Jornalismo, crise e doutrinação, por Fábio de Oliveira Ribeiro

 

Ao fazer uma pesquisa sobre a crise no jornalismo me deparo com a seguinte afirmação:

“Oi, Luana, tudo bem? É verdade o que andam dizendo por aí: existe mesmo uma crise no Jornalismo. Algumas redações estão ficando mais enxutas com o tempo, e existe uma onda chata de demissões que assusta qualquer pessoa que esteja chegando agora na profissão. Grandes empresas, que dominaram o ramo no passado, estão ruindo diante da impossibilidade de lidar com a modernidade. Mas uma coisa tem que ficar muito clara: a crise está no negócio, não na necessidade de tratar e divulgar informações. A verdade é que ninguém encontrou ainda uma solução definitiva para afastar do jornalismo essa sombra que deixa muitos vestibulandos em dúvida – e que acaba levando muitos grandes repórteres em potencial pra longe da carreira. Mas há alguns caminhos possíveis.”

http://guiadoestudante.abril.com.br/blogs/pordentrodasprofissoes/category/jornalismo/

Há uma meia verdade nesta afirmação de Otávio Cohen, repórter do site da Superinteressante. As empresas de comunicação realmente estão em crise. Há também uma meia inverdade na afirmação. A necessidade de tratar e divulgar informações deixou de ser uma realidade, por dois motivos. Primeiro porque a própria informação bruta e sem “tratamento” pode ser despejada na internet produzindo efeitos devastadores (foi o que ocorreu em vários casos divulgados pelo Wikileakes). Segundo porque o próprio “tratamento das informações” está em crise.

O jornalismo cresceu e ganhou credibilidade em razão do apego à “verdade factual”, que foi definida por Hannah Arendt da seguinte maneira:

“Fatos e opiniões, embora possam ser mantidos separados, não são antagônicos um ao outro; eles pertencem ao mesmo domínio. Fatos informam opiniões e as opiniões, inspiradas por diferentes interesses e paixões, podem diferir amplamente e ainda serem legítimas no que respeita à sua verdade factual. A liberdade de opinião é uma farsa, a não ser que a informação fatual seja garantida e que os próprios fatos não sejam questionados. Em outras palavras, a verdade fatual informa o pensamento político, exatamente como a verdade racional informa a especulação filosófica.” (ENTRE O PASSADO E O FUTURO, Hannah Arendt, Perspectiva, 2009, p.295/296)

Num passado muito distante, o jornalismo fazia uma distinção clara entre “propagandas”, “opiniões” e “notícias”. As “notícias” eram os fatos relevantes de interesse público, nem sempre divulgados e algumas vezes deliberadamente escondidos, que os cidadãos precisavam conhecer para que pudessem formar suas opiniões. As “propagandas” eram os anúncios veiculados entre as notícias e as “opiniões” pessoais dos jornalistas (ou dos veículos de comunicação) sobre as “notícias” colocadas em circulação.

As “opiniões” e “propagandas” não precisavam necessariamente se submeter ao rigor da apuração dos fatos. E estes eram apurados mediante cinco perguntas básicas: Quem? Quando? Onde? Porque? Como? Mas nada disso tem sido levado em consideração. Na fase atual, por exemplo, a crise do governo se tornou uma “verdade conceitual absoluta”. A utilização de uma linguagem adversativa para desqualificar qualquer boa notícia através da referência à crise governamental http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/07/apesar-da-crise-o-texto-que-viralizou-nas-redes-sociais.html é uma prova de que o próprio jornalismo está em crise. O “trato da informação” não é feito de maneira criteriosa, mas foi totalmente corrompido por um viés anti-governamental e, ouso dizer, anti-petista.

O que estou consumindo neste momento? “Propaganda”, “opinião” ou “notícia”? No passado o leitor de jornal poderia fazer esta pergunta e obter facilmente a resposta. A própria forma como os veículos de comunicação tratavam as informações permitiam ao leitor diferenciar os assuntos sobre os quais deveria formar uma opinião e aqueles que já expressavam os juízos de alguém sobre um produto ou serviço (“propaganda”) ou sobre um fato em particular (“opinião” do jornalista ou do veículo de comunicação). No momento em que não pode mais fazer isto, o leitor não está sendo “informado” e sim “doutrinado”. É o que ocorre no momento atual. As empresas de comunicação querem fazer o leitor acreditar que há uma “crise governamental” e em razão disto usam a expressão “apesar da crise” para denegrir qualquer boa notícia que possa propiciar ao leitor o contato com uma “verdade factual” diferente e indesejada.

A crise do próprio jornalismo é evidente. E provavelmente reforçada pela “crise dos negócios” das empresas de comunicação, pois na atual fase da crise do jornalismo a crise governamental (categoria absoluta que fornece um viés obrigatório no trato das notícias) parece ser a única fonte de lucro das empresas de comunicação. Quais eram os “negócios” das empresas de comunicação antes da crise do jornalismo? Como eles foram afetados pelo governo? Quem no governo prejudicou as empresas de comunicação? Quando o governo parou de dar lucro para as mesmas? Porque o governo causou prejuízo aos jornais, revistas e redes de TV que se esforçam para “doutrinar” os cidadãos ao invés de divulgar notícias sem um viés anti-petista? Com a palavra os jornalistas que ainda fazem jornalismo.

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

3 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Regulamentação de Mídia só nos outros…

    aqui, seres acima da média dos demais humanos não precisamos de regulamentação, temos muita consciência, temos bom senso, temos espaço ao contraditório, temos autocrítica e nos autoregulamos, as divergências são civilizadas, debatemos sem ser em infindáveis debates porque já temos claro a opinião inicial ou posterior desse ou daquele participante, ou de autor de psots-títulos, sejam quem forem. Temos uma clara, muito clara e inquestionável linha editorial. E quem quiser que faça seu próprio blog ou frequente mais outros brasileiros que não dão espaço pra nenhum ou pra raríssimos comentários.    😉

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador