A busca de líderes pela Microsoft e as especulações sobre Bill Gates

Da Folha
 
Busca de líder para Microsoft gera especulações sobre futuro de Bill Gates
 
Há uma questão sendo sussurrada no amplo complexo que abriga a sede da Microsoft em um subúrbio de Seattle: o que Bill Gates vai fazer?
 
O papel de Gates na Microsoft vem causando ampla fascinação desde que ele deixou suas responsabilidades cotidianas na empresa, em 2008.
 
Mas o interesse no assunto cresceu nos últimos anos devido aos tropeços da Microsoft, e se intensificou muito nas últimas semanas depois que o presidente-executivo, Steven Ballmer, anunciou que deixaria seu posto no ano que vem.
 
Funcionários e investidores relembram com carinho os momentos áureos da empresa sob Gates, um líder de imensa estatura no mundo da tecnologia e o responsável por fazer da Microsoft uma empresa dominante.
 
Alguns funcionários da Microsoft dizem ter visto Gates na sede da empresa, em Redmond, Washington, com mais frequência, desde que Ballmer anunciou sua aposentadoria, o que resulta em especulações –e talvez em uma pontinha de esperança– de que ele pode desejar assumir papel maior e devolver a empresa às alturas passadas.

 
“É impossível deixar de lado alguma coisa que você criou e liderou, e com a qual você tem tamanha identificação pessoal”, disse Ed Lazowska, professor de ciência da computação na Universidade de Washington, sobre Gates.
 
“Creio que haja chance zero de que ele reduza seu envolvimento. Se algo mudar em relação a isso, será no sentido de ele se envolver mais”.
 
MÃO FORTE
 
Quaisquer que venham a ser seus futuros deveres, Gates sempre teve mão forte no direcionamento estratégico da companhia.
 
Continua a ser presidente do conselho da Microsoft e seu maior acionista individual, e é um dos quatro integrantes do comitê que comanda a busca pelo próximo presidente-executivo.
 
A opinião dele terá mais peso do que a de qualquer outra pessoa, no processo seletivo.
 
Apesar das especulações, continua altamente improvável que Gates volte a assumir responsabilidades cotidianas maiores na empresa.
 
De acordo com diversas pessoas próximas a ele, que falaram sob a condição de que seus nomes não fossem mencionados, Gates não tem a intenção de abandonar sua carreira filantrópica e voltar a trabalhar em período integral na Microsoft. Jon Pinette, porta-voz de Gates, se recusou a comentar.
 
Ainda assim, a narrativa do fundador retornado para resgatar sua companhia continua poderosa, especialmente desde que Steve Jobs, rival de Gates, voltou à Apple e fez dela uma das mais lucrativas companhias do planeta.
 
A Microsoft vem enfrentando dificuldades em importantes mercados novos, nos últimos anos, especialmente os celulares e tablets, o que leva alguns executivos do setor de tecnologia a pedir o retorno de Gates como presidente-executivo.
 
A busca pelo substituto de Ballmer ainda está no estágio inicial. Ainda que o processo possa se acelerar subitamente, o conselho não tem pressa de agir antes do final do ano, de acordo com uma fonte informada sobre os planos de sucessão.
 
De acordo com esta e outra fonte familiarizada com a busca de um novo presidente-executivo para a Microsoft, a lista de executivos que estão em consideração para o posto inclui Alan Mullaly, o presidente-executivo da Ford; Paul Maritz, ex-executivo da Microsoft que hoje comanda a Pivotal, uma companhia de computação em nuvem; Tony Bates, atual executivo da Microsoft que chegou à empresa quando esta adquiriu o Skype; e Stephen Elop, presidente-executivo da Nokia que já anunciou sua intenção de retornar à Microsoft quando esta completar a aquisição da divisão de celulares da Nokia.
 
Frank Shaw, porta-voz da Microsoft, se recusou a comentar sobre os possíveis candidatos à presidência executiva.
 
Entre os candidatos externos, Mullaly, da Ford, é o favorito, devido ao seu sucesso em recuperar a empresa sem necessidade de um resgate do governo e sem pedir concordata, recursos a que as duas outras grandes montadoras de Detroit, General Motors e Chrysler, tiveram de apelar.
 
Mullaly não foi localizado para comentar sobre seu interesse ou desinteresse pelo posto na Microsoft. Ele não tem formação no ramo de software, o que preocupa atuais e antigos funcionários da Microsoft porque eles acreditam que a empresa necessite de alguém com forte visão tecnológica.
 
IDADE
 
Outra preocupação é a idade de Mullaly, 68, o que poderia indicar que ele não vá ficar muito tempo no cargo.
 
Mullaly sempre reiterou que pretende se manter no comando da Ford pelo menos até 2014. O conselho da montadora deve se reunir na quarta-feira e seus integrantes podem se sentir pressionados a comentar sobre as especulações, antes que elas se tornem causa de distração.
 
“Não há mudança quanto ao que anunciamos em novembro de 2012”, disse Jay Cooney, porta-voz da Ford. “Alan está concentrado em promover o progresso do plano One Ford”.
 
Nenhuma conversa sobre o futuro da Microsoft avança muito sem que o nome de Gates seja mencionado.
 
Por muito tempo a face pública da empresa e uma das pessoas mais ricas do planeta, Gates passou a dedicar suas atenções à filantropia, em 2008, concentrando boa parte de seus esforços em projetos de educação e em desafios mundiais de saúde como a luta contra o HIV.
 
Ele reduziu significativamente sua posição acionária na Microsoft, nos últimos anos, e investiu boa parte do dinheiro em atividades filantrópicas. Mas ainda detém 4,52% das ações da Microsoft, em valor de US$ 12,8 bilhões, um total superior ao de qualquer outro acionista individual. Uma década atrás, ele era dono de 10,75% da companhia.
 
Ao longo do caminho, vem se mantendo envolvido em discussões sobre produtos na Microsoft, se reunindo frequentemente com executivos da empresa.
 
Tipicamente, ele recebe informações sobre produtos dos executivos da Microsoft em seu escritório pessoal em Kirkland, subúrbio de Seattle a curta distância da sede da empresa em Redmond, dizem pessoas informadas sobre essas reuniões.
 
Elas podem acontecer uma vez por semana ou a intervalos mais longos, a depender das viagens de Gates para seu trabalho filantrópico e do fluxo de desenvolvimento de produtos na companhia.
 
Nas reuniões de produtos, ele conversa com os executivos encarregados do Windows, do serviço de buscas Bing e dos produtos Office. É visto como “alguém com visão original”, e suas sugestões são bem recebidas pelos executivos da Microsoft, diz uma pessoa familiarizada com as reuniões.
 
PRESENÇA
 
Por motivos desconhecidos, Gates compareceu a alguns briefings sobre produtos da empresa na sede da Microsoft, nas semanas posteriores ao anúncio da aposentadoria de Ballmer. Shaw diz que o tempo que Gates dedica a conversar com funcionários da empresa não mudou significativamente.
 
“O envolvimento geral de Bill com as equipes de produtos e engenharia da Microsoft se mantém consistente desde que ele assumiu seu papel atual”, diz Shaw.
 
Há uma facção de investidores e ex-funcionários da empresa que acreditam que ela precise de menos, e não mais, presença de Gates.
 
Como presidente do conselho, essas pessoas acreditam, Gates merece parte da culpa pelas dificuldades da empresa.
 
Na semana passada, surgiram reportagens de que três acionistas não identificados haviam começado a pressionar o conselho da Microsoft para que Gates deixe sua presidência, por acreditarem que ele seria um obstáculo a mudanças de estratégia sugeridas pelo novo presidente-executivo.
 
Uma campanha como essa dificilmente conseguirá forçar Gates a cortar os laços com a empresa, disseram diversas pessoas que o conhecem e conhecem a dinâmica do conselho.
 
Na última quinta-feira, o conselho da Microsoft recomendou que Gates fosse reeleito como conselheiro, de acordo com documentos que a empresa encaminhou às autoridades financeiras.
 
Decidir o papel futuro de Gates caberá em parte do novo presidente-executivo. Jeffrey Sonnenfeld, diretor associado da escola de administração de empresas da Universidade Yale, diz que seria importante para a Microsoft que o novo líder mantenha a presença de Gates.
 
“Creio que seja imensamente positiva”, ele afirma sobre a presença de Gates na companhia. “Você tem um sábio e experiente estadista que pode servir de inspiração, desde que saiba reconhecer os limites”.
 
Para muitos líderes das gerações mais novas da tecnologia, Gates continua a ser uma inspiração, uma figura ao modo de Walt Disney, um dos pais fundadores de seu setor.
 
“Quando eu era menino, Bill Gates era meu herói”, disse Mark Zuckerberg, presidente-executivo do Facebook, em discurso em uma conferência no mês passado. “Creio que ele seja um dos maiores visionários que nosso setor já teve”, afirmou na época.
 
Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

Redação

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