pública realizada ainda no governo FHC. Este ano haverá nova licitação. Desta vez, inscreveram-se todos os concorrentes do Bradesco, do Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal ao Itaú Unibanco.

Será possível, com tal grau de competição e transparência, supor que o resultado da licitação dependeria de um acordo subterrâneo com o governo federal?

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Em relação ao Cartão Elo, há mais de vinte anos Bradesco e BB são sócios na bandeira Visa. Por buscar a baixa renda, o Elo ainda é uma aposta. Qual a ligação de uma aposta de negócio com o emprego de Roger Agnelli?

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A prova de que a demissão de Agnelli não foi um ato político foi a decisão da Bradespar de contratar headhunters para buscar profissionais no mercado, executivos de carreira para substituí-lo.

Luis Nassif

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