Aquiles Rique Reis
Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.
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Renato Braz e o Quarteto Maogani: disco rico e estimulante, por Aquiles Rique Reis

Disco rico e estimulante, por Aquiles Rique Reis

Tenho nas mãos o CD Canela (distribuição Tratore), que reúne o cantor Renato Braz e o Quarteto Maogani, integrado por Carlos Chaves (violão de sete cordas e violão requinto), o novo integrante do grupo, o peruano Sergio Valdeos (violão de sete cordas), Marcos Alves (violão) e Paulo Aragão (violão de oito cordas). O álbum conta também com as participações especiais de Mauricio Marques (violão de oito cordas), ex-integrante do Maogani, da cantora peruana Rosa Gusmán e de Breno Ruiz.

A presença em minha mão daquele que eu intuía ser um álbum diferençado, aguçava meus sentidos. Enquanto eu lia o encarte e o repertório, pensei: Caramba! Se os dois artistas apenas se ajuntassem para tocar e cantar o muito que já sabemos do que são capazes, já seria fabuloso. Mas, corajosamente, Renato e o Maogani foram além: decidiram fazer uma viagem pelos estilos musicais latino-americanos. Para tanto, decidiram gravar no Peru.

Após um primeiro encontro, quando o Maogani mostrou “Julia Florida” (Agustín Barrios) para Renato, a liga se deu no ato. Após uma temporada de shows pela Colômbia, Peru e Equador, o Maogani reencontrou Renato, e trouxeram “Julia Florida” de volta para a roda. Ali nascia o CD.

E a voz requintada de Renato Braz e os violões virtuosos do Maogani mergulharam nos gêneros e nas poesias ouvidas em andanças pelo continente, buscando a identidade de cada gênero musical, trazendo-a para os dedos e a garganta brasileiros.

Em Canela ouvem-se ritmos pouco conhecidos por aqui: o joropo venezuelano, o festejo peruano, o bambuco colombiano, além de bolero, tango, canções argentinas e chilenas. Sem contar os cinco números instrumentais e a música “Calundu” (Breno Ruiz e Paulo César Pinheiro), todas as outras são cantadas por Renato em castelhano. Os arranjos são dos integrantes do Maogani, à exceção de um, de Carlos Guzmán, e usam os violões ora em solo, ora em quarteto, ora em quinteto.

“Pajarillo Verde” (tradicional joropo venezuelano): os violões iniciam. Renato faz vocalises. Os violões se miscigenam. A voz de Renato é um instrumento e se mescla à sonoridade dos violões, resultando extraordinárias. Jovialidade explícita.

“Julia Florida”, barcarola de Agustín Barrios, é solo do Maogani e tem delicada introdução dos violões. Na sequência, a levada remete ao choro. Ao final, um sequência de harmônicos acentua e expande a mistura.

“Lamento Eslavo” (Eliseo Grenet): a introdução se dá com os violões tocados com as cordas presas, resultando percussivas. Ouve-se a voz forte e grave de Rosa Guzmán. Com personalidade, ela e Braz se impõem. Juntos, vozes, música e versos ganham ainda mais ardor.

 Assim é o CD – uma surpresa musical atrás da outra. Saudável mescla rítmica, melódica e harmônica. Tanto que as duas faixas que fecham o álbum, “Milonga da Espera” (Maurício Marques) e “Vuelvo ao Sur” (Astor Piazzola e Fernando Solanas), tocadas pelo Maogani, vêm juntas, integradas, como se criadas num mesmo país.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4

Aquiles Rique Reis

Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.

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