O possível erro da Folha sobre a economia da Colômbia

Por Mário Almeida

Prezada Sra Suzana Singer,

Na matéria “A Estatal colombiana de óleo é uma Petrobras transparente” (link abaixo), publicada hoje (06/01), a Folha, no intuito de elogiar o liberalismo colombiano, parece ter cometido um pequeno erro: afirmar que o crescimento da economia colombiana, em 2013, de 5,1%, “de longe o maior do continente”

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/146580-estatal-colombiana-de-oleo-e-uma-petrobras-transparente.shtml

Achei, estranho, em primeiro lugar, o fato de a Colômbia, supostamente, já ter os dados fechados do PIB para 2013.

Mais interessante, no entanto, é que uma rápida checada nas projeções de crescimento da economia colombiana para 2013 do FMI e da CEPAL (links abaixo) são muito diferentes da cifra citada no corpo da reportagem e, supostamente, reiterada na entrevista do Ministro colombiano (não sei se sua resposta foi editada). O FMI projeta que a economia colombiana crescerá 3,7%, menos que Bolí­via, Chile, Guiana, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru e Suriname. Já a CEPAL prevê uma expansão um pouco maior 4,0%, mesmo assim inferior a de 8 paí­ses latino-americanos.

http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2013/02/weodata/weorept.aspx?sy=2007&ey=2013&scsm=1&ssd=1&sort=country&ds=.&br=1&pr1.x=68&pr1.y=6&c=311%2C336%2C213%2C263%2C313%2C268%2C316%2C343%2C339%2C273%2C218%2C278%2C223%2C283%2C228%2C288%2C233%2C293%2C238%2C361%2C321%2C362%2C243%2C364%2C248%2C366%2C253%2C369%2C328%2C298%2C258%2C299&s=NGDP_RPCH&grp=0&a=

http://www.cepal.org/prensa/noticias/comunicados/5/51825/Tabla-PIB_ESP.pdf

Resolvi pesquisar um pouco em sites do governo colombiano (links abaixo). Na verdade, a cifra de 5,1%, a maior taxa de crescimento econômico da AL de acordo com as autoridades colombianas, refere-se, exclusivamente, ao 3o. trimestre de 2013, e não ao ano todo. Nos dois trimestres anteriores, o crescimento anualizado foi de 2,6% e 3,9%; pelo que pude apurar, ainda não foram divulgados os dados do 4o. trimestre. Desse modo, pode-se afirmar, com certa segurança, que a Colômbia não apresentará taxa de crescimento de 5,1% em 2013. Mesmo que apresentasse, esta taxa não seria a maior da AL.

http://www.minhacienda.gov.co/HomeMinhacienda

http://www.banrep.gov.co/

Sem desmerecer os resultados econômicos da Colômbia, que nos últimos 3 anos apresentou crescimento do PIB superior ao brasileiro, uma informação desta, básica para vender o sucesso do modelo liberal colombiano, deveria ser dada com um mínimo de cuidado jornalí­stico. Vale mencionar que o editorial da Folha tem apoiado a adoção de medidas liberalizantes pelo Governo brasileiro com vistas a ampliar o crescimento do PIB. Matérias e colunistas tem insistido que o baixo dinamismo da economia brasileira se deve ao crescente intervencionismo do Estado. Para isto, contrapõem o Brasil com exemplos de “sucesso” latino-americano, como Chile, Colômbia, Peru e México, todos com orientação liberalizante no tocante à economia. Talvez por isso, tenha sido pouco divulgada no jornal a desaceleração da economia mexicana em 2013 (previsão de crescimento de apenas 1,2%) ou o grande dinamismo de paí­ses como Uruguai, Equador e BolÃívia.

Para o bem de sua credibilidade, a linha editorial do jornal nãoo deveria levar à cobertura tão parcial e a erros tão fáceis de serem evitados. Apesar de seu importante trabalho, faz algum tempo que a Folha parece estar devendo a transparência evocada no título da matéria.

Redação

7 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Novas vitrines

    Se antes o EUA investiam em países vizinhos aos países socialistas, criando “vitrines” para comparação (Coreia do Sul, Japão, Turquia, Alemanha, etc), agora seu foco é tentar garantir sua “supremacia” em continentes / regiões onde tem perdido, sistematicamente, apoio. No caso, Colômbia e o Paraguai (agora com Horacio Cartes), servirão de vitrine para os demais países da América do Sul.

  2. Caro Mário Almeida
    Se todo

    Caro Mário Almeida

    Se todo mundo fizesse o que você faz, ou seja, pesquisar a veracidade de notícias, das duas uma: os jornais iriam deixar de existir como veículo de informção ou a Suzana Singer passaria a ter um caderno exclusivo no jornal para explicar ou replicar seus leitores. E esse é o maior mal do brasileiro e o grande trunfo dos jornais, poucos fazem isso. A maioria ler a notícia e acha que aquilo é VERDADE. Assim, temos o caos nas finanças do governo, a hiperinflação, a falência da Petrobrás, a nova forma de fazer política do PSB-Rede, o regime de escravidão dos médicos cubanos, e por aí vai. Como tenho dito a meus amigos, a melhor utilidade hoje para jornais impressos é para embalar peixe fresco, televisivo eu uso o controle remoto e o rádio eu simplesmente não ouço! Hoje, a única coisa que acho que não é questionável em um jornal é sua data, no mais…

    1. Também são bons para servir

      Também são bons para servir de banheiro de cachorro.

      Se vocês acham a Folha ruim, experimentem ler a Tribuna e A Gazeta do Espírito Santo.

  3. Às vezes eles se tocam…

    Essa é apenas mais uma matéria no estilo da que a própria folha publicou dizendo que o Banco Mundial desaprovava o SUS.

    Sempre recebo as promoções de meses gratuitos da folha, mas depois que respondi ao último e-mail informando que “dispensava assinar um jornal que manipulava as notícias para prejudicar o governo”, junto com o link sobre a manipulação da notícia no caso do SUS (o Nassif publicou uma matéria sobre este caso), eles pararam de me enviar as promoções.

    O que é triste: dispensam um leitor mais atento e possível assinante e preferem os leitores já acomodados, desde que eles não impliquem e o jornal possa continuar manipulando as notícias.

  4. ‘Para o bem de sua

    ‘Para o bem de sua credibilidade…’ a Folha deveria fechar as portas, assim evitaria mais descrédito. Ou se mudar para a Colômbia, levando consigo os Civitas e os Marinhos.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador