Banda larga avança no Brasil, mas ainda falta plano específico para a indústria

Jornal GGN – Nos últimos 10 anos, um item passou a ser imprescindível à sociedade. Quase tão importante quanto a energia elétrica e o abastecimento de água, hoje é a Internet. Praticamente toda a comunicação, pesquisa, compartilhamento de dados, armazenamento de arquivos, entre outros dependem desse serviço. Se atualmente, a população dos grandes centros do mundo não vive mais desconectada, o que dizer sobre setores importantes para o desenvolvimento de um país, como é o caso da indústria?

Muitas das empresas possuem suas matrizes ou filiais fora do país. Como é o caso da fabricante de pneus Michelin. O diretor de Tecnologia da Informação e Comunicação, Marcelo Ramires, disse que depende muito de um serviço de internet de qualidade “Temos uma interação forte com nossa matriz, que é fora do país, e por várias vezes ficamos sem comunicação. Em duas ocasiões, tivemos que parar a fábrica devido a indisponibilidade dos links de comunicação de dados”, comentou.

Visando ampliar o acesso à uma conexão mais rápida, em 2010, ainda no Governo Lula, foi criado o Programa Nacional de Banda larga (PNBL), com a meta de chegar a 40 milhões de domicílios conectados até a Copa do Mundo. O número vai para 60 milhões, se incluirmos a banda larga móvel (celulares e smartphones) e contempla 100% dos órgãos, escolas, postos de saúde e bibliotecas públicas.

O problema é que as discussões sobre  a ampliação do acesso à internet de alta   velocidade ficaram pautadas mais no  consumo doméstico, sem um plano  específico para a indústria, que está  diretamente ligada ao mundo dos  negócios, movido basicamente pela   comunicação entre os envolvidos.  Qualquer empresa – independente se é  micro, pequena ou média – precisa estar  interligada à rede, se quiser acessar  mercados e tornar-se competitiva  nacional ou internacionalmente.

A assessora de projetos especiais da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN), Ana Hoffmann, entregou ao ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, um dos poucos estudos realizados sobre o tema, a “Evolução Recente e Perspectivas da Banda Larga Empresarial no Brasil” feito pela entidade. “O cliente corporativo também deve ser uma prioridade para a universalização dos serviços de Telecom. Entregamos ao ministro uma contribuição em que explicitamos a necessidade de se estabelecer um pacote mínimo de 15 Mbps com SLA e também uma ouvidoria específica para atendimento ao cliente corporativo. Ressaltamos que sobre esse pacote é importante se conseguir com os Estados a isenção do ICMS”, afirmou Ana Hofmann.

No PNBL está prevista a universalização do acesso a 1 Mbps (1 megabit por segundo) a micro e pequenas empresas até o fim deste ano, o que não se aplica à médias e grandes empresas. Além disso, o Brasil ainda não possui um plano de internet banda larga para além de 2014. Caso completamente diferente da nossa vizinha, Argentina, que possui um programa que prevê que 80% das empresas do país recebam 50 Mpbs até 2016. Internet 50 vezes mais rápida que a nossa.

Apenas uma pequena parcela das empresas brasileiras possui acesso à internet com velocidade superior a 10 Mbps. Devido às limitações da infraestrutura existente, a maior parte, inclusive os que contratam planos de 10 Mbps, recebem apenas 1Mbps. Há cerca de um ano, a Anatel determinou que pelo menos 20% da velocidade contratada seja obrigatória para as conexões de banda larga. O que ainda é pouco, já que corresponde a 2 Mbps.

O ministro das Comunicações Paulo Bernardo disse recentemente, em uma reunião com empresários e federações da indústria, que o governo está trabalhando para aprovar a lei nacional de antenas, que poderá contribuir para a melhoria dos serviços ofertados. “Temos um projeto de implantação de banda larga em locais onde, hoje, ela é inexistente. O Brasil ainda é muito carente de infraestrutura. Por isso mesmo, é importante empresas, federações e o governo trabalharmos juntos em busca de soluções”, afirmou.

A banda larga empresarial em outros países

Além da Argentina, outros países, parceiros e concorrentes do Brasil no comércio interno e externo, possuem planos específicos para a ampliação do acesso à banda larga empresarial. Na Espanha, mesmo em crise, espera-se atingir a velocidade de 30 Mbps até 2018 em todas as empresas. Na China, 50% das indústrias terão acesso a 20 Mbps até 2015.

Outros já estão bem à frente. Nos EUA, estima-se que até 2020, todas as empresas tenham acesso a 100 Mbps. Mesmo caso da Finlândia, que espera atingir este resultado já em 2015. E o que dizer sobre países asiáticos como Coréia do Sul e Singapura? Os dois já universalizaram a velocidade de 1 Gbps (mais de mil vezes mais rápida que a do Brasil)

Para se ter uma ideia do quão importante são esses números e siglas que medem as velocidades da conexão, no Brasil, para se baixar 1 Gb são necessárias 2 horas, 29 minutos e 36 segundos. Em Singapura, o mesmo download é feito em apenas nove segundos. Em termos de competitividade industrial, para se baixar os documentos sobre o Leilão do trem de Alta Velocidade (de 3,8 Gb) são gastas nove horas e 28 minutos. Quase 10 horas para se fazer o que a Alemanha leva 11 minutos e a Coréia do Sul somente 34 segundos.

Marco Civil

Paralelo a esta discussão, foi aprovada no dia 25 de março, a Lei do Marco Civil na Internet. A Conferência Nacional das Indústrias incluiu a lei na Agenda Legislativa da Indústria 2014. A CNI avalia o projeto favoravelmente, apontando avanços para regulamentação do uso e comercialização da internet no Brasil. Segundo a instituição, “o Marco disciplina o uso da rede, define os direitos, deveres, princípios e garantias do usuário e provedores de serviço”. Por outro lado, a CNI afirmou que faria algumas alterações no projeto de lei. “A principal diz respeito à obrigatoriedade de instalação de centros de armazenamento de dados em solo brasileiro”. Para a CNI, “essa decisão fere a liberdade das empresas de definir a localização da estrutura, de acordo com suas estratégias de negócio”.

Redação

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