Datafolha usou Lava Jato, nunca as pedaladas, para saber se Dilma merecia impeachment

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Tanto faz se há crime fiscal que justifique o processo de afastamento, como manda a lei, porque o que Datafolha apura junto ao povo, desde 2015, é a corrupção como justa causa

Jornal GGN – Na semana passada, o Ministério Público Federal tomou mais uma decisão que coloca o processo de impeachment de Dilma Rousseff por crime de responsabilidade fiscal em xeque: analisou seis tipos de pedaladas e concluiu, com ressalvas, que não há dolo pessoal, nem desrespeito ao Congresso e muito menos afronta à Lei de Responsabilidade Fiscal por parte da presidente eleita.

O jurista Pedro Serrano avaliou, em entrevista à RBA, que se a Justiça Federal concordar com o MPF, a defesa de Dilma pode “matar” o impeachment no Senado, pois ficaria provado que o processo corre à revelia de embasamento jurídico.

A grande mídia decidiu simplesmente ignorar o peso da decisão do MPF. Mas no final daquela mesma semana, eis que surgiu na Folha de S. Paulo o resultado de uma sondagem do instituto Datafolha, afirmando que 50% dos entrevistados ouvidos em julho já preferem que o interino Michel Temer – no cargo desde maio – continue susbtituindo Dilma até 2018.

O mesmo levantamento apontou que hoje apenas 3% querem novas eleições, quando outros institutos aferiram, há poucas semanas atrás, que essa taxa era de cerca de 60%.

Nesta terça (20), o jornalista Glenn Greenwald revelou que a Folha cometeu uma “fraude jornalística” para dar legitimidade a Temer, manipulando a pesquisa Datafolha. O próprio instituto reconheceu que os dados publicados pelo jornal não podem imprimir a interpretação de que Temer é aceito por metade do povo brasileiro.

O relatório divulgado pelo Datafolha também releva outros dados. Um, em especial, talvez justifique o desinteresse da Folha – e de outros grandes jornais – por decisões relacionadas às pedaladas de Dilma.

Ao que tudo indica, tanto faz se não há crime fiscal nos atos da presidente afastada, porque o que o Datafolha apura, a partir de abril de 2015, é que Dilma merece ser derrubada por conta da Operação Lava Jato. A corrupção de políticos, empresários e servidores virou justa causa.

Pedaladas?

Em abril de 2015, a Datafolha foi às ruas, em meio a um constante tiroteio da Lava Jato, e sob as ameaças da oposição de usar decisões do Tribunal de Contas da União para afastar Dilma. Ao instituto, 63% dos entrevistados responderam que sim, Dilma deveria ser alvo de um processo de impeachment [33% disseram que não, e 4% que não sabiam]. A pergunta feita no caso foi: “Considerando tudo o que se sabe até o momento a respeito da Operação Lava Jato, o Congresso Nacional deveria ou não abrir um processo de impeachment, isto é, um processo para afastar a presidente Dilma da Presidência?”

Nas pesquisas de agosto e novembro de 2015, com 66% e 65%, respectivamente, favoráveis ao impeachment [ante 28% e 20% contra], a Folha apenas perguntou: “Na sua opinião, o Congresso deveria ou não abrir um processo de impeachment, isto é, um processo para afastar a presidente Dilma?” Àquela altura, decisões do TCU já eram um problema para Dilma, mas as famosas pedaladas ficaram longe do questionário usado com os entrevistados.

O impeachment foi acatado por Eduardo Cunha no início de dezembro de 2015.

 

Em 20 de março de 2016, faltando cerca de um mês para a Câmara decidir sobre o destino de Dilma, a Folha publicou resultado do Datafolha onde 68% dos entrevistados apoiavam a saída da presidente. A pergunta foi: “Como os deputados deveriam votar em relação ao afastamento da presidente?” Outros 27% foram contra.

Na última pesquisa, feita entre 14 e 15 de julho de 2016, denunciada por fraude, a pergunta era: “O Senado analisa um pedido de impeachment contra Dilma. Na sua opinião, os senadores deveriam votar a favor ou contra o afastamento definitivo da presidente?” Neste caso, 58% responderan sim, 35% não, 3% foram indiferente e outros 3% não sabem.

Desde abril de 2015, o Datafolha também pergunta: “Em sua opinião, Dilma vai ou não ser afastada da presidência por causa das denúncias de corrupção da Operação Lava Jato?”, independente da posição pessoal do entrevistado. Eis a evolução dos resultados dessa questão até julho de 2016, quando 71% responderam que sim. Recentemente, com o avanço do projeto de derrubada de Dilma no Senado, a pergunta mudou para: “Na sua opinião, Dilma vai ser ou não afastada definitivamente?”

“Fraude jornalística”

O jornalista Glenn Greenwald denunciou, e o Datafolha admitiu “o aspecto enganoso na afirmação de que 3% dos brasileiros querem novas eleições ‘já que essa pergunta não foi feita aos entrevistados’. Luciana Schong [do Datafolha] disse também que qualquer análise desses dados que alegue que 50% dos brasileiros querem Temer como presidente seriam imprecisos, sem a informação de que as opções de resposta estavam limitadas a apenas duas”.

As perguntas pela última pesquisa Datafolha foram:

– Você sabe o nome do atual ocupante do cargo de presidente da República? 

– O presidente interino Michel Temer está completando dois meses de governo. Na sua opinião, Michel Temer está fazendo um governo: ótimo/bom, regurlar, ruim/péssimo, não sabe. 

– De zero a 10, que nota você dá para o desempenho do governo Michel Temer? 

Aqui, a maioria (21%) deu nota 5 para Temer, que recebeu nota zero de outros 16%. Apenas 3% responderam nota 10. A média foi nota 4.

– Na sua opinião, você acha que Dilma vai ou não ser afastada definitivamente da presidência?

– Na sua opinião, o que seria melhor para o país: que Dilma voltasse ou que Michel Temer continuasse no mandato até 2018? 

– Na sua opinião, qual o principal problema do país hoje?

Aqui, 32% responderam corrupção, 17% saúde e 16% desemprego.

– Como você avalia o desempenho do juiz Sergio Moro na Lava Jato: ótimo, bom, regular, ruim ou péssimo?

Resposta: para 62%, ótimo/bom, 16%, regular, 13% de ruim/péssimo e 10% não sabem.

***

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Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

18 Comentários

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  1. Alguma novidade

    Esperar o que de um panfleto sujo que está atolado até o osso no golpe que se consuma? Só paulistano pra acreditar. 

  2. vcs se lembram…

    que. pouco tempo atras, o otavinho deu xilique internacional quando foi questionado na Europa sobre a participação da mídia no golpe que a direita corrupta deu no Brasil ?  … o imbecil chamou a participante que o questionou de petista,…

    E agora, taí, … passando recibo…  

    Sujeitinho burro !….

  3. Pior de tudo são os blogs

    Pior de tudo são os blogs progressistas que continuam publicando as pesquisas do DataFraude como se fosse a mais absoluta verdade. Fazem análises em cima dos números fraudulentos e ainda dão manchetes como se fossem fatos consumados. 

    1. Não tinha visto a coisa por

      Não tinha visto a coisa por este ângulo, porém não discordo muito de voçê. Deve haver alguma maneira de fugir dessa pauta quase que obrigatória imposta pelos grandes e golpistas meios de comunicação. Não esntendo porque sempre eles dão a notícia e fica cabendo aos progrssistas apenas analisar e discordar. Não dá pra aceitar como normal esses “bons moços ”  de curitiba dando espetáculos e mais espetáculos nessas coisas que eles chamam de entrevistas coletivas. A esquerda tem que criar uma alternativa a todo esse show de horrores que se tornou o noticiário no brasil. Apesar de há muito não ver notícias nesses veículos, todos sabem que é assim infelizmente que acontece.

    2. Concordo em parte

      Porém, como não há outros institutos de pesquisa e como as pesquisas destes institutos são divulgadas à exaustão (o jornal nacional, p.ex., já disse que só noticiaria pesquisas do Ibope e “datafalha”, excluindo até mesmo o Vox), o contraponto e uma análise mais profunda dos dados têm que ser feitas. Justamente porque se debruçam nos relatórios que os jornais não publicam é que possibilitam apontar sutis manipulações.
      Desta vez, foram jornalistas estrangeiros que apontaram a fraude e o Fernando Brito, do Tijolaço, procurou nos arquivos que o “datafalha” disponibiliza, os dados verdadeiros ocultos, ocasionando o desmentido: não é verdade que 50% querem que Temer continue. 

  4. Estecpseudo instituto,desde o

    Estecpseudo instituto,desde o seus levantamentos iniciais,sempre pautou-se pela defesa de seus interesses ou daqueles que o contratavam.

    Neste momento então,o que sobrou deste pseudo intituto chama-se datagolpe.

    É preciso que não os afastemos nunca desta caracterização.Essa gente sem vergonha tem de ser conhecida por aquilo que realmente são: Golpistas!

  5. Nenhuma novidade para este

    Nenhuma novidade para este escriba a última, porém não  derradeira,  manipulação dessa empresa de pesquisas. Nem precisei adentrar nos detalhes: logo que vi as manchetes nos jornais tirei minhas conclusões.

    A resultante disso tudo é a evolução de uma credibilidade já precária para nula. 

    O Grupo Folha na pessoa do seu dono, sr. Otavinho, é o mais desonesto dentre os quatro que fazem oposição sistemática e ferrenha aos governos e líderes petistas. Como gato, dá uma unhada e esconde a unha. Camufla suas claras inclinações políticas-ideológicas em externalidades tipo “ouvir os dois lados”, que na realidade em termos de isenção e credibilidade jornalística nada acrescentam. 

    Como afirmei ontem noutro comentário, a Folha se especializou em dizer algumas verdades no meio de uma ruma de mentiras e mentir adoidado, manipular descaradamente, entremeando-as com algumas verdades escolhidas a dedo que vão servir apenas para dar verossimilhança ao falso.

  6. Com ou sem embasamento

    Com ou sem embasamento jurídico o golpe veio para ficar. As notórias pedaladas não existiram e as investigações da Gestapo de Curitiba até hoje não provaram qualquer envolvimento da presidenta com as roubalheiras na Petrobras. Para piorar a Constituição Federal de 1988 tornou-se letra morta graças às manipulações do MPF do Janot e da omissão criminosa do STF. Resumo dessa trágica ópera bufa em que meteram o país: estamos sem governo, sem Constituição, sem Estado de direito, sem lei e a democracia virou piada de mal gosto. Bem vindos ao Oitavo Círculo do Inferno de Dante!

  7. Quando um País,de há

    Quando um País,de há muito,atravessa as fronteiras do cinismo,dele não se deve esperar muito,porque suas instituições foram deletadas,quando nada,apodrecidas.

  8. Mais um dos capítulos

    Mais um dos capítulos sinistros desse golpe do ano de 2016. Folha jogando na lama o seu nome, que já não era grande coisa. Depois de fornecer carros para a ditadura e de apoiar o regime, agora é isso. Direcionamento de perguntas é um golpe muiito baixo. Por outro lado, isso mostra que há certo desespero entre eles, pode ser que isso sinalize uma certa tendência de reversão nos votos do Senado. A acompanhar. Nosso papel é lutar e tomar as ruas no dia 31 e ao longo do mês de agosto.

  9. É GOLPE

    – BRAVA GENTE BRASILEIRA,

    – LONGE VÁ TEMOR SERVIL,

    – OU FICAR A PÁTRIA LIVRE,

    – OU MORRER PELO BRASIL

    (Hino da Independência do Brasil)

    SE DILMA NÃO VOLTAR E O GOLPE SE CONCRETIZAR, O QUE DEVERÁ ACONTECER COM TODOS GOLPISTAS, PRINCIPALMENTE COM O CHEFÃO TEMER?

  10. E a moral do seu Frias, como fica?
    Como fica, Frias? E o carteiraço de sua pessoa nobilíssima, príncipe midiático, em cima dos dizeres da jornalista (anciã e expertise ) inglesa: meu ‘jornal’ ( Jornal? ), para ser jornal há que ser plural? Plural das falsificações: falsifica o que a boca do povo diz para que os olhos do povo leiam o que não existe…

    Que ética ! Que ‘ethos’! Que paradigma! Que príncipe!

  11. É uma gangue. Eu também tinha

    É uma gangue. Eu também tinha visto com assombro a pesquisa, mas ao ver o relatório e as informações desse grande jornalista que é o Glenn Greenwald causa absoluta indignação.

    Que país é este, meu deus do céu? Que imprensa é essa?

  12. Proxima pesquisa Datafolha

    Proxima pesquisa Datafolha perguntará se brasileiros acham governo Temer ‘ótimo’ ou ‘maravilhoso’

    A última pesquisa nacional de opinião sobre o futuro da presidência do país feita pelo instituto Datafolha causou muita polêmcia. Tudo porque o instituto e seu dono, a Folha de S. Paulo, “esqueceram” de dar aos entrevistados a opção de novas eleições. Desta forma, o número real de 60% de pessoas querendo novas eleições passou para 3%. A manchete da Folha dizia que 50% dos brasileiros queria que Temer continuasse, enquanto 32% gostaria de ver Dilma na cadeira de presidente.

    “Como para muitas pessoas ficou a impressão de que fizemos algo de propósito para beneficiar o governo Temer, resolvemos mudar tudo”, disse o editor-executivo Sergio Dávila.

    “Para a próxima pesquisa vamos querer saber se o brasileiro acha a Dilma ou a Marcela mais bonita, se o governo do Temer está ótimo ou maravilhoso, nessa linha.”, completa. “Baseado nisso, acho que os senadores poderão tomar a decisão mais acertada.”

    O Sensacionalista conseguiu acesso a um dos novos questionários. Eis algumas das questões:

    “Supondo que se Dilma voltar sua mãe, seu cachorro e seu melhor amigo morrem, você quer ver o fim do governo Temer?”

    “Supondo que Temer fosse a única opção no mundo, além dele ninguém, você gostaria que ele continuasse presidente pelo amor de Deus?” (Nesta hora, o pesquisador deve chorar).

    “Como você acha que podemos continuar atiçando o fogo do caos político para continuar vendendo mais jornais?”

    M Zorzanelli

    http://www.sensacionalista.com.br/2016/07/21/proxima-pesquisa-datafolha-perguntara-se-brasileiros-acham-governo-temer-otimo-ou-maravilhoso/

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