Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Fissuras no monopólio da Globo, por Wilson Ferreira

Fissuras no monopólio da Globo: Atletiba, blocos de rua e impeachment no Corinthians

por Wilson Ferreira

O muro do monopólio da Rede Globo está trincando. Nos últimos dias, uma série de fissuras começaram a surgir: o histórico cancelamento do clássico Atletiba como reação ao monopólio das transmissões esportivas da emissora; o impeachment mal sucedido no Corinthians, no ápice de recorrente pauta negativa da emissora envolvendo a arena do Itaquerão; e o crescimento exponencial do carnaval de blocos, atraindo verbas publicitárias que migram do sambódromo para as ruas, ameaçando um dos principais produtos oferecidos pela emissora ao mercado. Por trás dessas fissuras estão tecnologias de convergência, mídias sociais, empreendedorismo e competição. Tudo aquilo que o telejornalismo e colunistas globais raivosamente defendem como o futuro ético para o País. Mas que, na prática, o monopólio tautista da Globo foge, assim como o diabo foge da cruz. 

O que há em comum nessas três histórias?

(a) O cancelamento do clássico “Atletiba” (Atlético Paranense X Coritiba) no domingo passado por que os clubes se negaram a jogar devido ao impedimento da transmissão do jogo ao vivo, exclusivamente pelos seus canais no Facebook e YouTube, pela Federação Paranaense.

(b) A absolvição do presidente do Corinthians Roberto de Andrade e o arquivamento do pedido de impeachment feito pelo Conselho Deliberativo do clube.

(c) O crescimento dos blocos de carnaval de rua nas grandes cidades brasileiras. Em consequência, grandes marcas estão trocando os camarotes dos sambódromos pelas ruas. Depois de 26 anos de presença cativa no sambódromo carioca, a Ambev anunciou o fim das suas marcas (Antarctica, Skol, Bhrama etc.) nos camarotes VIP. Prefere agora desconcentrar a verba publicitária, dividindo-a pelo maior número de cidades e blocos de carnaval de rua.

O leitor deve ter matado a charada: o que há em comum é que essas três histórias narram três derrotas sequenciais da Rede Globo. Três derrotas que abrem perigosas fissuras no monopólio global de comunicações.

A mais importantes fissuras são a (a) e (c) pois têm a ver com o crescimento das tecnologias de convergência e redes sociais, cujo monopólio da Globo vem, a todo custo, tentando frear ou desmerecer principalmente pelas pautas negativas – para a emissora, Internet é sinônimo de crimes, vício, piratas e pedófilos.

Assim como fez nos anos 1990 com a ameaça dos canais por assinatura: monopolizou o mercado da TV fechada (ao custo do endividamento em dólares que quase a destruiu, não fosse o financiamento do BNDES dos tempos de FHC) e evitou a sua expansão, tornando o serviço caro e ineficiente. Literalmente, sentou em cima do futuro daquela mídia – aliás, muitos telespectadores passaram a assinar a TV fechada apenas para melhorar o sinal do canal aberto da Globo.

Abordaremos essas questões mais abaixo. Vamos começar pela história (b).

Fissura 1 – derrota no impeachment corintiano

Desde que as articulações políticas de Lula levaram à construção da Arena Corinthians, a Globo vive com o clube uma relação conflituosa: seus jogos são a principal audiência na grande São Paulo, maior praça comercial do País. Conta com a segunda maior torcida do futebol brasileiro, o Corinthians torna o futebol, ao lado das telenovelas, um dos principais produtos da emissora.

Por outro lado, dentro da atual tabelinha com a Operação Lava Jato e a liderança da Globo no movimento do impeachment, as relações de Lula com a chamada “nação corintiana” tornam-se problemáticas, principalmente com a proximidade das eleições de 2018 e a necessidade de torna-lo inelegível.

Desde o ano passado, uma pauta negativa em relação ao clube foi posta em prática: queda de parede, vídeos de vazamentos, queda de placas, supostos perigos aos torcedores ou qualquer coisa negativa envolvendo a Arena Corinthians. E mais estranho: do noticiário local a pauta foi transferida para o programa esportivo Globo Esporte.

O crescendo negativo chegou com uma das delações de Emílio Odebrecht, sempre divulgada em programas esportivos: o estádio teria sido um presente para Lula, que é torcedor do time. A construtora pertence ao consórcio que administra a Arena.

TV Globo faz previsível aproximação do impeachment no Corinthians com Operação Lava Jato.

E culmina com a tentativa de impeachment do presidente Roberto de Andrade por supostas irregularidades no contrato do estacionamento com uma empresa, com todo estardalhaço no noticiário esportivo.

A absolvição de Roberto de Andrade, após todo estardalhaço do noticiário da emissora com direito a infográficos e os indefectíveis testemunhos com áudio alterado com o rosto do entrevistado à contra-luz para impedir identificação, foi a derrota para uma emissora que pretende, a todo custo, negativar todo legado de Lula no clube. 

Nesses 35 anos como jornalista, professor universitário e pesquisador de mídia, esse humilde blogueiro nunca viu um noticiário esportivo dar tanto espaço à política interna de um clube. Mas, sabemos, que Lula fez parte do Conselho Deliberativo corintiano até 2016, então…

Fissura 2 – o histórico cancelamento do Atletiba

“O Grupo Globo continua respeitando os clubes e trabalhando para a melhoria do futebol brasileiro”. Essa foi a resposta tautista (autismo + tautologia – sobre o conceito clique aqui) da emissora ao cancelamento do clássico Atletiba: uma nota da emissora sem as imagens dos times reunidos do centro do gramado aplaudindo os 20 mil torcedores presentes que gritavam protestos contra a Federação de Futebol e a Rede Globo.

A torcida aplaudiu um jogo que não aconteceu, compreendendo a importância histórica daquele ato frente ao monopólio de federações e Rede Globo.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

7 Comentários

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  1. Uma suruba porno-erótica-golpista. Só faltam o Janot e o Moro

    Eu, Tripé, estou já  chegando.

    O problema da República: como soltar Eduardo Cunha

    temvagapramim

    A lógica da política já é complicada. A da política bandida, quase indecifrável. E quando o banditismo político infiltra-se em meio às togas, aí se passa a ter de raciocinar com o pressuposto do crime e da conspiração nas próprias instituições, já não apenas nos homens.

    Há muita gente achando que a súbita sinceridade de José Yunes, dispondo-se a fazer o papel de velho “bobo”, é parte de uma estratégia que aceita degolar o entorno de Temer – Geddel já foi, Moreira Franco é um morto-vivo político (mesmo antes, prestava-se mais a negócios, para o que hoje está interditado)  e Eliseu Padilha agora só vai ficar a salvo enquanto permanecer no hospital.

    O PSDB vai se assenhoreando do governo de fato e o PMDB vai sendo “escanteado”.

    Mas há um problema na “transição tucana” do Governo Temer.

    Está em Curitiba e chama-se Eduardo Cunha.

    Como dito no post anterior, Cunha provou ter nas mangas todos os trunfos de intimidade com esquemas financeiros de Michel Temer e mostra a ponta das cartas  quase que como a gritar por ser libertado, com o ressentimento de um vitorioso no golpe que foi descartado logo ao início do pós-golpe.

    Talvez os episódios de ontem – a confissão de Yunes e a nomeação de Osmar Serraglio, ex-homem de confiança de Cunha, para o Ministério da Justiça – sejam parte da solução do “problema”.

    Solução que parece ter começado a evidenciar-se com a fala de Gilmar dizendo que o STF tem um encontro “com as alongadas prisões de Curitiba”.

    A dificuldade é “combinar com os russos” da opinião pública.

    Soltar Cunha será um escândalo que razão jurídica alguma conseguirá abafar, pois “venderam” ao país que prisão preventiva, dependendo de quem, pode ser eterna. De forma mais simples: que a prisão precisa mais de razões morais do que legais.

    Soltar Cunha é também dizer adeus a uma estratégia que está, hoje, meio em banho-maria: a de prender Lula.

    Depois de terem “perdido o timing“, como disse aquele delegado falastrão, para prendê-lo, o que vem se desenhando é acelerar os processos e levar o caso logo à condenação – ou alguém duvida que o veredito de Moro já está pronto, devidamente retocado com honras de estilo e falsa erudição, para ficar como documento histórico do “anjo vingador” e confirmar a sentença em 2ª instância, no Tribunal Regional Federal, onde “tá tudo dominado” e pronto a correr em altíssima velocidade.

    Ainda assim. complicado, porque a condenação em segunda instância, pelo novo e feroz entendimento do Supremo, leva à prisão do já então candidato Lula. Implicará numa cassação e na cassação do favorito na disputa eleitoral.

    Estamos nos movendo no terreno pantanoso da traição, dos acordos secretos, da mancebia entre política e Justiça.

    Tudo é imensamente imprevisível e, ao mesmo tempo, evidente.

    Somos governados por uma associação de quadrilhas e falta pouco, muito pouco, para que a própria Justiça seja uma delas.

  2. Boicotemos a tudo que vem das

    Boicotemos a tudo que vem das organizações globo.

    Temo que em breve teremos uma pesada taxação (franquia) em cima da banda larga, ai é o fim. Partimos para a violência.

  3. Wilson está se tornando o algoz teórico da mídia que…..

    Wilson está se tornando o algoz teórico da mídia que não quer entender algo, o teatro e o cinema não sumiram mas deixaram de ser a forma hegemônica de transmissão de cultura popular passando a assumir um papel secundário, e quem melhor que alguém aficionado das artes cinematográficas para mostrar as verdadeiras dimensões que a televisão aberta assumirá nos próximos anos.

    Não para enterrar a TV aberta, mas simplesmente para transformá-la naquilo que ela virá a ser, só falta uma coisa, uma rede de notícias confiável que deveria ser assumida por pessoas confiáveis. Eu já disse com todas as letras que o GGN se mudasse de formato poderia assumir este posto no Brasil, porém por teimosia do Nassif que não tem a mínima capacidade de absorver críticas sem levar para o lado pessoal está se postergando algo até que como dizia Don João VI ao seu filho:

    -Pega isto antes que outro o faça.

  4. A Odebrecht podia se inspirar na Grobo!

    Essa construtora, em suas delações premiadas poderia solicitar aos Meritíssimos Juízes que alterassem a expressão “propina” pela expressão mais elegante como “bônus de volume”, não é?

    Afinal, analisando cuidadosamente onde ambas estas expressões ocorrem, perceber-se-á, sem temer, que se trata da mesmíssima coisa, apenas com atores um pouco diferentes. 

    Data venia, pecunia non olet.

  5. Fim da Globo?

    Muito interessantes esses três acontecimentos, mas não acredito que esse império midiático irá ruir tão facilmente.

    Desde o primeiro mandato do governo Lula,  Paulo Henrique Amorim, por exemplo, já previa a queda da Globo. Muitos diziam que a emissora não passaria de 2018. Queda de audiência, o crescimento das concorrentes, da Internet, Netflix, etc.; não faltavam motivos para a derrocada da Globo. 

    Porém, como vemos, a Globo está se adaptando. Incentivou o golpe e foi a maior beneficiária do Impeachment. Está investindo na TV streaming como plano B (sabe-se lá com que dinheiro), com propagandas, abrindo mão de receita que teria em 4 meses com novos assinantes, etc. Está endurecendo com as concorrentes na TV paga, inclusive influenciando operadoras a não renovar com o grupo Fox, por exemplo.

    A cartada final seria a limitação da internet (que não será fácil de ser aprovada) e a eleição de um presidente amigável aos Marinho em 2018.

    Por isso acredito que o fim da Globo não está próximo, infelizmente. Pelo contrário, foi dado tempo à “criatura”, que está tentando se adaptar às adversidades.

    Se até 2018, não fizermos nada para conscientizar a população (não só na internet, mas nas escolas, nos bairros, nas instituições públicas), temo pelo que possa acontecer ao Brasil. Afinal, o que a Globo não faria para o país voltar aos anos 80, quando a emissora detinha por volta de 90% da audiência.

     

    1. fim….

      Gente, a RGT já cumpriu o seu papel. E isto faz tempo. Teve mais sobrevida que ela mesmo esperava. Continuaremos atirando em fantasmas? Continuaremos tentando reescrever a história e construir o futuro estando no passado? Não é à toa que não saimos de 1964. Alguma diferença com 2017? Os militares não vestirão a carapuça desta vez? Só isto? O nosso novo monopólio, a nossa nova escravidão, a nossa nova ditadura, novamente financiada com dinheiro brasileiro para a farra de empresas e interesses estrangeiros é a internet. E tem gente que ainda comemora EI, Facebook, ESPN, Google ou outra porcaria qualquer como se não fosse a nova RGT do novo milênio. Sua vida emiuçada diretamente de Miami/USA, sem nem precisarem pisar no Brasil. Nem obedecer nossas leis ou fantasiais de leis e Estado que cremos ter. Daquela fugida sem explicação por 3 horas até os pagamentos das contas mensais. Toda sua vida num toque. E tem gente que acha que nós é que somos antenados, conectados, de um novo tempo? Sabe nada inocente. Síndrome que parece eterna. Bilhões e bilhões. Cite uma marca nacional? Toda sua vida dentro de marcas, interesses, observância  e empresas americanas. E você preocupado com um cadáver insepulto.    

  6. Sobre Globo e TV por assinatura

    Wilson,

    Assim como fez nos anos 1990 com a ameaça dos canais por assinatura: monopolizou o mercado da TV fechada

    Aliás, como fez nos anos 1980, em que travou o surgimento da TV por assinatura no Brasil até que tivesse condição de monopolizar a distribuição (NET e Sky) e programação (Globosat) da TV fechada.

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