Tablets e celulares, máquinas da desigualdade?

Tablets e smartphones foram vistos com frequência nos últimos anos, como grandes ferramentas para democratização da internet. Relativamente baratos (88 modelos vendidos no Brasil custam menos de R$ 500), utilizam aplicativos que economizam banda de conexão e são incomparáveis em portabilidade. Agora, porém, estas vantagens estão sendo relativizadas por um número crescente de ativistas que lutam pelo livre acesso à rede. Ouvidos num texto recente, da revista Salon, eles sustentam: sob o manto de uma popularização ilusória, pode estar surgindo um novo apartheid digital. Nele, uma elite usufrui plenamente as possibilidades da rede, enquanto cria-se, para as maiorias, um uso de segunda categoria, que consiste basicamente em consumir o que os outros criam.
 
Larry Ortega, um dos ativistas ouvidos, explica que não se trata de condenar o aparelhos de acesso móvel à internet — mas de constatar as limitações impostas a quem se comunica exclusiva ou principalmente por parte de celulares e tablets. Neles, é muito difícil, ou mesmo impossível, desenvolver atividades refinadas: escrever um texto não-sumário, editar um vídeo, por exemplo — ou mesmo ações mais prosaicas e ligadas ao mercado, como preencher uma proposta de emprego online.
 
Ortega argumenta que o acesso à internet deve significar uma melhora na qualidade de vida e participação social dos seres humanos. Para ele, simplesmente passar um dia inteiro vendo vídeos no YouTube não é expressa nenhuma melhora significativa. Quem só consome, e não cria nada na rede, passa a ter uma relação meramente passiva, assim como acontece com a televisão.
 
Na “segunda categoria”, pobres e negros: Os ativistas citados por Salon revelam que, nos Estados Unidos, há nítida correlação entre as duas “categorias” de usuários e as relações de classe social e etnia. Em todo o país, cerca de um terço dos usuários da internet conecta-se “principalmente por celulares”. Mas este tipo de internauta é duas vezes mais frequente entre os negros e hispânicos que entre os brancos. A mesma discrepância repete-se quando se comparam usuários com renda anual em torno de 30 mil dólares com outros que ganham U$ 75 mil.
 
O cenário parece repetir-se no Brasil. Estudo recente do IBOPE Media revelou que, 53 milhões de pessoas acessam a internet pelo celular. Tablets e smartphones são meios utilizados por 56% dos usuários para entrar na rede, mostra pesquisa do IAB Brasil. E embora a maioria dos usuários brasileiros da internet use pelo menos dois dispositivos (além dos aparelhos móveis, também desktops, notebooks, videogames e outros), dois em cada três acessos é feito por smartphones (projeções para 2012).
 
Como enfrentar o problema? Stephanie Chen, outra ativista ouvida por Salon, não tem dúvidas em apontar a garantia do acesso universal à banda larga. Para ela, que participa do Greenlining Institute (uma organização em favor de justiça racial e étnica), o Estado deve reconhecer e assegurar a conexão em banda larga como necessidade e direito básico — assegurado, portanto, a todos, independente de capacidade financeira.
Redação

7 Comentários

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  1. “Ouvidos num texto recente,

    “Ouvidos num texto recente, da revista Salon, eles sustentam: sob o manto de uma popularização ilusória, pode estar surgindo um novo apartheid digital. Nele, uma elite usufrui plenamente as possibilidades da rede, enquanto cria-se, para as maiorias, um uso de segunda categoria, que consiste basicamente em consumir o que os outros criam.”

     

    “… o Estado deve reconhecer e assegurar a conexão em banda larga como necessidade e direito básico — assegurado, portanto, a todos, independente de capacidade financeira.”

     

    Peraí, se o problema estaria no uso exclusivo da rede através de dispositivos de acesso “móvel” limitados para a criação de conteúdo, a solução proposta então parace um “pouco” fora de foco. Seria sim, solução para outro problema não citado, a existência daqueles que ainda estão excluídos da rede, no caso do Brasil, aproximadamente quase metade da população.

  2. Os autores do texto entendem

    Os autores do texto entendem que grande parte dos usuários de internet estão em desvantagem na produção de conteúdos para a web já que acessam a rede apenas por dispositivos móveis, os quais não facilitam, com seus recursos limitados de produção textual, uma maior criação de conteúdos para publicação.
    Entendo que de fato é muito difícil construir bons conteúdos com esse tipo de dispositivo, porém, creio que isso não esteja relacionado diretamente à baixa distribuição de atores geradores de conteúdos significativos para internet. É necessário verificar se as pessoas que têm acesso à banda larga e que se utilizam de notebooks em sua navegação aproveitam-se desse potencial para efetivamente gerar conteúdo ou, se por outro lado, apenas utilizam-se desses equipamentos para continuar a fazer o que normalmente fazem quando se utilizam de dispositivos móveis. Talvez grande parte desses usuários apenas digitem um pouco mais de comentários no facebook ou twitter, mas nem de longe trazem uma contribuição efetivamente interessante para alguma causa específica, independentemente de qual seja.
    É óbvio que uma política de banda larga é importante para incluir mais pessoas no universo de usuários que utilizam dispositivos como notebooks para sua conexão à rede. Receio porém que se esses novos usuários não perceberem o potencial que tem em mãos, continuarão a ser apenas meros espectadores e não atores efetivos. Imagino que é possível pensar em políticas públicas para além da ampliação da banda larga para esse novo engajamento. Considero interessante uma orientação para que escolas públicas que passem a desfrutar de uma nova política de banda larga entrem no universo das redes sociais. Articulem, por exemplo, formas de avaliação de alunos a partir das contribuições postadas e dos desdobramentos provenientes dessas contribuições. As universidades, por sua vez, poderiam fazer algo semelhante a partir da exploração de dados abertos. Poder-se-ia montar grupos multidisciplinares que não somente gerassem soluções de visualização de dados, como também debates sobre os achados. Isso se utilizando de possibilidades da web 2.0.
    São novas tecnologias, novas formas de governo eletrônico e novas formas de buscar engajamento de cidadãos.

  3. Eu já canto essa pedra há um

    Eu já canto essa pedra há um tempão.

    As frequencias de rádio e tv são públicas mas foram capturadas pelos grupos privados e o sistema de propganda – patronal, por definição.

    A internet é essencialmente privada em seu uso comum e centrealizada em poucos estados nacionais que desenvolveram sua infraestruturara básica.

    Estará aí a razão de os meios de comunicação tradicionais fazerem tanta propaganda da concorrência (coisa jamais vista na sucessão de tecnologias de informação)?

  4. Não entendi qual o

    Não entendi qual o problema.

    Mais gente lê noticias hj pelo celular q qq pessoa de outra época.

    A seletividade aumentou tb.

    A SENHORA não vai ser mais lida se mais pessoas tiverem acesso à informação simplesmente pq  A SENHORA e os da sua laia são rejeitados pela grande maioria dos leitores.

    Resumindo:

    Tá de birra pq ninguém tem saco pra ler o q A SENHORA escreve.

  5. Acho que os autores do texto

    Acho que os autores do texto estão meio desatualizados, hoje na internet o que vejo, a contragosto, é uma busca pelo hegemônia da liguagem audiovisual. Mas eles só conseguiram ver a superficie, nos degraus de baixo da rede existe uma frenética compartilhação de conteudos

    1. Diferentemente do que o senso

      Diferentemente do que o senso comum imagina, não há uma hegemonia da linguagem audiovisual na internet. Um exemplo banal são os blogs, como este aqui mesmo onde lemos o artigo do qual debatemos. Pelo contrário, talvez nunca se tenha lido tanto quanto na atualidade. A diferença está no formato dos textos, mais curtos e segmentados. Isso não quer dizer que os textos mais longos, como os que se enconram em livros tenham perdido o seu lugar. Não perderam, pois os livros devem manter a mesma proporção que sempre tivera entre a população, se formos pesquisar na história. Talvez os livros até tenham aumentado essa proporção entre a população, isso porque a quantidade de pessoas letradas aumentou significativamente. Provavelmente, o que aconteceu é que os livros diminuíram sua participação entre os letrados, não porque os letrados perderam o interesse no livro, mas porque se antes só uma parcela muito restrita da população tinha acesso à educação, hoje em dia saber ler e escrever virou quase norma. E estes novos leitores que entraram ao longo da história não necessariamente vão ler o mesmo que a elite letrada de antigamente lia e também não da mesma forma.

      Toda vez que uma nova tecnologia é introduzida, aparecem os arautos do apocalipse anunciando a deterioração da “cultura”. Quando as máquinas de escrever surgiram, houve quem anunciasse que escritores de verdade só podia usar a pena para produzir. Depois quando os computadores apareceram, os escritores fiéis à máquina de escrever choraram pela falta de “alma” na nova tecnologia. Agora a desculpa que mais ouço é que é impossível escrever textos longos em uma tablet ou smartphone. Essa choradeira será assim até surgir o primeiro escritor a anunciar que finalizou uma obra a maior parte ou inteiramente em um desses novos meios. Neste exato momento devem haver centenas de aspirantes a escritores, poetas, roteiristas escrevendo obras nos seus aparelhos móveis durante às viagens de ônibus ou metrô de casa para o trabalho ou vice-versa. Um tempo que antes era morto para a classe trabalhadora, agora passou a ser um tempo de criação.

      Com relação à democratização da internet sem fio, isso depende de dois fatores: políticas públicas e oferta de mercado. Atualmente nos EUA, 57 cidades oferecem internet gratuita via WiFi. Além disso, as redes Starbucks já oferecem acesso à internet sem fio gratuitamente. Iniciativas de várias empresas de tecnologia como Google e Facebook buscam oferecer internet de graça para seus usuários.

      Quando escutamos alguém dizer que a TV está morrendo, o que devemos nos perguntar é qual TV que está morrendo, porque por trás destas duas sílabas, há uma profusão de significados que se confundem. TV pode ser o aparelho pelo qual acessamos conteúdo. TV pode ser o próprio formato de conteúdo cultural. TV pode ser o meio de transmissão destes conteúdos. Somente neste último caso, é que a TV está morrendo. Os aparelhos de TV, como centrais de entretenimento em tela grande nas casas. provavelmente evoluirão, mas não deixarão de existir. Os conteúdos culturais chamados de TV passam por um ótimo momento em que apresentam qualidade técnica e artística às vezes superiores ao do cinema. Mas a radiodifusão de conteúdos televisivos com horários pré-determinados através de ondas de rádio ou cabos caminha para um fim. Segundo artigos de tecnologia, este ano, menos da metade dos assinantes de serviços de cabo nos EUA assinam um pacote que possui transmissão de TV. Isso não significa que as pessoas estão vendo menos conteúdo televisivo, elas apenas não o estão consumindo como as redes de televisão costumavam oferecer. O Netflix passou a produzir e oferecer suas próprias séries de TV, revolucionando o mercado, ao disponibilizar todos os capítulos das séries de uma única vez, para que o público decida como e quando desejam assistir os programas. HBO, Disney Channel e outros canais de TV relutaram, mas se renderam ao meio internet, oferecendo aplicativos que garantem acesso a todos os seus programas. Mas em uma derradeira tentativa de salvarem o mercado de TVs à cabo, eles veiculam esse acesso a uma assinatura de serviço de TV à cabo. até quando poderão resistir à investida de iniciativas como a da Netflix, só o futuro dirá.

      O presente tecnológico está se movendo rápido e a minha maior bronca com o ministério da comunicação é justamente a sua impossibilidade de enxergar estes movimentos. Fico imaginando se os técnicos do ministério costumam acompanhar estes movimentos, se percebem que a deficiência da infraestrutura de comunicação é apenas a ponta do iceberg e que a balança da dominação cultural e econômica pende cada vez mais para a oferta de serviços, a qual não estamos preparados para suprir, tanto por questões tecnológicas, quanto por questões de mercado. O Ginga foi um movimento certo, porém no momento errado, porque estava veiculado a um projeto de TV Digital que demorou para sair do papel. Se a TV digital brasileira saísse 4 anos antes, talvez o Ginga vingasse. No tempo em que foi gestado, já perdia a corrida para outras tecnologias. Agora não adianta insistir em um cavalo semi-morto. O melhor é seguir em frente e procurar outras iniciativas que mirem adiante, para além do momento atual (algumas dicas: informática vestível, automatização doméstica).

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