O tango é um pensamento triste que se pode dançar: a sensualidade no ritmo do amor

Por Odonir Oliveira

Bailarina de tango

Horacio Sanguinetti

De satén y color negro, la pollera.
De charol y tacos altos, los zapatos.
Dibujando garabatos,
del ritmo que se adueña
tu estampa de porteña.

Tu conoces el secreto de los tangos
y es por eso que los bailas como nadie.
Y en los brazos que te abrazas,
que mística que pasas,
danzando en el salón.

Sacerdotisa del tango,
sacerdotisa sentida.
Rito es la danza en tu vida
y el tango que tu amas
te quema en su llama.

Sacerdotisa del tango,
que en los salones de rango,
bailas en brazos de un hombre
que luce el renombre
de gran bailarín.

http://www.pasiontango.net/

https://www.youtube.com/watch?v=S98-BIpzZuk]

A dança, assim como as demais manifestações artísticas, é uma via de expressão capaz de representar diferentes ideias. A cada novo tipo de dança, perpetuam-se valores que fazem de um determinado estilo dançante sinônimo de determinados sentimentos. Na Argentina, o tango tornou-se sinônimo de paixão, melancolia e tristeza. Conforme sentencia uma famosa expressão “o tango é um pensamento triste que se pode dançar”. No entanto, ao contrário do que pensamos, o tango não “nasceu” triste e argentino.

Ao longo do século XIX, a jovem nação argentina incentivou a entrada de imigrantes europeus no país para que os mesmos pudessem ampliar a mão de obra disponível e, conforme relatos da época, “refinar” a cultura pelo contato com espanhóis, franceses, poloneses e italianos. Dos contingentes trazidos para ocupar novos postos de trabalho na Argentina, formou-se uma imensa população masculina que deixava a família para tentar a sorte em terras estrangeiras. Em pouco tempo, o excedente populacional masculino possibilitou a abertura de diversos prostíbulos  no país.

De acordo com recentes pesquisas, no final do século XIX, só a capital Buenos Aires contava com mais de 200 casas de prostituição. A procura pelas prostitutas era tão grande que os homens faziam fila à espera de fácil prazer sexual. Foi quando, a grande circulação de pessoas nas casas de prostituição argentinas deu espaço para a encenação de números musicais enquanto os clientes esperavam a sua vez. Nesse instante, apareciam grupos que intercambiavam suas distintas experiências musicais. A polca europeia, a havaneira cubana, o candombe uruguaio e a milonga espanhola firmaram o nascimento do tango argentino.

Em seus primeiros anos, o tango era formado por um trio musical executante de ritmos mais acelerados e os passos de dança tinham muita sensualidade. Só mais tarde que os tangos começaram a ganhar suas primeiras letras. Fazendo jus ao seu local de origem, as primeiras letras descreviam situações libidinosas sobre os prostíbulos e as meretrizes. Por isso, durante algum tempo, o tango era sinônimo de imoralidade. As pessoas de “boa índole” tinham verdadeira aversão à prática desse tipo de música dançante. No entanto, os imigrantes que voltavam para Europa tinham popularizado o estilo, principalmente na cidade de Paris.

Os diversos ataques contra o tango perderam força mediante a popularização e as transformações sofridas com a chegada do ritmo à Europa. Atacado ainda por religiosos, o tango chegou a ser dançado para o papa Pio X, para que o mesmo julgasse suas características. Aprovado por Vossa Santidade e influenciado pela escola europeia, o tango começou a ganhar um ritmo mais lento e passos mais cadenciados. No início do século XX, as letras começam a incorporar temáticas para fora do prostíbulo. Tempos depois veio a ser considerado uma expressão típica artística de “todos” argentinos.

Saindo dos prostíbulos para os salões de festa, o tango alcançou sua máxima popularização com o estrondoso sucesso do cantor Carlos Gardel. Sendo conhecido como uma dos mais famosos cantores de tango, Gardel mostrou sua música nos palcos e internacionalizou sua arte com a gravação do filme “El Dia Que Me Quieras”. Ainda hoje, o tango é uma das expressões artísticas mais conhecidas na Argentina e seus espetáculos atraem turistas de todo o mundo.

ASTOR PIAZZOLLA

Astor Pantaleón Piazzolla, nascido no dia 11 de março de 1921 na cidade de Mar del Plata, passou a infância entre Buenos Aires e Nova York – mais na segunda cidade que na primeira. Começou a estudar música aos 9 anos nos Estados Unidos, dando continuidade em Buenos Aires e na Europa. Em 1935 teve um encontro quase místico com Carlos Gardel, ao participar como extra no filme El Día que me Quieras.

Sua carreira começa verdadeiramente quando decide participar como bandoneonista na orquestra de Aníbal Troilo. Em 1952 ganha uma bolsa do governo francês para estudar com a legendária Nadia Boulanger, quem o incentivou a seguir seu próprio estilo. Em 1955, de volta a casa, Astor forma o Octeto Buenos Aires. Sua seleção de músicos – em uma experiência similar à jazzística norte-americana de Gerry Mulligan – termina delineando arranjos atrevidos e timbres pouco habituais para o tango, como a introdução de guitarra.

Com Adiós Nonino,Decarísimo e Muerte de un Ángel começou a trilhar um caminho de sucesso que tería picos em seu concerto no Philarmonic Hall de Nova York e na musicalização de poemas de Jorge Luis Borges.

Em seus últimos anos, Piazzolla preferiu apresentar-se em concertos como solista acompanhado por uma orquestra sinfônica com uma ou outra apresentação com seu quinteto. Foi assim que percorreu o mundo e ampliou a magnitude de seu público em cada continente pelo bem e a glória da música de Buenos Aires.Astor Piazzolla faleceu em Buenos Aires no dia 4 de julho de 1992, mas deixou como legado sua inestimável obra – que abrange uns cinquenta discos – e a enorme influência de seu estilo. Na verdade, a produção cultural sobre Piazzolla parece não ter fim: se estende ao cinema e ao teatro, é constantemente reeditada pelas discográficas e ganha vida na Fundación Piazzolla, liderada por sua viúva, Laura Escalada.

[video:https://www.youtube.com/watch?v=pgha2OTkyFE

Redação

12 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

    1. Anarquista

      Apesar da minha “sofisticação” gosto muito também; e este é realmente campeão mundial!  Não é raro meu gosto pessoal acompanhar o gosto da maioria …

      Um dos meus filmes prediletos e a cena é antológica:  uma ode de amor verdadeiro ao feminino!

      Há duas outras cenas sensacionais neste filme:  a da “tentativa” de suícidio – um rito de passagem para o garoto – e a do discurso.

      Obrigada por nos trazer mais uma vez.

  1. Tango

    O tango é a mais bela, comovente e inspiradora música que se pode ouvir. Tudo nela é emoção e as interpretações aliadas aos passos sincronizados dos dançantes formam um conjunto harmonioso e marcante. Principalmente se combinado com um bom Malbec tão jovem quanto intenso. Por una cabeza, La cumparsita,El dia que me quieras são hinos do cancioneiro mundial.

  2. tango

    O tango é o mais belo ritmo do mundo. Ele é envolvente, comovente e o conjunto de tocadores e dançantes é harmonioso e arrebatador, principalmente se combinado com um bom Malbec tão jovem quanto intenso. Por una cabeza, La cumparsita e el dia em que me quieras são hinos do cancioneiro mundial.

  3. Até que enfim, a humanidade está salva !

    Há quem goste de tango quanto eu.

    Bobagem, não é só isso que salva a humanidade.

    Mas que ajuda, ajuda, se é que me entendem.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador