Bira da Vila grava CD e vê o meio do samba “sem consciência de classe”, por Augusto Diniz

Bira da Vila

Bira da Vila grava CD ao vivo e vê o meio do samba “sem consciência de classe”

por Augusto Diniz

Com reunião de músicas autorais e de alguns de seus ídolos, além de composições já registradas no primeiro e segundo CDs, o sambista Bira da Vila grava disco ao vivo, comemorando 20 anos de carreira, nesta segunda-feira (13/8), na Audio Rebel, em Botafogo, no Rio – mais informações aqui.

Bira da Vila tem a característica de atuar de forma engajada e contestatória em seus projetos, traço um tanto raro hoje na música brasileira. “A contestação é conflito, oposição, recusa sistemática das estruturas sociais em que se vive. Percebo que ser contestador é obrigação de quem busca um lugar melhor para todos”, ressalta. “A contestação é minha maneira de expressar meus ideais, de aprender com os parceiros e procurar a troca e a solidariedade, em uma época muito pouco afeita a essas práticas”.

Sobre o samba, Bira da Vila lembra que há de cerca cinco anos ela achava que o gênero estava fadado a extinção: “Já não tocava mais nas rádios, a televisão tinha tirado o samba de qualquer programação, os aparelhos culturais como salas e teatros pararam com o gênero e somente restaram as casas de samba pelo País”.

Para o cantor e compositor, “a lógica do sucesso gera artistas que aceitam se apresentar em outros estados a troco de passagem de ônibus. Em contrapartida, estão surgindo novos e bons compositores em todo o País. É o samba se renovando. Porém, a grande maioria, sem nenhuma consciência de classe”.

No entanto, Bira vê o samba cruel com seus artistas e ao mesmo tempo generoso. “O que eu tenho certeza é que não quero ser um artista que sai de casa para ser explorado covardemente, engrossando a triste fileira de sambistas tratados com insignificância e desrespeito”, expõe.

Ele diz que por ser da Baixada Fluminense, para sair de lá reconhecido como artista, “foi preciso entender o caos”. O sambista diz ter orgulho de onde veio e onde o investimento em cultura é praticamente inexistente.

“Tenho a lembrança forte do que o Luiz Carlos da Vila (um dos maiores compositores de samba de todos os tempos), meu mestre e padrinho artístico, disse assim que começamos a parceria e amizade: ‘Se você quiser construir uma carreira, vai ter que entender como o samba funciona, e se em Duque de Caxias (cidade onde Bira vive) é difícil, para você conquistar o seu espaço fora, será dez vezes pior’”, lembra.  

O samba da Baixada é um grande celeiro de bambas e foi berço de grandes sambistas. “São muitos talentos. Destaco hoje, por exemplo, o músico Evandro Silva, que escreveu a maioria dos arranjos do meu último trabalho, entre outros tantos músicos de excelência”.

Bira da Vila conta que o primeiro CD “O Canto da Baixada” (2010), foi uma pesquisa aprofundada sobre os compositores da Baixada Fluminense, desde a década de quarenta. “Minha intenção foi a de usar a arte para desconstruir o estereótipo negativo da região. Para tanto, até 2016, eu trabalhei com o álbum discutindo a arte e a cultura da Baixada Fluminense e consegui, mesmo pagando muito caro pela liberação das editoras das músicas”.

O segundo álbum solo, o “Em Canto” (2017), segundo Bira, “se caracteriza por revelar a conjuntura difícil do nosso País, vítima de uma crise sem precedentes, que expressa um olhar emocionado para esse momento. Um olhar de tristeza, resultado da observação da realidade e do envolvimento com o dia a dia sofrido. Esse segundo álbum também surgiu em um contexto pessoal de isolamento artístico do mercado, com a experiência de conhecer a covardia das editoras com o artista independente. Conjuntura extremamente perversa para a maioria da classe artística”.

Esse excelente CD “Em canto” foi resenhado por esta coluna e o texto pode ler lido aqui.

Redação

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