Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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Pensar que não será traído é o problema do traidor, por Armando Coelho Neto

Pensar que não será traído é o problema do traidor

por Armando Rodrigues Coelho Neto

Cena 1. Havia um negro tocando violão, jovens skatistas se divertindo, moradores passeando com seus cães, enquanto nos bares próximos pessoas conversavam bebericando. Foi nesse cenário que a assassina Polícia Militar de São Paulo começou a jogar bombas e mais bombas. O cheiro de fumaça invadiu as moradias da região e, só após isso e tão somente após isso, começaram os merecidos gritos de Fora Temer, impostor, golpista e vozes de protestos contra a truculência policial, que  se repetiria ao longo da noite.

Cena 2. Na ladeira da Rua Quirino de Andrade, centro de São Paulo, um rapaz (possível manifestante) corria, enquanto seguido por uma viatura policial. Movido pelo ódio e dolosamente, a viatura atropelou jovem, que poderia ter até morrido, conforme a queda. Depois, os policiais algemaram o cidadão e o colocaram no “corró”, como é popularmente conhecido o espaço das viaturas policiais, para guarda provisória de detidos e presos.

Cena 3. Poderia ser outros crimes da PM/SP, entre eles a cegueira de uma jovem vitimada por bala de borracha. Melhor lembrar a patética entrevista do impostor Temer. Indagado pela mídia golpista sobre protestos, o usurpador da faixa presidencial respondeu: “As 40 pessoas que quebram carro?”. Fala tão cruel quanto a do “Vendedor de Jabuticaba” (das relações exteriores) ao qualificar as reações contra o golpe como “mini, mini, mini”. Explicação? Os impostores estão sob efeitos da maior farsa jurídica da história do Brasil. Em que pais civilizado no mundo, um júri composto por corruptos receberia aval da Corte Suprema?

Eles tripudiam de quem exige respeito às urnas, mas se eles não aceitaram a derrota, o que obriga eleitores de Dilma a aceitarem um golpe? O impostor fala em 40 pessoas nos protestos, mas, em termos de números concretos, selados em ata e divulgados na imprensa nacional e internacional, é que pelo menos 40 senadores suspeitos de corrução foram decisivos para afastar a Presidenta Dilma. Eis um número indiscutível, “mini, mini, mini”, diante dos 54,5 milhões atestados pelo Tribunal Eleitoral.

Temer/Serra aparecem na cena 3 dessa tragédia, porque é recorrente. Depois do golpe vem o terrorismo de estado. “Ao sofrer uma injustiça, e se não encontramos outro meio para nos defender, somos tentados a reagir com violência”, afirma o jurista Sérgio Sérvulo, em texto no qual pede serenidade, paz. Especialistas do mundo dizem que “terrorismo é a arma dos mais fracos”, violência gera violência. Nesse sentido, a origem do problema está em quem atira a primeira pedra ou a primeira bomba. Os dois impostores poderiam dar resposta diplomática, ainda que sonsa, mas preferiram chamar os insatisfeitos para a briga.

Terrorismo de Estado é um regime de violência instaurado por um governo, no qual o terror é instrumento de governabilidade. Por meio de bombas, aparato policialesco, tanques aterrorizam a sociedade, de forma a inibir reações, protestos e vender a imagem de aceitação, tranquilidade. Mas, os 45 manifestantes de São Paulo, Rio e Salvador de ontem, mostram que haverá resistência.

A violência gratuita e desproporcional, com bombas jogadas de forma aleatória é uma forma de impedir frear protestos. O momento é tenso. A constituição foi rasgada para legitimar o golpe, que legitima a violência, que legitima quebra-quebra, depredação de patrimônio público e privado vidraças, obstrução do trânsito (ainda que não os defenda).

Recentemente, uma pessoa que gerou conflito entre policiais e manifestantes sequer foi molestada pela Polícia Militar, que não viu ou fez que não viu e sequer sabe-se lá se o violento não estava a serviço do golpe, única e tão somente para provocar prisões. Eis um lado obscuro das ações policiais. É hora dos juristas começarem a debater temas novos como “retorsão material contra o injusto” e legítima defesa do voto frente ao abuso de poder estatal.

Criticar os protestos faz parte da higiene do golpe, e a mídia golpista já os desqualificou, enquanto o impostor já sinaliza com violência e o uso do Exército. Temer esquece que os bandidos de estimação da grande mídia e da Farsa Jato também não o querem. Mas o problema do traidor é justamente pensar que não será traído.

Armando Rodrigues Coelho Neto – é jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

5 Comentários

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  1. Tinha mais de 40 pessoas.

    Tinha mais de 40 pessoas. Devia ter umas 50… O ato foi totalmente pacífico. Em alguns cruzamentos da Rebouças, não houve bloqueio nos cruzamentos. Em um deles, os carros avançaram sobre a passeata e gerou-se tumulto. O final do ato no Largo da Batata foi pacífico. A PM começou a baderna a tempo de aparecer no Fantástico, porque aposto que foi isso que aconteceu. Saí do local e soube que logo em seguida começou o furdúncio. Pessoas tiveram que se esconder em bares da região. Parabéns a todos os idiotas que vestiram suas camisetinhas escrotas da cbf e ajudaram aquilo que de pior a direita tem a instaurar este estado de coisas.

  2. O GOLPE já foi dado. Está

    O GOLPE já foi dado. Está claro que o USURPADOR GOLPISTA e sua gangue farão o que estiver ao seu alcance para produzir o CAOS. Uma sopa de arbitrariedades com a qual justificarão a instalação do estado de Sítio ao algo parecido. Essa será a única forma de chegarem a 2018 no poder e, quem sabe, postergar o seu mandato e as eleições. O que vimos ao final das manifestações pacíficas, ontem na Paulista, foi VANDALISMO DE ESTADO.

  3. Essa violência vem de cima para baixo

    Se até o judiciario no Brasil pode ser truculento, o que se esperar dessa policia que não se reciclou desde o fim da ditadura? Enquanto houver Alckmin no governo estadual, a policia paulistana continuara agindo violentamente e sempre culpando os que ela tortura, desrespeita e assassina.

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