Padrão FIFA não chegou à mídia, por Alberto Dines

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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De Observatório da Imprensa

Padrão FIFA não chegou à mídia

Por Alberto Dines

Nem chegará. O governo e alguns círculos do PT gostariam de interromper a lua de mel entre a presidente Dilma Rousseff e a mídia iniciada antes mesmo da sua posse. Para isso precisariam obter a anuência do PMDB, mais especialmente do atual vice-presidente Michel Temer, que, por convicção ou preguiça, empenha-se em manter a impressão de idílio.

Tudo indica que alguma ameaça será pendurada no programa que o Partido dos Trabalhadores registrará na Justiça Eleitoral para concorrer nas presidenciais. Para não acirrar os ânimos, a planejada “regulação” ficará confinada à esfera econômica e concorrencial. O CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), autarquia do Ministério da Justiça, já foi chamado a mediar pendências sérias que até envolveram o Grupo Globo. Ninguém denunciou a entidade por atuar contra a independência da mídia.

Fundado em 1962, o CADE funciona como um tribunal para prevenir, desarmar e punir abusos de poder econômico. É o equivalente da americana FTC – Federal Trade Commission (criada em 1914). Como não é restrito à imprensa, evitam-se as semelhanças com órgãos executores da uma Lei de Imprensa.

Avanço significativo, porém distante do que se poderia considerar “padrão FIFA”. O CADE não tem poderes para acabar com a aberrante ilegalidade instalada no Congresso Nacional, onde parlamentares são simultaneamente concessionários de serviços públicos. Notadamente na mídia eletrônica. O órgão capaz de desbaratar essa anomalia é a Procuradoria Geral da República, que já recebeu alentados dossiês e os arquivou (um deles apresentado pelo Projor, entidade mantenedora deste Observatório; ver “Concessionários de radiodifusão no Congresso Nacional: ilegalidade e impedimento”).

Viés conservador

O CADE também não tem condições de cassar as concessões de emissoras pertencentes a confissões religiosas, muito menos de proibir que emissoras de TV aberta arrendem seu horário para cultos religiosos, contrariando todos os princípios do Estado de Direito democrático e secular.

A reativação do CADE é uma fórmula jeitosa, capaz de minorar ímpetos oligopolistas, mas incapaz de estimular movimentos reestruturantes, reparadores ou, ao menos, renovadores. A mídia continuará desconectada do interesse público, atenta às jogadas empresariais e pessoais. Em outras palavras: continuará desnorteada, correndo como uma barata tonta, sem fôlego para arejar e estimular um debate mais sério.

Na capa da “Ilustrada” (Folha de S.Paulo, segunda, 2/6), uma brilhante entrevista com o jornalista americano David Carr (ver “A novela da mídia“) revela o clima desinibido que impera na redação do New York Times, onde é possível reportar livremente uma crise interna, a demissão sumária do diretor ou o tropeço do acionista principal. Truque perfeito: discute-se sem constrangimentos o direito à critica que gozam os jornalistas americanos e passa-se a impressão ao leitor brasileiro que isso é possível nestas bandas. Experimentem.

O “padrão FIFA” na mídia compreende uma devassa na própria FIFA e na sua afiliada, a CBF. Isso não foi feito e precisa ser feito com urgência. O efeito será equivalente a dez Pasadenas.

A extraordinária repercussão do livro do francês Thomas Piketty, Capital no século 21, foi distorcida pelo viés altamente conservador da nossa imprensa. Os textos elogiosos do Wall Street Journal e do Economistforam registrados, mas devidamente engavetados. Mencionou-se livremente a expressão “acumulação de riqueza”, mas evitou-se a palavra-tabu: concentração.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

23 Comentários

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  1. Sorry, Dines.  Nao da pra

    Sorry, Dines.  Nao da pra passar da segunda sentenca.

    E quem passar nao vai sobreviver aa terceira sentenca.

  2. A entrevista de Dines com o Marinho

    Por que o Dines na entrevista com um dos Marinho (na TV Brasil!!!) não foi nem sombra do que  mostra aqui? Dócil, sem contestar nada, servindo apenas de escada ao representante do mais indecente monopólio que temos, Dines poderia dizer, por honestidade intelectual, que no Brasil, mais que nos EUA e Europa, a imensa maioria dos jornalistas, incluindo alguns dos melhores, se sentem intimidados pelo poder, o verdadeiro poder.

  3. Asco

    Recuso-me a participar de qualquer debate que esse senhor, Alberto Dines participe.

    Os argumentos desse senhor são de uma hipocrisia…

    Teve inúmeras oportunidades de questionar um dos Marinho, mas preferiu lamber  botas.

    São inacreditáveis os princípios que norteiam os jornalistas brasileiros. De envergonhar. É óbvio que toda regra há exceção. Lamentavelmente apenas exceção.

    A grande maioria dos jornalistas é culpada por esse estado de coisas. Toda a sociedade reclama, questiona, exige mudança, protesta… Os jornalistas se contentam com o que está aí.

    Alguns, ao final da vida, ainda lambem botas.

    A imprensa brasileira é fruto do que somos. E somos lambe-botas, servis soldadinhos dos poderosos.

    Não adianta cobrar das autoridades governamentais ou dos políticos “donos” de concessões. Devemos cobrar de nós mesmos. E excluam os jornalistas dessa tentativa de mudança. 

  4. “O governo e alguns círculos

    “O governo e alguns círculos do PT gostariam de interromper a lua de mel entre a presidente Dilma Rousseff e a mídia iniciada antes mesmo da sua posse.”

    Não deu para continuar.

    Acho que vivo em outro planeta, com outra Dilma presidente, de outro Brasil, e outra mídia.

  5. AMOR BANDIDO?
    Que lua de mel é essa em que o “noivo” bate na “noiva” todo o santo dia ? Desculpe a burrice, mas não entendi a premissa…

  6. Dines é jornalista há

    Dines é jornalista há décadas, e é dos mais dignos, pelo que sabemos. O sujeito pode trabalhar para uma empresa FdP e ser crítico em relação a ela, principalmente se estiver fora dela. Dentro, perderia o emprego. Aliás, ele aponta no texto a dificuldade disso no Brasil. 

    1. Jornalista sem jornalismo = { }

      De fato, alguns perdem o emprego, mas continuam jornalistas dignos.

      Alguns jornalistas, aliás, brilhantes jornalistas continuam atuando mesmo depois de deixaram as Organizações Globo, por exemplo.

      Sei que não é fácil adotar postura mais crítica dentro de uma empresa jornalística, mas o que se pede é que não sejam coniventes nem lambe-botas. Isso vale para toda profissão, não apenas à de jornalista.

      A sociedade só evolui se questionar e superar “conceitos” equivocados e posturas atrasadas. Em todos os níveis.

      O Dines, pelo que se sabe, não está pressionado por nenhum patrão da velha imprensa.

      Como pessoa não há reparos, mas como jornalista…

      ——–

       

       

      A entrevista camarada de João Roberto Marinho a Alberto Dines

       

      Postado em 20 mai 2014por :  O pior momento de Dines

      O pior momento de Dines

      Ao ver a entrevista   que Alberto Dines fez com João Roberto Marinho no seu Observatório de Imprensa, me lembrei, rindo, da ira que acometeu, aspas, o Globo quando Lula conversou com blogueiros.

      O ponto do Globo é que Lula fizera uma “entrevista camarada”.

      Pergunto: será que eles viram a entrevista de seu patrão? Pode haver entrevista mais “camarada”? Ou entrevista “camarada” só é um problema quando um inimigo a concede?

      Não é uma entrevista exatamente nova. Foi feita há alguns meses, mas por algum motivo só agora ela foi assunto na internet.

      É um tema complicado para mim. Dines foi um dos meus heróis no começo da carreira, o pioneiro da crítica da mídia no Brasil com seu Jornal dos Jornais aos domingos na Folha, na década de 1970.

      Vi a entrevista inteira. Com dificuldade. Primeiro desisti, depois da apresentação bajuladora e dos sorrisos servis de Dines. (Lição número 1 de entrevista: não ria. Não aquiesça com a cabeça a cada resposta. Seja altivo.)

      Depois decidi ir adiante, por motivos profissionais.

      É, provavelmente, a pior coisa que Dines fez na carreira.

      Dines simplesmente ignorou quanto a ditadura alavancou uma empresa que se resumia a um jornalzinho de segunda linha, O Globo, muito inferior ao Jornal do Brasil e ao Correio da Manhã, os grandes diários do Rio de Janeiro nos anos 1960.

      A Globo virou grande ao receber, dos generais, uma tevê com a finalidade de apoiar a ditadura.

      “Somos os maiores amigos do regime na imprensa”, dizia Roberto Marinho aos poderosos da ditadura quando lhes ia pedir favores e mamatas, conforme está registrado num livro que traz os papeis pessoais de Geisel.

      Dines perde também uma chance inestimável de indagar uma coisa de João Roberto quando este se queixa dos “impostos pesados” que recaem sobre as empresas de mídia.

      Se são pesados os impostos, como se explica que a família Marinho seja a mais rica do Brasil? Com o dinheiro da geleia de mocotó Colombo, que no passado fez parte dos negócios da família?

      Dines serve o tempo todo de escada para João Roberto. Ele ouve, sem retrucar, que o Globo é “pluralista” porque publica articulistas de esquerda.

      Pausa para rir.

      Faça uma conta. Quantos colunistas conservadores as Organizações Globo têm em suas variadas mídias? Agora conte os colunistas progressitas.

      Um para dez?

      É a mesma defesa ridícula que a Folha faz de sua “pluralidade”. Para cada dez conservadores, a Folha abria um Saflatle, e isso dá direito a ela de se definir “plural”.

      Dines, ao tocar na regulamentação, ouve sorrindo JRM dizer que os Estados Unidos erraram ao não permitir a concentração de mídia.

      A entrevista já começa torta. Dines pergunta se a Globo não sente falta de concorrência.

      Ora, a Globo é famosa por tentar exterminar de todas as formas a concorrência.

      Adolfo Bloch, da Manchete, foi pedir ajuda a Roberto Marinho quando estava perto de quebrar. Depois de uma espera de horas na ante-sala de RM, Bloch foi despedido assim: “Passar bem.”

      E quebrou.

      Este é o amor à concorrência da Globo. Como você imagina que o Jornal do Brasil foi conduzido à morte depois que a Globo, com a televisão, ficou muito maior?

      Agora mesmo, a Globo luta para complicar a vida do Google no Brasil porque é uma ameaça à sua receita publicitária.

      Tudo bem, o Google declara o faturamente publicitário em paraísos fiscais, o que é péssimo para o Brasil. Mas e a Globo, que ela tem a dizer no capítulo da sonegação?

      Cadê a Darf?

      Dines, naturalmente, não fez esta pergunta.

      Repito: lembrei o rigor do Globo em relação à “entrevista camarada” de Lula aos blogueiros.

      Para o Globo, parece, “entrevista camarada” deve ser mais um monopólio da Globo.

       

    2. Boa gente

      Dines é um grande jornalista. Quando trabalhava na Folha  praticamente  todas as suas crônicas continha críticas ácidas ao jornal.Foi demitido por este motivo.Muito natural que isto aconteça em qualquer empresa de comunicação de esquerda ou de direita.

  7. Algo tem que ser feito em

    Algo tem que ser feito em relação à midia.

    Como está não pode ficar.

    A mídia negativa, sempre pró oposição, do tipo  quando pior melhor, prejudica o crescimento e desenvolvimento do país.

    Muitos empresários deixam de fazer investimentos e aumentar suas produções, baseados nas informações negativas, muitas vezes falsas, divulgadas pela mídia.

    Tem que haver um controle, pelos menos direito de respostas, no mesmo espaço, horário com o mesmo tempo da divulgação falsa.

    Quem tem que tomar a frente desse trabalho é o PT, que é o partido mais prejudicado.

  8. Quando??

    Sim, Dines é um bom jornalista, apaixonado pela profissão e tals.

    Mas seria interessante se ele apontasse o tal período em que a mídia esteve ” em lua de mel com Dilma”.

    Acho que pulei esse tal período. Ou não percebi. Ou nunca existiu. 

    1. Acho que nesse casamento

      Acho que nesse casamento arranjado só houve compromisso de uma das partes, no caso foi exclusivamente da parte da Dilma. Essa união se valeu dos seus ministros canastrões como o Ministro da Justiça e do Ministro das Comunicações. Por fim, o parceiro que ela escolheu fosse extremamente infiel e que seguia príncipios nada cristão…

      Desculpe a alegoria, mas a Dilma acreditou neste casamento. Não implantou a Ley de Medios, como a implantação da internet popular foi um fiásco. A Dilma é uma péssima politica, que tomara com esses reverses todo cresca e se una mais aos movimentos civis e sociais. 

  9. Convertido extravagante

    Considero esta afirmação como um sutil insulto à presidente, que acima de tudo é  representante do povo , autêntica democrata e defensora da imprensa (melhor o barulho da imprensa do que o silêncio das ditaduras)

    ” a lua de mel entre a presidente Dilma Rousseff e a mídia iniciada antes mesmo da sua posse”

  10. Tinha algum respeito pelo que

    Tinha algum respeito pelo que lí de Alberto Dines, no passado. Depois da entrevista “café com leite” com o Marinho bateu o desalento. Um homem de 70 anos, como Dines, não precisa mais recorrer à subserviência dócil e a hipocrisia, para manter-se ativo. Esperava mais desse senhor quando entrevistava um dos maiores inimigos da Nação. Fiquei frustrado. É mais um que joga a carreira no lixo depois de velho. 

    1. Amarelou…

      Diante dos poderosos mostra-se subserviente. Nenhuma pergunta contundente, nenhum questionamento sobre as sonegações bilionárias ou as manipulações eleitorais… Nada!

  11. globo é o sustentáculo do Apartheid Social.

    Informação não é mera mercadoria. A globo afronta a constituição do Brasil. 

    Já passou da hora da nação se livrar desta oligarquia que cometeu inúmeros atentados a nossa democracia.

    Um entulho da ditadura. O sustentáculo do Apartheid Social.

     

    Livrar-se do atraso da globo é fundamental para o Brasil superar a injustiça e o subdesenvolvimento.

     

     

    1. Prezado Senhor:
      O Senhor está

      Prezado Senhor:

      O Senhor está visilvemente doente emocionalmente.Não é vergonha procurar ajuda.Vergonha é não querer ser ajudado.

       

  12. “O governo e alguns círculos

    “O governo e alguns círculos do PT gostariam de interromper a lua de mel entre a presidente Dilma Rousseff e a mídia iniciada antes mesmo da sua posse.”

    Parei de ler aqui, o que foi bom pois foi logo no inicio e me impediu de perder mais tempo, Dines é um velho conhecido, é o mesmo sujeito que quando Nassif comprou a briga de  enfrentar a poderosa “Veja” dos Civita publicando a série “O Caso Veja” em que denuncia a máquina de moer reputações que se instalou na outrora grande publicação jornalistica veio com uma história esquisita de que ele estava dividindo a categoria.

    De onde essa criatura tirou que houve uma lua de mel do PIG com o governo? Quem escreve tamanha asneira não merece ser levado a sério, das duas uma ou é um caso perdido de desconexão com a realidade ou é puro cinismo com pitadas de cara de pau.

    1. Ironia

      Pelo amor de Deus, Célio!!!

      O Dines estava sendo apenas irônico na sua introdução…

      Evidentemente que não existe e nunca haverá lua de mel entre a Dilma e a Imprensa Brasileira.

      Muito pelo contrário o que houve foi uma via de mão única, onde o Governo Dilma achou que poderia mater uma relação republicana com a mídia…

      Deu com os burros n’água!!!!!

      1.  
         
         
        Se ele quis ser irônico

         

         

         

        Se ele quis ser irônico foi muito infeliz, mas pelo conjunto de sua obra não creio que tenha sido esse o caso, em inúmeras ocasiões esse mesmo cidadão foi um ferrenho opositor de qualquer regulação da mídia, escreveu várias colunas acusando o governo de querer amordaçar a imprensa livre, sempre fazendo de conta que vivemos na atmosfera republicana que você mencionou, ele e seu “observatório” agem como se o problema fosse só qualidade técnica e não um jogo politico onde os donos da mídia assumiram o papel de partido de oposição.

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