A propaganda da Coca-Cola narrada por Tom Zé

Por hugo

Do Yahoo

O arroto gostoso de Tom Zé

Por 

Foi no início de março deste ano que apareceu na TV e na internet uma propaganda da Coca-Cola narrada por Tom Zé. Rapidamente, como sempre nos tempos de hoje, apareceram um tanto de comentários críticos à participação do artista na publicidade do refrigerante. “Tom Zé, seu vendido” foi o mantra repetido ad nauseam nas redes sociais.

O baiano de Irará, 76 anos, é um dos maiores artistas da música brasileira (e, consequentemente, do mundo). Também é um dos mais irrequietos, originais e coerentes. Por tudo isso ele já merecia um pouco de mais maturidade nas críticas, mas Tom Zé nunca fez sucesso (em sucesso leia-se, no caso, dinheiro) na vida, apesar de ser referência para centenas de artistas brasileiros e internacionais. E durante cerca de 15 anos, do final da década de 1970 ao inícios dos anos 1990, passou por profundas dificuldades financeiras que quase o fizeram desistir da carreira.

Mas os mimados da internet se acham no direito de julgar e apontar o dedo – quem destes comprou um disco dele ou foi em shows? – e tanto fizeram que Tom Zé publicou um texto em seu blog. Genuinamente preocupado, afirmou o seguinte: “É curioso que quando fui consultado sobre o anúncio nem pensei nessa probabilidade [das críticas negativas]. No ano passado meu disco[Tropicália Lixo Lógico] fora patrocinado pela Natura e como eu nunca tinha recebido patrocínio desse tipo – nem de nenhum outro – , cara, eu me senti como um artista levado em conta!”.

Não tem nada de errado na propaganda da Coca narrada por Tom Zé. Tem uma graça e um otimismo pelo Brasil que são típicos dele. Mas certos fãs que ainda acreditam que o refrigerante é o “líquido negro do capitalismo” ou algo parecido não lhe perdoaram (e, veja bem, a Natura, que é bem brasileira, não é nada santa). E não adiantou o compositor de clássicos como “Angélica, Augusta, Consolação” falar que o dinheiro ganho será reinvestido em sua própria música (nada de carrões, iate, cobertura de luxo, obviamente).

“Atualmente sinto paixão pela retomada do projeto dos instrumentos experimentais de 1972. Com a eficiente colaboração do engenheiro Marcelo Blanck, começamos a desenvolver alguma tecnologia, mas com recursos parcos, insuficientes. (…) Aí entrou o anúncio da Coca-Cola que, mesmo sem ela saber, patrocinaria boa parte da pesquisa”, disse no blog. Humildemente ainda perguntou: “Será que o uso dos recursos obtidos com o anúncio muda a avaliação de vocês?”. Olha o tamanho da fofurice e da atenção do sujeito! Eu já teria mandado todo mundo catar coquinho na ladeira.

Só que Tom Zé é mais, muito mais. Nesse meio tempo ele se reuniu com um grupo de jovens artistas de São Paulo (Emicida, O Terno, Tatá Aeroplano, Filamônica de Pasargada e Trupe Chá de Boldo), gravou e acabou de lançar o EP Tribunal do Feicebuqui para dowload gratuito em seu site oficial.

Nas cinco faixas do disco, Tom Zé dá um tapa com luva de pelica nos patrulheiros da vida alheia. Estão lá versos irônicos como “Que é que custava morrer de fome só pra fazer música?” (em “Tom Zé Mané”) ou “O povo, querida, com pedras na mão voltadas contra o imperialismo pagão / E na cerimônia do beija-pé / Papa Francisco perdoa Tom Zé / No Feicebuqui da Santa Sé / Papa Francisco perdoa Tom Zé” (em “Francisco perdoa Tom Zé). É isso, meu caro Tom Zé, arrota melhor quem arrota melhor.

Luis Nassif

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