Alberto Rosenblit & Mario Adnet – O “Clube da Esquina” de uma geração, por Maurício Gouvêa

Nesta minha primeira coluna para o GGN, é com enorme alegria que trago um texto escrito em 2017, por ocasião do relançamento deste álbum em vinil, pelo Selo Discobertas, do pesquisador e produtor Marcelo Fróes. Espero que gostem.

por Maurício Gouvêa

Recentemente fui convidado pelo amigo Marquinho Carvalho para uma conversa em seu programa “Almanaque do Vinil”, o qual irá ao ar amanhã, sábado 09/10/2021, às 15 horas na TV GGN. Entre os diversos álbuns importantes da música brasileira que abordamos durante o encontro, falei com carinho do disco “ALBERTO ROSENBLIT E MARIO ADNET”, lançado em 1980 de forma independente, e que, 41 anos depois, segue me comovendo profundamente.

Nesta minha primeira coluna para o GGN, é com enorme alegria que trago um texto escrito em 2017, por ocasião do relançamento deste álbum em vinil, pelo Selo Discobertas, do pesquisador e produtor Marcelo Fróes. Espero que gostem.

Alberto Rosenblit & Mario Adnet – O “Clube da Esquina” de uma geração

Foi com talento e amor que cada um contribuiu, na prática, para a música do outro, e deste acasalamento surgiu um som padrão, onde é difícil destacar suas maneiras pessoais de compor“.

O texto escrito por Toninho Horta em 1980 é preciso e muito feliz, retratando bem o sentimento que fica após a audição do disco “ALBERTO ROSENBLIT & MARIO ADNET”. É um trabalho que prima, entre outras coisas, pela coesão. Num período onde parte da música brasileira se via impedida de mostrar-se ao público em toda a sua plenitude, dois jovens e corajosos artistas se uniram num disco autoral, basicamente instrumental e lançado de forma alternativa. Coube ao tempo cristalizar sua importância no cenário musical de nosso país.

Alberto e Mario vinham de experiências diversas nos anos 70 e sonhavam com a possibilidade de as consolidar em um trabalho fonográfico que expressasse tamanha sintonia que os unia. Havia entre eles, de fato, uma admiração mútua. Enquanto Mario despertava em Alberto verdadeiro fascínio com suas harmonias pouco convencionais, a visão orquestral de Alberto deixaria em Mario cicatrizes definitivas. O mercado não estava fácil, as gravadoras apostavam apenas na possibilidade de retorno financeiro imediato. A solução, portanto, foi juntar forças e jogar todas as fichas numa produção independente.

Gravado nos lendários estúdios da Sonoviso no final de 1979, com o não menos mítico Toninho Barbosa como Técnico de gravação e mixagem, a dupla fez deste álbum de estreia um verdadeiro “Clube da Esquina” de sua geração. Alberto e Mario, integrantes de uma turma que teve no Grupo Boca Livre seu representante mais notório, reuniram os principais protagonistas daquela rapaziada que iniciou sua jornada na segunda metade dos anos 70. Além do próprio Boca Livre (na faixa “Penedo“), as vozes do grupo vocal Céu da Boca (em “Não leve a mal“), Eveline Hecker (em “Tambá“, “Ela” e “A Meia Noite e Meia“) e Zé Renato (em “Quem mal me quer bem“) brilham intensamente. Vários integrantes dos grupos Cantares e Semente (este último, do qual Mario e Alberto haviam participado), ícones do “underground” carioca dos anos 70 e que, aquela altura, já haviam encerrado suas atividades, se dividem entre as doze faixas do LP, junto a músicos como Marcelo Costa (Barca do Sol), Leo Gandelman, Marcos Amma, Zé Nogueira, André Tandeta e Ricardo Rente. Os letristas são os velhos companheiros Luiz Fernando Gonçalves (“Penedo“) e Juca Filho (“Quem mal me quer bem“), enquanto Toninho Horta (guitarra nas faixas “Até o fim” e “Ela“) e Danilo Caymmi (flauta baixo em “Penedo” e “Ela“) são os padrinhos da estreia da dupla em vinil. Mú Carvalho, grande amigo e parceiro de ambos, às voltas com o sucesso fulminante de seu grupo “A Cor do Som”, e Claudinho Infante, colega do Grupo Semente, são ausências sentidas neste álbum que é marcado pela reunião de tantos amigos.

Em três faixas apenas Alberto e Mario são parceiros, mas o resultado expressa uma admirável unidade musical, um tratado de dois artistas que vieram determinados a ocupar seus espaços na música brasileira. Suas visões de arranjadores, externadas aqui em altíssimo grau, seriam definitivas na estruturação de suas carreiras nos anos seguintes. É bonito escutar toadas, baiões, choros e valsas sob o frescor do arrojo estético que o álbum exala, em especial nos ousados arranjos para naipes de cordas e flautas. Há um manifesto encantamento pelas suas nuances instrumentais, apuro composicional e virtuosismo de todos os jovens músicos participantes.

Ouvir este som único, captado pelas mãos mágicas de Toninho Barbosa, novamente em vinil, não se trata de um exercício de saudosismo. Longe disso. É a confirmação de que, tanto depois, eles fizeram a escolha certa. A emoção continua intacta… e a música, viva.

Maurício Gouvêa – Junho de 2017

Maurício Gouvêa é engenheiro formado pelo CEFET-RJ, pós-graduado em Redes de Computadores pela UFRJ e mestre em Tecnologia pelo CEFET-RJ, onde defendeu a dissertação envolvendo “gestão de riscos de sustentabilidade socioambiental em projetos corporativos”. Além de consultor de projetos pela Fundação Getulio Vargas, é músico/compositor e escreve sobre música.

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

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