04 de julho

Não, hoje não vou falar aqui de Independence Day 1 e 2, dois filmes pretensiosos que evocam este dia e o transformam numa comemorativa data mundial. Os alienígenas não estão invadindo o planeta e os EUA não pretendem salvar ninguém, exceto alguns banqueiros e bilionários norte-americanos.

Falarei um pouco de King Kong. Este filme dos anos 1930 que sintetizam perfeitamente o mundo tal como ele se ajusta à psique dos governantes dos EUA.

Numa ilha distante, que poderia ser muito bem uma representação simbólica do nosso planeta, uma pequena península é separada do restante do território por uma imensa muralha. Se não foi construída por Donald Trump, uma réplica deste muro dele e de milhões de seus seguidores.

O território é dominado por homens primitivos, mas rapidamente colonizado por brancos armados que falam inglês. Qualquer semelhança com a história dos EUA é mera coincidência. Os nativos rapidamente perdem o controle de sua península, mas a conquista não satisfaz os invasores.

Impelidos pelo desejo do lucro, os brancos resolvem  conquistar o restante da ilha-mundo. Eles acreditam que podem domesticar o primata gigante chamado Kong, que pode muito bem ser um símbolo para a economia capitalista ocidental e dos conflitos armados que ela provoca. Os norte-americanos não tem se esforçado para dominar tudo em todos os lugares desde a Guerra contra a Espanha no fim do século XIX?

Como seu duplo Kong é uma besta fera terrível. Nada pode detê-lo. Ele trava duas guerras contra monstros igualmente vorazes. A semelhança entre os inimigos de Kong é evidente, ambos são répteis. O primeiro tenta devorá-lo como se fosse o  Império Alemão, o segundo se esforça por estrangulá-lo assim como o Reich Nazista fez com a Europa. Ambos são derrotados, mas a paz não pode se tornar uma realidade: o premio de Kong é roubado por um norte-americano.

Sempre que invadem o mundo, os exércitos norte-americanos retornam para sua península. Eles pretendem ficar separados dos inimigos que criaram por uma muralha. Cada base militar dos EUA é concebida como se fosse uma pequena seção deste muro que se espalha por todo o planeta, separando os norte-americanos dos outros povos. A ambição da segurança absoluta impeliu os novos adversários de Kong a construir muralhas até mesmo no espaço.

Kong, porém, é poderoso demais para ser contido por qualquer barreira. Em algum momento ele romperá o dique e entrará na península. Os nativos tinham o bom senso de cativar e de premiar Kong para mantê-lo feliz fora do mundo habitado pelos humanos. Os homens brancos pensam que podem derrotá-lo ou exibi-lo com lucro na Broadway.

No filme Kong é levado para New York, foge, recupera seu prêmio e morre ao cair do alto do Empire State Building. Como símbolo, ele não pode morrer. Kong continuará assombrando os norte-americanos enquanto eles seguirem penetrando em outras terras e construindo muros que serão inevitavelmente destruídos. A besta fera da economia capitalista, que sempre provoca guerras medonhas, não pode ser domesticada, não deve ser aguilhoada e certamente nunca será contida dentro dos limites concebidos pelo homem branco norte-americano.

Hoje é 04 de julho. Quando King Kong começará a forçar os portões dos EUA?

Fábio de Oliveira Ribeiro

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