Letícia Sallorenzo
Letícia Sallorenzo é Mestra (2018) e doutoranda (2024) em Linguística pela Universidade de Brasília. Estuda e analisa processos cognitivos e discursivos de manipulação, o que inclui processos de disseminação de fake news.
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As pesquisas e os verbos, por Letícia Sallorenzo – a Madrasta do Texto Ruim

As pesquisas e os verbos

por Letícia Sallorenzo – a Madrasta do Texto Ruim

Quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Primeiro, o contexto da bagaça: a situação 1 era o candidato A, preso e impedido de concorrer, na liderança isolada, seguido do candidato B (dsclp) no segundo lugar, com metade dos votos do candidato A. Tal situação persistiu até terça-feira da semana passada. Em 11 de setembro o contexto se alterou para a situação 2: candidato A’ entra no lugar do candidato A; candidato B mantém o segundo lugar.

Com isso, a pesquisa Ibope de ontem, na verdade, está medindo até que ponto A’ consegue emular A, e se o percentual de B se altera. O que o Ibope mediu: A’ cresceu 11 pontos percentuais em sete dias, e está em segundo lugar, sem empate com ninguém, enquanto B oscilou na margem de erro, e está em primeiro.

Observem os verbos que eu usei no parágrafo acima para falar de Haddad (o Alinha) e o Bolsonaro (Bê): oscilar para Bolsonaro e crescer para Haddad.

Agora vamos ver como os jornais deram destaque a isso. Claro que dona Pragmática vai nos ajudar na análise:

  1. Bolsonaro atinge 28%; com 19%, Haddad se isola em 2º (Estadão, capa)

  2. Haddad cresce 11 pontos e se isola no segundo lugar (Estadão, interna)

  3. Bolsonaro segue líder e Haddad cresce 11 pontos, aponta Ibope (Folha, interna)

  4. Bolsonaro lidera com 28%; Haddad vai a 19% e se isola em segundo lugar (Globo, capa)

  5. Bolsonaro é líder, Haddad sobe 11 pontos (Globo, interna)

 

– Bolsonaro é líder / lidera / atinge;

– Haddad cresce / sobe e se isola.

 

Não sei quanto a vocês, mas eu tô aqui encasquetada com esse “se isola” do Haddad. É possível entender esse “se isolar” como “não está empatado na margem de erro com ninguém”, mas também é possível entender algo como Haddad estar à parte da corrida presidencial – tipo Daciolo nas montanhas.

Como nas manchetes eleitorais não há necessidade de catar cabelo em ovo, vou fazer de conta que não vi esse “isolamento”. Mas deixo ocêis tudo aí cas pulga atrás dazoreia.

Mas não consigo deixar de observar que em todas as manchetes de capa o tópico é Bolsonaro (que apenas oscilou); Haddad (que subiu inacreditáveis onze pontos) virou tópico só na manchete interna do Estadão. O importante é reforçar a liderança do Bolsonaro, né? E Segura, Berenice, que esta semana ainda tem Datafolha!

 
Letícia Sallorenzo

Letícia Sallorenzo é Mestra (2018) e doutoranda (2024) em Linguística pela Universidade de Brasília. Estuda e analisa processos cognitivos e discursivos de manipulação, o que inclui processos de disseminação de fake news.

2 Comentários

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  1. Olha só, além de chamar mesmo

    Olha só, além de chamar mesmo demais a atenção o emprego “ofuscante” da palavra líder, pra mim fica questão interna, verdadeira mesmo, não apenas das deliberas opções redacionais, mas principalmente na oposto que fazem. 

    Va lá, se estão tentando me cconvencer a migrar para alguma região do centro, até consigo aceitar como parte de uma saudável aposta, mas quando o desiderato parece de fato querer fidelizar e atrair para o pragmatismo para essa monstruosidade, parece-me mais um sinal de declaração antecipada de guerra. 

    A coisa aqui tá preta.  

  2. Os eleitores do Aécio em SP

    Se for verdade que Bolsonaro lidera com 30% dos votos em SP e Haddad tem 16 (segundo o Ibope)o que pra mim pode ser mesmo verdade, só podemos concluir o seguinte: O eleitorado paulista do PSDB está pirado. Preferem votar num candidato de extrema direita que prega a violência até numa UTI e cujo programa econômico seria continuar o caos, a votar num conterrâneo seu com um perfil de um democrata e de homem do bem. Depois dizem que o povão das outras regiões do país não sabem votar. E não se espantem se esse % do Bolsonaro não crescer mais ainda à medida que Alkimin desidrata. Parece que os paulistas do PSDB ainda não assimilaram a derrota do Aécio. e querem a revanche custe o que custar, mesmo que para isso o país afunde de uma vez. Eles viram o que acabou acontecendo com a aventura do Temer. Será que vão acabar destruir o que já está em ruínas com seus votos? Será que não pensam nos seus empregos, nos estudos do seus filhos?

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