Voz Passiva: modo de (ab)usar, por Madrasta do Texto Ruim

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

do Objtivando Disponibilizar

Voz Passiva: modo de (ab)usar

por Madrasta do Texto Ruim

Devo, não nego, pago quando puder. Sei que prometi outro post destrinchando as manchetes da Derrota Collection Week, mas isso vai me tomar um tempo meio grande. Por ora, deixa eu falar aqui deste texto escancaradamente escandaloso.

Intâo… sabe quando uma criancinha diz “a jarra quebrou porque a bola bateu nela”, e esquece de dizer que a bola bateu porque ela, a criancinha, chutou a bola na direção da jarra.

Pois é.

Acompanhem esta manchete mirabolante do G1 – que eu posso quase jurar que não foi obra do G1 mas da France Presse:

Palestino disfarçado de fotógrafo morre depois de esfaquear soldado

aí você se pergunta se ele morreu por autocombustão, infarto, mal súbito ou o quê (mas seus botões meio que lhe contam que ele não morreu, mas foi morrido).

Então você, cheidi curiosidade, vai pro primeiro parágrafo da notícia:

Um palestino disfarçado de jornalista esfaqueou e deixou gravemente ferido nesta sexta-feira (16) um soldado perto da colônia de Kiryat Arba, na Cisjordânia ocupada, e foi morto pouco depois, informou o exército israelense.

Foi morto. Por quem? Ah, é, bem… quem mesmo? N Ã O   I M P O R T A.

é pra isso que serve a voz passiva. Pra sumir com o agente da ação. (Agente da ação: aquele que age, que comanda o verbo e altera completamente a situação final de quem está na posição de objeto direto). Porque, amos combinar: “soldado israelense mata palestino que havia esfaqueado outro soldado” é assaz direto. Palestino morre após esfaquear deixa bem claro que o palestino morreu porque esfaqueou o outro. E a culpa é todinha dele, palestino.

E um beijo bem grande pra você que acha que a imprensa é isentona.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

15 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. A madrasta do texto é órfã da análise da realidade…

    Claro que a culpa foi todinha dele. Não tivesse esfaqueado não morreria. Qual parte você não entendeu? Parece que o texto ruim não é a sua única especialidade… ou palestinos têm o direito de esfaquearem judeus?

    A manchete correta seria: Terrorista morto ao tentar assassinar soldado israelense

     

    1. Você é tão manipulado que

      Você é tão manipulado que chamou o palestino de “terrorista” sem antes se tocar que quem pratica terrorismo por lá é o estado de Israel. E ainda não sabemos o real motivo do esfaqueamento, pois a matéria não diz…

       

       

      1. Nos últimos dias foram inúmeros ataques com facas…

        contra judeus, deixando pelo menos oito mortos e dezenas de feridos. O motivo é apenas um e que todos conhecem. Existe alguma outra motivação para uma onda de esfaqueamentos aleatórios que não seja aterrorizar?

        Do mesmo modo que chamo de terroristas os grupos que querem derrubar o regime sírio, digo também para o Hamas e outros “palestinos”: terroristas!

         

        1. E o estado terrorista?

          Esses ataques estão ocorrendo, e você sabe, porque os palestinos em Gaza estão desesperados. O que ha, é que agências de imprensa não dizem  que esses ataques estão ocorrendo porque cada vez mais soldados israelenses matam palestinos, com autorização do Estado de Israel (que jamais deveria ter sido imposto sob a Palestina). 

    2. O texto da madrasta sofre do mesmo problema do criticado

      Falta informação e dados. O palestino pode ter morrido num confronto e ter sido culpado pelo assassinato. A questão de Israel x Palestina é cheio de complicações e excessos dos dois lados.

      Acho que vale mais observar que muitos textos que rolam por aí são cheios de imprecisões, pobreza linguística e raciocíonios enviezados.

      1. Nananinanão

        O meu texto aproveitou-se de uma notícia redigida às pressas para mostrar a característica principal da mudança de voz de um discurso.

        O título está numa falsa voz ativa (falsa porque o palestino não morreu por iniciativa própria), e o 1º parágrafo simplesmente omite o agente da passiva: diz apenas que “o palestino foi morto”. não diz por quem.

        é o mesmíssimo mecanismo sintático usado para dizer “Maria foi estuprada”. Quem estuprou Maria? Não vem ao caso, o que importa é o fato de Maria agora fazer parte do universo das estupradas, e de lá nunca mais ter direito a sair.

        Neste texto daí de cima, o palestino foi morto, e nunca mais vai ter seu estado alterado.É ESSA A MENSAGEM DAS ENTRELINHAS DA VOZ PASSIVA.

    3. Mygho, é assim:

      1- a análise foi primeiro do texto, e depois do contexto que o texto criou.

      2- Quanto ao uso de terrorista / manifestante, vale a pena ler as considerações feitas pelo Le Monde sogre o uso das expressões immigrant / refugié. sim, é em francês. Ah, você não lê francês? que pena.

      3- Quanto à questão de “moldagem da realidade”, sugiro que você leia teun Van dijk. ele fala disso tudo principalmente em ideology and discourse. aqui você baixa o livro de graça. http://www.discourses.org. <– mas é em inglês, tá?

      4- Releia o meu texto CUJO ASSUNTO É O USO PRAGMÁTICO DA VOZ PASSIVA e larga de ser panaca.

    1. Pelo teu padrão…

      …não temos nenhum!

      Não vou escrever aqui o que penso da situação em Israel, estou no trabalho e não tenho tempo para elaborar agora. Fica para mais tarde.

  2. Jorge, não é manipulado, ele

    Jorge, não é manipulado, ele defende a expulsão dos palestinos de seus territórios. Defende essa política desse primeiro ministro terrorista.

  3. um homem pacato que enloqueceu
    Ouvi na radio france interncional uma noticia que espelha bem o absurdo da situação em jerusalem.

    um pacato palestino empregado da companhia telefoncia de Israel jogou o carro encima de pessoas qu estavam camninhando ( provavelmente judeus). Creio que foi morto.
    Não tinha militancia politica, segundo a propria familia. Era considerado uma pessoa calma.
    Ele é mais uma vitima dessa loucura, uma loucura sem fim.

  4. FDI

    A verdade é a seguinte: as eufemisticamente denominadas FDI(Forças de Defesa de Israel) estão livres para matar palestinos em todos os tempos, aspectos e modos verbais.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador