A Saúde na contramão em Uberlândia

Por Juliana Markus*

É um consenso que o Brasil precisa avançar muito para conseguir oferecer uma assistência à saúde satisfatória a sua população.

Dentre os vários gargalos no setor saúde, tanto nos serviços públicos quanto nos privados, um se destaca: a necessidade da formação técnica dos recursos humanos nas áreas de saúde. Precisamos de mais e de melhores profissionais.  

Para equacionar essa questão são necessários investimentos constantes e de longo prazo na formação de trabalhadores a fim de que nas próximas décadas consigamos suprir essa carência que temos hoje. 

Inexplicavelmente, o município de Uberlândia, um dos maiores de Minas Gerais e do país, decidiu encerrar seus programas municipais de Residência Médica. Uma decisão na contramão das políticas nacionais.

As residências nas áreas de Cirurgia Geral, Pediatria Neonatal, Ginecologia e Clínica Médica foram criadas há pouco mais de três anos e viam se consolidando rapidamente.

Esses programas nasceram de um diagnóstico do Governo Federal de que havia poucos especialistas no Brasil, e que deveríamos estimular a continuação da formação médica vinham seu “padrão ouro”, que é a residência médica.

Claro que esses programas tinham problemas, mas nada insolúvel, tanto que eram reconhecidos e autorizados pela Comissão Nacional de Residência Médica. Funcionavam bem e estimulavam as equipes e coordenadores.

O pretexto uitilizado como justificativa (a crise financeira do município) não se sustenta, pois as bolsas dos residentes eram pagas pelo Ministério da Saúde e não houve corte de pagamento. O processo seletivo rendia dividendos aos programas. Além disso, os programas recebiam repasses de verbas do Ministério da Saúde para a sua estruturação, que deverá ser devolvido, pois não foi nem gasto ainda.

É falacioso afirmar que os residentes davam prejuízo ao Hospital Municipal. Esses profissionais que fazem residência são médicos formados e, na prática, representam uma força de trabalho adicional nos locais onde tinham suas atividades formativas, o que inclusive economizava a contratação de médicos com carteira assinada.

O que se vê na verdade é a velha sinfonia, a de que o ensino dá prejuízo.

Formar bons profissionais é árduo, sob qualquer ponto de vista tanto técnico-científico quanto no ponto de vista ético-social. Não se forma bons especialistas com cursos de final de semana.

Essa decisão é uma daquelas decisões autocráticas com justificava que são difíceis de engolir até porque num contexto de escassez de médicos especialistas na rede pública, o fechamento desses programas de residência isso significará a diminuição de oportunidades para os médicos fazerem especialização.

Transitar na contramão não é nada inteligente. E quando diz respeito à questões que envolvem a melhoria dos serviços de saúde ofertados à população chega ser irresponsável.

 

*Juliana Markus, é médica e docente da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia

Redação

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