Janio de Freitas afirma que o jornalismo precisa se reinventar

GGN – O colunista da Folha de S. Paulo, Jânio de Freitas, chamou a atenção hoje, em sua coluna, para a necessidade do jornalismo reagir.
 
No final da coluna ele aponta os vícios do novo jornalismo. Diz ele que, mal terminou o jogo da Alemanha, já havia reportagens na Folha e no Globo informando sobre a nova “estratégia do governo” decorrente do “temor” e do “mau humor” que a derrota teria instalado no Planalto.
 
Chamou a atenção do jornalista o fato de ambos os jornais terem utilizado a mesma expressão – “sinal de alerta” – para analisar o episódio e os humores do Planlto.
 
Palavras de mudança
 
O jornalismo brasileiro está precisando de uma reviravolta mais ou menos como a pedida para o futebol
 
Janio de Freitas
 
A variedade dos adjetivos foi pequena. Não por escassez vocabular de quem os emitiu nos jornais e nas emissoras, mas porque o acontecimento não suscitava mais do que palavras com força dramática. E todas serviram para conduzir à mesma ideia, também expressa com pequena variedade: é preciso mudar tudo no futebol brasileiro, que seja o fim de uma era, é o momento de iniciar uma ressurreição. A ideia é o que importa, e é boa. Para torná-la real, nada seria mais eficiente do que começar pelos que a propõem.
 
A imprensa e os jornalistas são muito democráticos: têm a convicção de que tudo e todos são sujeitos à crítica. Desde que não sejam a imprensa e os jornalistas. Apesar disso, é preciso dizer que os mal denominados meios de comunicação têm uma parcela –de difícil mensuração, mas não pequena– nas causas do que está chamado de “humilhação, catástrofe e vergonha”. E parcela maior no choque emotivo das pessoas em geral, reação que corresponde à expectativa esperançosa de que estiveram imbuídas.

 
Jogadores justificam ou não as expectativas boas ou ruins. Não pregam, porém, ânimos ou desânimos coletivos, sejam ou não fundados. Quem pode fazê-lo são outros. E são muitos os que fazem e por diferentes maneiras.
 
Não cabe dizer que os torcedores são dependentes das induções, porque nos esportes têm a possibilidade do testemunho que lhes falta na política. Mas a verdade é que são cabeças e almas muito sugestionáveis, muito sensíveis ao estímulo a paixões. (Dizem que é uma característica dos povos latinos, mas basta uma olhada na tendência dos americanos para os fanatismos, patrioteiros e outros, e constatar que não temos exclusividade na matéria). E foi isso o que se viu, com origens também perceptíveis.
 
Antes e depois de iniciada a Copa, o nível médio da franqueza foi muito baixo nos comentários sobre a seleção, em contraste com a crítica, em âmbito privado, de muitos dos mesmos autores profissionais. Ou pelo que transparecia nas entrevistas de seu trabalho público. Os amistosos com timecos, inclusive já às vésperas da Copa, com Sérvia e Panamá, prenunciaram o que viria depois. A contenção das análises naquele antes também se mostrou no depois. Já a escolha de Felipão contrariara a amplíssima preferência por outro treinador, talvez Tite, sem que isso se mostrasse com firmeza na imprensa esportiva. Os fatos mostraram que a preferência era justificada, e fez falta.
 
Se o tempo de vida em contato com a imprensa e com a opinião pública vale alguma coisa, é a partir dele que concluo pela contribuição da baixa média de franqueza crítica para a ocorrência do desacerto, continuado e progressivo, que levou à “vergonha”. E do mesmo modo se faz a minha convicção de que o ambiente ficou livre para que a falta de observações firmes, a tendência nacional ao oba-oba e os interesses comerciais se juntassem na criação do otimismo mentiroso. Logo, também na decepção doída como um luto.
 
O jornalismo brasileiro está precisando de uma reviravolta mais ou menos como a pedida para o futebol. A na área dos esportes, que poderia ser iniciada com menos obstáculos. Até porque a Olimpíada vem aí.
 
Ainda sobre a adjetivação da goleada engolida, sua destinação pareceu transbordar do alvo justo –a comissão técnica e os jogadores. Nada de “vergonha” ou “humilhação” nacional. Para os brasileiros, a derrota foi não mais do que estonteante. E não para todos. No curto tempo entre o fim do jogo e a edição dos jornais, segundo certo noticiário, o governo foi capaz até de projetar uma nova “estratégia”, que “agora é colar sua imagem apenas à organização”. Isso é que é governo veloz, segundo o emitido “sinal de alerta” (na expressão idêntica da Folha e do “Globo”) decorrente do “temor” e do “mau humor” que a derrota instalou no Planalto.
Redação

9 Comentários

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  1. Isto me fez lembrar algo

    Isto me fez lembrar algo muito interessante. 

    Durante a Guerra do Paraguai, bem longe do teatro de operações e sem ter correspondentes confiáveis na área do conflito, a imprensa carioca afirmava que a Fortaleza de Humaitá não poderia ser ultrapassada pela Marinha Imperial do Brasil. A peça chave do sistema de defesa concebido por Solano Lopez era invencível e o Brasil perderia todos ou quase todos seus navios de guerra se tentasse ultrapassar a curva do rio fortificada para chegar à capital inimiga, diziam os soberbos jornalistas brasileiros. 

    O almirante que comandava a frota no front recebia frequentemente os jornais cariocas e ficou paralisado de medo. Ele provavelmente acreditava na seriedade e na perspicácia dos jornalistas brasileiros que descreviam a guerra à milhares de quilometros de distância. O impasse só foi vencido quando o comandante de uma embarcação desafiou a imprensa e o comandante da Marinha Imperial, ultrapassando Humaitá sem receber um único tido direto de canhão. Os paraguaios descarregaram suas baterias de canhões contra a ousada embarcação brasileira, mas os tiros não chegavam à outra margem do rio no período da cheia. O resto é história. Após a queda da Fortaleza de Humaitá os militares brasileiros descobriram que o Paraguai não tinha um único canhão raiado moderno na mesma. 

    O que mudou na imprensa brasileira desde a Guerra do Paraguai? Quase nada se levarmos em conta as palavras de Janio de Freitas.   

  2. Como bem disse este decente e

    Como bem disse este decente e sábio jornalista Jânio de Freitas a imprensa na derrota da seleção agiu como sempre. Como o Brasil perdeu a catástrofe está instalada. E de agora em diante o Brasil só perde de goleada se Felipão for o tecnico. As manchetes dos jornais e os programs de esportes refletiam muito mais o jornalismo jabor do que o jornalismo jânio.

    Menos.

    E eu prefiro esperar o próximo jogo. O Brasil do 7 X 1 também é resultado da insegurança do “não vai ter Copa”, do peso de ter que ser campeão e do fato de o time ter perdido os seus dois principais jogadores. A seleção brasileira é muito melhor do que o time que perdeu de 7 X 1. E não é catástrode, não é vexame nem nada. Foi resultado de um momento infeliz da seleção e nada é tão negativo e tão podre como anúncia a imprensa e alguns de seus péssimos profissionais. Em tudo na vida há nuances a ser consideradas.

  3. Sobre “jornalistas” bem pagos e acomodados

    Como seria possível  reinventar o jornalismo se os jornalistas são “escravos” bem pagos de Frias, Marinho, Citita e que tais?

    Antes, seria necessário uma revolta de “jornalistas” bem pagos e acomodados contra os métodos de seus patrões.

    O alerta corajoso de Jânio de Freitas nos remete à fábula que indaga: “Quem vai colocar o guizo no gato?”

    Para quem serve a mensagem de Jânio, portanto?

    Porque se depender dos Mervais Pereira, por exemplo, o que esta posto permanecerá.

    Quanto aos barões da mídia… Seria o mesmo que tentar convencer o escorpião a não picar.

    A solução definitiva passa pela democratização dos meios e, portanto, pelo fim do monopólio (ou oligopólio) midiático.

  4. Só a imprensa está atordoada

    A imprensa investiu no “não vai ter copa”, tentou baixar a moral do povo, e na hora agá viu que podia comprometer o “negócio” dos seus patrocinadores, que pressionaram. 

    Aí tiveram que investir, pelo menos no time, sobrevalorizando-o, para terem, com o oba-oba, um pouco do retorno esperado. 

    Mas nunca enganaram o povão.  Sabíamos que ia ter copa. E sabíamos que o time era péssimo (tá certo que 7 x 1 foi demais…). 

    Não vi ninguem mais chateado com a derrota do que fica quando o time do filho perde na pelada do campeonato mirim do bairro.  

    Só a imprensa é que está atordoada. Confusa com a própria realidade virtual que criou para si mesma, e que não se confirma nunca.

    Dizer que o brasileiro foi humilhado é um desvario. O time é que jogou mau, deu vexame. Que façamos críticas à seleção e à organização do futebol brasileiro, mas querer transpor esse sentimento vira-lata para o inconsciente nacional, exclusivamente por conta de UM jogo de futebol, é mais uma roubada na qual a imprensa vai entrar. Estamos é orgulhosos dos elogios que todos fazem ao nosso país e ao nosso povo! A década de 50 do século XX já ficou lá atrás, estão querendo rescucitá-la. A ressaca da tristeza pela derrota acabou antes da ressaca etílica.

    1. kkkkk… Adorei seu

      kkkkk… Adorei seu comentário… eu então que sou corintiana , tenho a pele mais que curtida no ítem vexame…

      Como vc disse foi UM jogo, não dá pra ser a tragédia grega que a imprensa quer colar ( mais uma ) no imaginário nacional.. 

       

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