Nestor e a Globo, por Maria José Trindade

Nestor e a Globo

por Maria José Trindade

Na Ilíada de Homero, o grego Nestor, filho de Neleu, rei de Pilos, tornou-se símbolo clássico de prudência e sabedoria. Muito velho para lutar, usou sua experiência para orientar guerreiros mais jovens. Ante o inimigo, sua tática de guerra era posicionar as tropas mais frágeis entre duas colunas de soldados valentes.

Esta orientação inspirou uma técnica de organização de argumentos no discurso, conhecida como “ordem nestoriana”. De acordo com ela, o orador deve iniciar e encerrar seu discurso com argumentos fortes e deixar os mais fracos, protegidos no meio do discurso.

Egressa do jornalismo impresso, neto bastardo da retórica, sou testemunha de que o texto jornalístico vale-se de tais técnicas argumentativas para inflar ou lipoaspirar a importância de informações. Há um saber profissional acumulado que o jornalismo sabe utilizar para ajustar, de acordo com seu interesse, o material recolhido no fato cotidiano, antes de repassar aos leitores/ouvintes.Tais arranjos acontecem tanto nos textos como nos jornais televisivos.

Hoje, assisti o JN com olhar crítico, anotando notícias e o tempo dedicado a elas. A lição nestoriana pareceu-me bem assimilada pelos responsáveis do telejornal. Os 38 minutos iniciais foram dedicados a demolir Lula/Dilma. Em seguida, 10 minutos de notícias desfavoráveis como as malas de dinheiro de Geddel e o reajuste de 12% no preço do gás de cozinha. Por último, fechamento com boas notícias sobre a inflação de agosto ser menor desde 2010 e a redução dos juros pelo BC à menor taxa dos últimos quatro anos.

Na guerra de informação no Brasil, a “ordem nestoriana” vem sendo bem aplicada pela principal rede de tv brasileira.

 

Redação

3 Comentários

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  1. As organizações Globo

    As organizações Globo constituem uma organização criminosa, produto de  interferência externa, subsidiada pelos cofres públicos, instrumento de manipulação política e porta voz dos interesses do grande capital.  

  2. A Globo é mesmo um material e

    A Globo é mesmo um material e tanto para se discutir políticas de controle e manipulação das massas. Com todo o respeito ao autor do texto, sua explicação pode oferecer bons argumentos técnicos, embora, empiricamente o brasileiro comum saiba disto.

    A questão maior, na minha opinião é: por que sempre funciona? Saber que isto é feito desde os tempos de Homero pode ser importante para conceitualizar, mas não acrescenta muito àquilo que todos já sabem: que a Rede Globo mente, manipula, defende apenas seus interesses.

    A ignorância só é justificada se o que se faz é algo novo. A Globo não inova em sua prática, em seus própósitos e, mesmo assim, boa parcela – inclusive a letrada – segue suas proposições sem contestar. Falta de conhecimento histórico, falta de vergonha, falta de humanismo, de patriotismo???

    Talvez, sobrem migalhas suficientes para alimentar aos setores historicamente contemplados pela sociedade brasileira. São migalhas, mesmo. Não querem nada mais que isto. Seus sonhos não estão aqui, seus afetos não são daqui. Basta um pouco de dinheiro guardado e tome gente classe média indo pra maiami, orlando, lisboa, paris…. Aqui, o Brasil, continua sendo entreposto, onde o branco enche os navios e retorna, na esperança de serem aceitos na metrópole civilizada. Àqueles que por razões sócio-culturais (entenda-se cor da pele, origem pobre, nordestina, indígena) resta o circo de horrores no qual o macaco adestrado é ele próprio. Coisa pra turista ver, quando quer fazer um passeio mais, digamos, naturalista.

    Reduzem o povão à barbárie, conseguindo uma vitória dupla: justificar seu desprezo pelo país, ao mesmo tempo que mascaram sua falta de identificação total com seu povo. Afinal de contas, a massa culturalmente amorfa de nossa classe média precisa justificar suas gafes, suas idiossincrasias seu vazio cultural. Fazem escândalo em aeroporto, são mal educados, grossos, malandros, bandidos… e precisam justificar tais atitudes. É a cultura. Somos antropofágicos, nosso povo é assim.

    Desta forma, a máscara não cai nunca.

    Não caía, melhor dizendo. O Brasil global se revelou durante a Copa do Mundo e as Olimpíadas. O estrangeiro pode vislumbra, mesmo superficialmente, a dubiedade de nosso povo e a irrealidade do Brasil pra inglês ver. A civilidade, quando surgiu, estava na rua, não nos estádios, onde sentavam-se os que podiam pagar pelo ingresso.

    É pena que agora os valores da burguesia se consoldaram também na periferia. O”manda quem pode…”, a discriminação e o ódio fundamentalista via pentecostalismo, a resolução pela bala, o direito ao abuso e tudo que sempre foi seara do crime organizado pela branquitude de colarinho branco, agora é reivindicação dos que alçaram o poder local via PCCC, CV, Família do Norte e afins.

    Desgraçadamente, a esquerda sempre conviveu muito bem com a Globo e sua cultura, bem como com os governos locais que representam os mesmos valores globais. Por mais que Lula negue, a coalisão foi uma desgraça social, cultural e institucional. Lamento que o próprio acene com as mesmas práticas de antanho.

    E não esperem movimento de rua contrário. Estamos todos com medo. E desconfiados por não saber mais de que lado estão nossos antigos representantes.

     

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