Conheça a nova e já famosa “música de pegada”

Por Assis Ribeiro
 
A nova música “de pegada”
 
 
“Existe esse cenário de balada em um país infantilizado como Brasil, um país que perdeu a profundidade. Agora é uma coisa rasa, é só festa.” Guilherme Arantes
 
As criações culturais, historicamente, sempre resentaram o momento de determinada sociedade naquilo que ela é ou pretende ser.
 
É dessa forma que, por exemplos, o “funk ostentação”, propõe uma vida de consumo extravagante e o “arrocha” e o “sertanejo Universitário” que propõe uma vida regada a sexo e prazeres ilimitados. São os movimentos culturais que servem de bases do ideal de si a ser perseguido e eventualmente realizado por cada um.
 
Os meios de comunicação de massa cumprem, então, o seu papel: associam a ideia de “ser jovem”, “consumista”, “ampla liberdade”, “ser de sucesso” e “sexo” – o ser que não se importa com nada que não seja o próprio prazer, imediato, rápido, fluido – como modelo de felicidade.
 
Essa nova música parece refletir a busca da adolescência eterna.
 
O roteiro de imagem seguido pelos artistas é sempre o mesmo. São jovens e endinheirados, verdadeiros empreendedores de relacionamentos humanos. Um sujeito destemido, porém sensível.
 
Esses artistas, e o público que eles representam, são os verdadeiros estereótipos – comportamento desprovido de originalidade que, faltando adequação à situação presente, se caracteriza pela repetição automática de um modelo anterior, anônimo ou impessoal – das pessoas na chamada sociedade pós-moderna.
 
A Revista Bula traz um artigo interessante sobre este movimento, intitulado de MIB – Música Imbecil Brasileira, da qual reproduzo o parágrafo abaixo:
 
“Trata-se de um modelo hedônico de uma sociedade capitalista hedonista, marcadamente voltado ao consumo, onde ser um “idiota”, um “imbecil completo”, não só não é motivo de desonra — própria e familiar — como se consubstancia num status socialmente tolerado (diria mesmo instigado). É o estereótipo desejável da sociedade globalizada por relações líquidas sob o elo do idioma da velocidade: no falar, no vestir, no relacionar-se, tudo que se refere ao gênero humano passa numa piscadela.”.
 
O machismo na música e a “pegação da mulherada”
 
Os ritmos e letras dessas músicas provocam um retrocesso na luta da mulher pela igualdade e pelo fim da dominação masculina.
 
O ótimo blog “CantodoMundo” em um artigo de Léo Oliver assim descreve o retrocesso:
 
“As meninas estão sendo objetificadas e muitas vezes parecem gostar disso, de certa forma acham que se aproveitam disso, da mesma forma que os homens se aproveitam delas. Sem perceber que com isso, estão perpetuando o paradigma machista que até hoje é vigente. Os meninos, por sua vez, continuam repetindo o comportamento hegemônico que mantém a desigualdade entre sexos…e que coloca a mulher num patamar inferior, coisificando-as até que elas se tornarem meros enfeites no ambiente.” 
 
Para não alongar vamos fechar o artigo com uma análise da “psicanalista” Silvana Reich Sch, formada pela Universidade Estadual de Borrazópolis, (rsrsrsr), no blog “puchacachorra”.
 
1) “Bará berê” – Michel Teló
 
A música: Bará bará bará, Berê berê berê Bará bará bará, Berê berê berê Bará bará bará, Berê berê berê E quando eu te pegar, você vai ficar louca Vai ficar doidinha, doidinha dentro da roupa Quando eu te pegar vou fazer diferente Tenho certeza vai pirar a sua mente A bebida ta subindo a cabeça enlouquecendo O clima ta esquentendo so vai dar eu e você Pra gente então fazer o que Bará bará bará, Berê berê berê (x4)
 
A análise: infestação de pulgas e chato (“vai ficar doidinha, doidinha dentro da roupa”), uso de entorpecentes (“vai pirar a sua mente”) e ar condicionado quebrado (“o clima tá esquentando”). Pela análise dos versos, nota-se que o sujeito tem vocação para a política, pois promete “fazer diferente”, mas no fim do mandato percebe-se que foi o mesmo tãe de sempre. Também é possível notar que não é um habitual no consumo de bebidas alcóolicas, tamanho o efeito causado pelo mé em sua cabeça. No meio terapêutico esses indivíduos são também chamados “miojo”. Por fim, nosso bovino no cio convida a moça para o bará bará bará, berê berê, berê, também conhecido por… ah, vocês sabem! Recomendação: parar de colar adesivo de cowboy na sua caminhonete e achar que é peão. E vá fazer Bará bará bará berê berê berê na puta que o pariu!
 
2) “Eu vou zuar e beber” – Henrique e Diego
 
A música Eu vou zuar e beber Vou locar uma Van E levar a mulherada lá pro meu AP Que é pra gente beber E depois paragadá, pa ra ra, pa pa E depois paragadá, pa ra ra, pa ra ra… Hoje tem farra Vou fazer o movimento Lá no meu apartamento Entrou, gostou , gamou, quer mais… Já preparei, abasteci a geladeira Tá lotada de cerveja O muído vai ser bom demais… O prédio vai balançar Quando a galera pirar E a cachaça subir Fazer zum, zum… Não tem hora pra parar O cheiro de amor no ar Vai todo mundo pirar E ficar nu…
 
A análise: alcoolismo, obsessão sexual, cancro mole, cancro duro, gonorreia, distúrbios auditivos (“zum zum”), labirintite (“o prédio vai balançar”) e problemas com ortografia (muído?). Obviamente o sujeito sofre de um terrível mal que assola a humanidade desde os mais primórdios tempos, conhecido por “dor de corno”, daí sua necessidade de afogar as mágoas com orgias e bebidas. Nota-se aqui um caso curioso, pois nosso herói (como diria Pedro Bial) precisa beber para fazer o paragadá, quanto todos sabem que quando se bebe muito não rola paragadá, muito menos parará, que é sinônimo de nheco nheco xique xique balancê. Nesse caso é provável que outros amigos façam o paragadá com a mulherada da Van e ainda bebam a cerveja toda. Esse quadro indica que o sujeito sofre de distúrbio de aceitação. Em termos psicológicos, ele é conhecido como “paga-lanche”. Recomendação: parar de colocar meia na cueca para aumentar o volume na calça jeans. E vá fazer paragadá na puta que o pariu!
 
Algumas de “pegada” mais forte:
 
1) Fantasmão – Pegada de AFRICANO
 
“A minha pegada é de africano / eu boto pra ver o bagaço / vou logo te dando a ideia / se eu te pego na cama eu mato // Eu mato, eu mato / eu mato, eu mato / eu mato, eu mato / eu mato de amor, eu mato de quatro, venha (refrão) // Vai na agrestia, vai na agrestia / na agrestia, na agrestia / agrestia, agrestia”.
 
http://www.youtube.com/watch?v=Bskozi4JBQg]
 
2) Black Style – Balance o Rabinho Cachorra
 
“As cachorras de coleira, no pagodão /Balance o rabinho chamando atenção / Tou de coleira vou ao pagodão / Balance o rabinho chamando atenção / Balance o rabinho cachorra / Balance o rabinho cachorra / Balance o rabinho cachorra (bis)”.
 
 
http://www.youtube.com/watch?v=lo3LmuWoJpg]
 
3) Black Style – Perereca Pisca
 
“Quando chego na boate / Ela se excita / Levanta a garrafa de whisk / A perereca dela
Pisca pisca pisca pisca pisca (…) / Abecedário, abecedário, abecedário da alegria / Vou te comer todo dia / Ela pede, ela pede / Bota com raiva, bota com raiva / Bota com raiva (bota) .”
 
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=6_giKNd5gsw
 
4) João Lucas E Marcelo Louca Louquinha
Empina, vai, se movimenta / Empina, vai, se movimenta / Pra baixo, pra cima / Quero ver se tu aguenta / Louca, / Louquinha
 
[video:http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=CRX4D3SLFEk
 
 
No blog “oitavaofensa” , uma análise ácida sobre a música “Camaro Amarelo”:
 
O Camaro Amarelo e a prostituição indireta
 
(…) Mas quem se deprecia MESMO com essa história toda? A mulher vista como objeto, nunca pela ótica de humanização, passa a ser um brinquedinho maior a ser conquistado pelo playboy classe média, dono de um Camaro. Nas entrelinhas eu leio prostituição, mesmo que indireta. E nas vias de fato só há prostituição quando existe alguém disposto a se vender. Aquela malandragem imbecil que as meninas repassam uma pras outras no tempo de escola: “é só ficar dando moral praqueles garotos ali que nós vamos beber de graça a noite inteira”.
 
Senhorita, você é puta, sem restrições a palavra! E se você se valoriza assim (o que eu não vejo nenhum empecilho se assim prefere ser e é feliz com isso), não tome partido de forma hipócrita criticando homens por tal comportamento. A culpa sim, continua sendo dos homens.
 
Mas para o palhaço o espetáculo continua quando ainda se ouve palmas e risadas.
 
Só sou da opinião que é muita hipocrisia criar o habitat para um animal e depois acusá-lo de irracionalidade.
 
Em matéria de 06/02/2014 o Jornal Correio da Bahia informa:
 
A deputada estadual Luiza Maia (PT – BA) ingressou com uma representação contra a banda Abrakadabra, motivada pela letra e videoclipe da música “Tigrão Gostoso”. No documento, protocolado junto ao Ministério Público da Bahia, na quarta-feira (5), a deputada afirma que o conteúdo da música “traz indistinta discriminação contra mulheres, com violação à imagem e dignidade destas”.
 
Para Luiza Maia, o clipe também incita, “sem chance de dúvida, a prática de crimes contra a liberdade sexual, como os de estupro e atentado violento ao pudor, previstos nos arts. 213 e 214 do Código Penal”.
 
O vídeo, que foi lançando em dezembro e já ultrapassava 60 mil visualizações, foi removido do Youtube. No último dia 27, a Marcha Mundial das Mulheres divulgou uma nota de repúdio contra a banda.
 
“No início do clipe, retrata-se uma situação que é corriqueira na vida de todas as mulheres, que vivem diariamente o medo e a insegurança de serem violentadas ao andarem sozinhas à noite ou em ruas desertas. Entretanto, ao invés de se denunciar a violência sexual, o clipe se desenrola de forma a enaltecer a posição do estuprador, colocado como a figura do “tigrão gostoso”, de modo a associar a agressividade à masculinidade”, diz trecho da nota.
 
[video:http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=rPqNtZbL-cc

 

Redação

1 Comentário

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  1. Quando a gente pensa que já

    Quando a gente pensa que já viu de um tudo…

    O trabalho de conscientização dos jovens é inglório. Como enfrentar uma hipnose dessas que deve tocar trocentas vezes no rádio diariamente e depois fica repetindo na cabeça das crianças e jovens? Isso “programa a mente” de forma que fica muito difícil colocar outros conceitos como auto-respeito, limites, privacidade, etc.

    Difícil de aceitar e conviver com isso…

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