Agora eu digo como diz o dito

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – Quem conta um conto aumenta um ponto, mas o dito nunca fica pelo não dito, já que foi dito e da forma como foi.  Luciano Hortencio diz como diz o dito, e coletou, durante toda a sua vida, as pérolas ouvidas deste povo sabido, de pessoas que usam os dizeres por décadas, ouvidas de antepassados, ou mesmo de passagem, e assumidos pela vida afora.

Foi pequeno ainda, em São Bernardo das Éguas Russas, chamado hoje somente de Russas, terra de sua família, que a caça aos ditos teve início, quando da convivência com Chico Vieira, faz tudo de sua avó Umbelina. O Chico “não dispensava um chiste” e Luciano não dispensava a prosa, anotando depois os ditos ali ouvidos.

Como a água corre pro mar, os ditados populares passaram a fazer parte de sua vida, um pouco pelo folclórico e outro tanto na tentativa de preservar a forma como são ditos, “pois a linguagem escorreita faria com que o ditado perdesse a graça ou mesmo o sentido da molecagem nela implícita ou explícita”. E se a cabra do vizinho é melhor que a minha, e a  carapuça na cabeça não me cabe, vou folheando o tomo para poder falar com conhecimento de causa, para agradar a gregos e troianos.

Luciano alerta que sua função, neste livro, foi a de catalogar, sendo que os autores são os milhares de anônimos do nosso povo, “podendo também existir algum ou outro extraído de jargões latinos, quer bíblicos ou mesmo jurídicos, adaptados à linguagem popular”. Um tiquinho de gírias cearenses, apelidos, chistes, comparações, quadrinhas jocosas e expressões de duplo sentido foram acrescentados, para dar um temperinho extra para a leitura.

Andar por estes ditos me lembra que ainda tem muita água pra correr debaixo da ponte, azeitando a memória de quem lê, que foi a de quem escreveu ou, como ele prefere dizer, quem colecionou e colocou em ordem para nosso deleite.

Já que beliscar não é pecado, vou folheando e achando chistes, vitoriosa na pescaria de termos, pois que até araruta tem seu dia de mingau. Botei água na fervura e fui destacando os alguns, arre égua mói de chifre, e fui longe!

Mas já que aqui não é a casa da mãe Joana, vou terminando, dando o brado, cortando um dobrado, e avisando aos passantes, que o livro está aqui, disponível para baixar, com a benção de Luciano Hortencio, cabra bom de música e de ditos e, cá pra nós e pro vigário que nos confessa, com predileção por preservar o que de bom existe neste país, a música e seu povo.

O livro está aqui, com capa e miolo, pronto para o deleite, cada qual com seu cada qual, buscando os termos que viveu, deleitando-se nos ditos o quanto antes, que caldo que muito ferve, perde o sabor.

Salve Luciano Hortencio, colecionador das riquezas deste nosso país! 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

66 Comentários

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  1. Salve, Salve … simplicidade!

    Isso é folclore vivo, num é? Que bom poder ter acesso a um material assim. Sabe que me fez lembrar quando pude escutar incelência para a chuva. Que coisa, que coisa! 

  2. Amiga Lourdes!

    Agora eu digo como diz o dito. Quem tem padrinho não morre pagão. Não fosse a tua fidalguice, meus ditados tomariam doril assim que eu batesse a caçuleta. Quem iria se interessar por escritos de véi turrão?

    Tô todo ancho por espiar meu  trabaim de mais de 50 eras prontinho da silva pra ser lido e relido por quem tiver vista pra ler ou mesmo escutar se não tiver mais o dom de ver a luz do dia. Minha alma está contida aqui, podes ter certeza. Apesar de ter cara de fiofó de touro, sou brincalhão e moleque. Adoro as coisas simples do povo e acho até que se aprende muito mais com os ditos do povo do que com vãs filosofias.

    Receba um abraço fraterno e agradecido do amigo

    luciano

     

    1. Caro Luciano Hortêncio, já

      Caro Luciano Hortêncio, já tivemos oportunidades de trocar algumas figurinhas musicais através deste blog. Percebi que temos diversas afinidades musicais. Sou cearense que um dia saiu da terra natal e nunca mais parou em canto nenhum. É uma pena não tê-lo conhecido nos tempos em que eu era um frequentador assíduo das paragens da velha e boêmia Praia de Iracema.

       

      Grande abraço e parabéns pelo trabalho.

      1. Amigo Barbalho!

        Quando menos esperarmos estaremos nos esbarrando e dando um abraço quebra costelas. Pode esperar que até as predas se encrontam…

         

        Abração do luciano

  3. Bem… vamos lá. A julgar

    Bem… vamos lá. A julgar pelo que ele tem trazido em matéria de música, essa outra coletânea será sensacional. Baixando… aliás: “abaixando!”

  4. luciano hortêncio!!!

    que massa, o livro, o post no blog!!

    tudo!!!

    saudade de ti, Nassif!!!

    dia 21 de março tou lançando finalmente o “sinal de cais” aqui em fortaleza, na livraria cultura! quer vir apresentar????

    apá

    1. Amiga Apá Silvino!

      Obrigado pelo gentil comentário!

      Se Deus quiser estaremos juntos curtindo o sucesso do “sinal de cais” no próximo dia 21 de março!

       

      Abração do luciano

  5. Não é nenhuma surpresa.

    O que se poderia esperar, de um “cabra da peste” como o meu amigo Luciano Hortencio, que conhecí vagamente no blog do Nassif, e tive o prazer, de conhecer pessoalmente, e com ele “prosear” lá no Bar Reseva, no último Sarau do Nassif ? Só coisa boa, e típica de alguem, que não fugiu das orígens, e não perdeu o “bonde” do tempo e do momento.

    Parabens irmão, pelo lindo trabalho.

  6. Caro Luciano, nao tive a

    Caro Luciano, nao tive a chance de ler ainda (so amanha).

    Nao tenho sombra de duvidas -extremamente comprovadas aqui no blog- que voce eh superbo!

    De fato, quase pulei de alegria no minuto exato que eu descobri que voce ja tinha escrito um livro e que eu o vou ler!!!!!!!!!!!!

    1. Amigo Ivan de Union!

      Quem ditou o livro foi o povo.

      Eu apenas tive o trabalho e a persistência de anotar todos os ditados durante minha vida, desde os dez anos de idade.

      Os ditados são do povo e ao povo devem ser distribuidos. Fico feliz por isso, aliás, felicíssimo!

       

      Abração do luciano

       

  7. Já não era sem tempo. Este

    Já não era sem tempo. Este livro tinha que sair do anonimato. Uma obra que remete às raízes do povo brasileiro, especialmente dessa maravilhosa gente nordestina. Ninguém melhor que o amigo Luciano Hortêncio para oferecer-nos este deleite literário. E ninguén melhor que a Lourdes Nassif para disponibilizar este material tão precioso. Parabéns aos dois.

    1. Amigo Júlio Vicente!

      Pronto. O bruguelim nasceu. A querida amiga Lourdes Nassif fez o parto e tá dizendo pro mundo todo que o cabecinha chata é lindão e parecido comigo. Tô todo ancho com esse curumim… 

      Você foi um dos meus maiores incentivadores pra divulgar meus ditados. Eles agora não são mais tão somente meus. Estão na internet e consequentemente no mundo todo. Espero que sirvam de alegria e diversão pra muita gente. Há muitos deles também que, mesclados com brincadeira, trazem bons ensinamentos e máximas sérias e instrutivas. É só precurar…

       

      Abração do teu amigo luciano

  8. Parabéns ao lucianohortencio!!

    Coração do zôto é ótimo, hoje li num e-mail um cinto muito e achei que a pessoa realmente estava se sentindo apertada – gosto demais de ver o português falado imprensado nas letras, suando frio, já que esta língua nossa detesta aprisionamentos. 

    Aqueles acadêmicos da ABL vão ver só: quem a paca cara compra, a paca cara pagará.

    Amigo Luciano Hortêncio grato pelo mimo, nos deste o mel. No dizer de  Alceu Valença quem tem mel dá o mel, quem tem fel dá o fel, e quem nada tem nada dá.

    Forte abraço!

     

    1. Amigo Antonio Francisco!

      Parece até que eu tava adivinhando. Todos os dias eu passava pela avenida Engenheiro Santana Júnior e prometia a mim mesmo fotografar os ditados populares alí pintados pelo sapateiro HONORATO ALVES PEREIRA, que ali expressou sua alma através dos Ditos do Povo. Um dia resolvi fotografá-los e escaneá-los, fazendo-o com a valiosa ajuda do amigo Robson  Parreira. Tal não foi minha surpresa ao ali passar, alguns meses depois e constatar que o muro não mais existia e que estava sendo construído um gigantesco empreendimento… Ainda bem que não perdi o bonde…

       

      Abraço do luciano

       

  9. Luciano, pessoa  que passei a

    Luciano, pessoa  que passei a admirar aqui no Blog, pelo seu extremo bom gosto musical e que considero um verdadeiro “oásis” entre tantas notícias muitas vezes ruins, causando até uma certa desilusão. Mas tem o “bom de notícias” para nos trazer o belo  na forma de letras, músicas e vozes. E agora , vem nos encantar novamente com seus “guardados”

    Muito obrigado amigo, e muito obrigado Nassif, 2 pessoas inesquecíveis e que graças a Deus, amam a música e as “coisas do povo”,  tanto quanto eu.

    1. Amiga Lenita!

      Obrigado pelas lindas palavras.

      Tenho muito a agradecer também à amiga Lourdes Nassif, que, com sua excelente resenha, dá ao AGORA EU DIGO COMO DIZ O DITO uma projeção que eu jamais esperaria ter. Relutei muito em publicar essa coleção exatamente pela falta de uma estrutura de divulgação. A Lourdes, através do Jornal GGN e Blog Luis Nassif Online, proporcionou-me isso de uma forma simples e maravilhosa. Agora todos podem conhecer nossos ditos, nossa maneira de falar, nosso humor e nosso cearensês, sem exclusão de ditados desse Brasil todo de meu Deus.

      Abração do luciano

  10. Só agora que vi, parabéns
     Já vi uns bem engraçados, como o “Vou quebrar seu cu com uma pedra!”, o seu trabalho vem acrescentar ao de Câmara Cascudo, lembrei dele. Na Faculdade de Artes Visuais da UFG tive uma disciplina,não me lembro o nome, onde trabalhamos estes dizeres invisíveis do povo brasileiro, essas escritas em placas de anúncios,  em caminhões, e na transmissão oral.  Parabéns por disponibilizar no blog, fostes bastante generoso ao nos presentar com isso, grande abraço Luciano Luciano HortencioOpa, agora vejo que criei um facebook que nem lembrava mais, eh do meu amigo falecido o Hortêncio Do Carmo Neto, criei esse facebook depois que ele morreu para reunir os amigos dele mas havia me esquecido que havia criado isso, vi agora por acaso,  ele gostava de citar os ditos em duas ocasiões:Quando saia para a balada dizia:  “Cobra que não anda não acha cacete” Como ele era muito popular quando alguém o sugeria que se candidatasse ao cargo de vereador ele respondia na bucha: “Vou ganhar aquilo que a Maria ganhou atrás da horta”

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=lanMgL5-Se8%5D

    1. Amigo José Carlos!

      Só tua extrtema bondade e tua amizade para comparar-me ao grande Câmara Cascudo. Quisera eu ter um pouquinho da capacidade e inteligência do grande escritor e folclorista. Muito obrigado.

      Teu ditado tem similaridade com o que diz: Vai ganhar o que Maria ganhou nas capoeiras… É muito engraçado e usadíssimo aqui em Fortaleza. O que teria Maria ganho nas capoeiras? rsrsrsrsrsrrs

       

      Abraço do luciano

  11. Salve, Luciano, mais uma

    Salve, Luciano, mais uma pérola das muitas com que nos tem presenteado.

    Muito obrigada por este livro com epitáfios populares. Adoro este assunto e me deleitarei com eles.

    Beijão procê.

    1. Amiga Nilva!

      Fico muito feliz que tenhas gostado. Parece até que estou vendo teu sorriso largo!

      ” O meu sorriso largo tomou conta do meu rosto, pois vou com todo gosto mostrar o que lhe trago.

        Além do peito em festa, da viola bem disposta.

        Além dessa seresta, com a voz que ela mais gosta.

        Trago o samba que lhe mostra, a alegria que me resta.”

       

      Abração do luciano

  12. Repetindo o já dito

    Parabéns Luciano pela obra e pela perseverança.

    Obrigado pelo inestimável presente.

    Vou terminar de degustá-lo durante o Carnaval.

    Há mais de vinte anos sou apreciador das belezas do Ceará: do alto astral e do bom humor do cearense, das belas praias, do de comê e agora, graças ao teu trabalho, também do de dizê.

    Um forte abraço,

    Derli.

    1. Amigo Derli

      Muito obrigado pelo gentil comentário.

      Venha logo outra vez ao Ceará. Como cê sabe, ” farinha pouca, meu pirão primeiro”…

      Abração do luciano

    1. Obrigado, caro Braga!

       

      Dependendo do noivo, a nubente poderá dizer:

      Agosto, mês do desgosto!

      ou ainda:

      Agosto, tudo a gosto!

       

      Muito obrigado e um abraço!

       

      luciano

  13. Cha por deus!

    Si minino!

    Você nunca aventou ou eu nunca tomei tento de que tinha um livro no forno para sair. Mas eu ja havia dado conta de seus ditados e expressões, dos quais gosto muito. Acho que “é de goreste!” essa idéia. Vou baixar aqui para ler, mas quando der, vou procurar o livro de meu amigo cabeça chata e cheia de historias de nosso povo e Pais. E la das Russas, não têm mais historia para nos livrar ? E um livro sobre a musica popular brasileira, principalmente da sua região ?

    Abração.

    1. Amiga Maria Luisa!

      AGORA EU DIGO COMO DIZ O DITO foi crescendo junto comigo. Desde menino coleciono esses ditados e resolvi enfeixá-los em forma de livro. Mandei confeccionar o boneco e coisa e tal. Ocorre que publicar-se um livro sem ter uma estrutura para divulgá-lo é muito difícil, principalmente aqui em Fortaleza. Vejo muita gente boa publicar excelentes livros e ficarem empilhados em um canto qualquer. Não tenho mais tempo para aventuras e o livro ficou mesmo no boneco. Como muitos amigos cobravam-se sempre uma publicação, em dezembro levei o boneco para minha amiga Lourdes Nassif, como um mimo natalino. Como a Lourdes é entusiasmada por natureza, vibrou com a coleçãozinha do cearense e combinamos divulgá-la através do Blog Luis Nassif Online e Jornal GGN. Meios melhores de divulgar os ditados e expressões ali contidos eu acho que não existe. Os ditados são do povo e ao povo devem ser distribuídos. É isso que estamos fazendo!

       

      Abraço do luciano

      1. frases que o vento vem às vezes me lembrar…

        Luciano, amigo querido, vou discordar de você nesse ponto. Um livro é algo que transcende uma vida. Se os grandes escritores escrevessem pensando que seus livros poderiam terminar num canto qualquer… Mas que importa ! Acho que não deveria dar tanta atenção as dificuldades de edição e de promoção, mas sim procurar nas suas lembranças, tudo o que puder para fazer um livro das raizes, por exemplo, da musica e do reprente nordestino. Do que viu e ouviu. Se não der para ser editado por uma marca conhecida, ha sempre editoras pequenas ou de universidades interessadas. Ou editara um dia. O que importa é deixar tudo isso escrito, ja que o oral aos poucos se perde. Pense nessa ideia. 

        Ah, sim, gostei muito do texto da Lourdes Nassif acima. 

      2. Sugestão

        Olá Luciano,

        Nos últimos tempos tenho adquirido, na Amazon, muitos livros de novos autores brasileiros.

        Acredito que é um excelente meio para divulgares teu, mais excelente ainda, livro.

        Um forte abraço,

        Derli.

        1. Amigo Derli!

          No AGORA EU DIGO COMO DIZ O DITO tem um ditado que diz: ou calça de veludo ou cu de fora… Acho que sou mais ou menos assim. Consigo editar vídeos, muitas vezes difíceis à medida que há que ser feita, guardando as proporções, uma verdadeira prosódia. As imagens não podem e não devem deixar de coincidir com a frase musical, etc… Consigo fazer mais algumas coisas porém, não tenho a mínima noção de como divulgar minha coleção na AMAZON ou em qualquer outro site. Não fora a amizade e boa vontade da amiga Lourdes, ele ainda estaria engavetado…

           

          Abraço agradecido do luciano

           

  14. Frases x Frases
    Oi Luciano, fico muito feliz em ver seu livro aqui, sei o quanto deu trabalho juntar estas frases que iluminam o palavriado e as converasas do nosso povo brasileiro, espero que as frases que sugeri, usadas no meu lindo Pará, tenham ajudado a engrandecer esta obra, não vejo a hora de ver seu livro nas prateleiras das livrarias brasileiras.

    1. Amigo Franklin!

      Fico feliz porque gostaste. Claro que coloquei expresões usadas no teu lindo Pará, até porque há uma infinidade de cearenses no Pará e vice versa. Nosso linguajar é próximo. Agora tem uma coisa: Não entendo  bulhufas quando falas na língua que usavas na tua taba no alto Xingu… Não consigo de jeito maneira… 🙂 🙂 🙂

      Abraço do luciano

  15. CHAMAMÉ

            LI vro

            LE va

    qual QUER

      lug AR

    voucelebrarestesorrateirolançamentohortensíticocearenselivral

    comumentrelaçamentodepingamineiraprosaboaeviolamarvada

        1. Literato Rei

          ‘Escreveu, não leu, o pau comeu’, porque ‎’escrever é fácil: você começa com uma letra maiúscula, termina com um ponto final e no meio você coloca ideias.’ – Pablo Neruda

          Sugeri, a Vosmicê, há tempos, explorar esta contida, mas insuspeita ‘queda pra prosear and poetar’.

          Eu nem sabia que suncê, Mizifio, tinha pispiado a peneirar os ditados desse povo bão – humilde e trabalhador – prá ponhar no seu panfleto hortensinteticamente refinado.

          Mr. Hemingway, orgulhoso com a arte e manha da sua formosa cópia nordestina, deve estar preocupado com esta embrionária saga literária que brota das margens do Rio Cocó com o prenúncio, que ninguém duvida, irá superá-lo em  atemporalidade, grandeza e universalidade.

          ‘Se conselho fosse bom, ninguém daria de graça’, mas, aí, vão algumas misuras pro valente escriba da praia de Iracema:

          ‘Toda arte é uma forma de literatura, porque toda arte é dizer qualquer coisa. Há duas formas de dizer – falar e ficar calado. As artes que não são a literatura são as projeções de um silêncio expressivo. Há que procurar em toda a arte que não é literatura a frase silenciosa que ela contém, ou o poema, ou o romance, ou o drama.’ – Fernando Pessoa

          ‘Pode-se escrever baixinho, como faz o Veríssimo, que ouviu muito Mario Reis para chegar àquela perfeição de texto de câmara. Outra opção é desabafar pelos cinco mil alto-falantes o que lhe vai na pena da alma, como faz o Xico Sá, que aprendeu a escrever com o Waldick Soriano. Escreva com a sonoridade que lhe aprouver, nunca com cacófatos assim ou verbos que façam o leitor perguntar para o vizinho do lado que maluquice é essa de “aprouver”. Fuja da voz passiva, da forma negativa, do gerundismo e principalmente da voz dos outros. Se falo fino, se falo grosso, ninguém tem nada com isso. O orgulho do próprio “falo”, e fazê-lo firme e com charme, é uma das chaves do ofício.’ – Joaquim Ferreira dos Santos

          ‘Escreva sempre, mesmo para não publicar. E principalmente para não publicar. Não tenha a preocupação de fazer obras primas; que de a muito já perdi, se é que um dia a tive. Mas só e simplesmente escrever, se exprimir, desenvolver um movimento interior que encontre em si próprio sua justificação…’ – Carlos Drummond de Andrade

          ‘Eu me pergunto de vez em quando quantas pessoas haveria, no tempo de Michelangelo, com a mesma capacidade que ele. Não que houvesse milhares – mas havia muitos. Agora, quem teve a coragem de sentar o rabo lá, durante quatro ou cinco anos e pintar e se matar foi ele. Então, talento é uma coisa que muitas pessoas têm – muito mais pessoas do que pensamos. Agora, a determinação de ficar oito horas por dia fazendo o negócio é que pouca gente tem. A maior parte das pessoas fica esperando a inspiração divina ditar o poema (ou qualquer obra) pra ela. Isso aconteceu com Moisés, mas já foi há dois mil e tantos anos… E, mesmo assim, aquele negócio está mal redigido, conforme nós sabemos.’ – Millôr

          Recolhendo trapos, fiapos, farrapos, fecho o pano com o decreto do grande Hemingway: ‘A obra clássica é um livro que todo mundo admira, mas que ninguém lê.’

          Deixo um prego untado procê:

          ‘Batatinha quando nasce, espalha a rama pelo chão’ ou, agora eu digo, como diz o ditado, ‘batatinha quando nasce, esparrama pelo chão?”

          Abraço arrochado!

          1. Abração, Dom JNS!

            Acho que escreveria a segunda opção, até porque tem a quadrinha que diz:

            Batatinha quando nasce esparrama pelo chão,

            E a mocinha quando mija faz no chão um buracão,

            É sinal que já tem força no bico do gavião.

             

            Feliz carnaval, meu bom amigo Dom JNS!

             

            Abraço acochado do luciano

             

          2. Assim sim!

            Tá lá no AGORA EU DIGO COMO DIZ O DITO:

            Enquanto houver língua e dedo, mulher nenhuma me mete medo!

             

            Abração do teu amigo do Ceará

            luciano

          3. É mió calá!

            Joaquim Ferreira dos Santos

            “Se falo fino, se falo grosso, ninguém tem nada com isso. O orgulho do próprio “falo”, e fazê-lo firme e com charme, é uma das chaves do ofício.’

            Escolado e Descolado Luciano

            Decifra este enigma esfingético: – ‘Se o sapo pula, como é que a rã caminha?’

            Vá pela sombra e, em caso de precisão, tome injeção de Trepissemia.

            [video:http://youtu.be/O6Isno5mOIg%5D

            Encaminharei, diligentemente, esta diatribe melódica para o multimídia em sua homenagem.

            Abs.

  16. Falando Difícil

    A Linguagem Polida, dom, 02/02/2014 – 11:14, jns

    O ladrão de patos, o bucéfalo anácrono e o economês planificado

    Entre nós há uma unanimidade. Adoramos gente que fala bonito. Manipular palavras com esmero é pura sedução. Com ela sonhamos à noite e nos cochilos diurnos. A fluência verbal abre portas. Dirime controvérsias. Conquista adeptos. O orador desenvolto solta o verbo de improviso. Cativa platéias. O que diz? Não importa. É comum ouvir o suspiro de um deslumbrado. Depois, o comentário: — Que maravilha! Como ele é culto! 

    Não captei muita coisa. Mas ele fala tão beeeeeeeeeeem. Ah! A adoração fica por conta do falar. Não do dizer. Os políticos sabem disso. Não poupam vênias e excelências. Períodos longos, vocábulos complicados, mil orações intercaladas, metáforas, desvios pra lá e pra cá, vale tudo. No final, a gente não entende o recado. Mas bate palmas. 

    Como explicar a verbolatria? “O brasileiro desconfia do que entende”, diagnosticou Nelson Rodrigues. “O brasileiro tem alma de vira-lata. Sempre se sente diminuído”, deduziu Glauber Rocha. Antonio Cândido chamou o fenômeno de deslumbramento do colonizado. É mais ou menos isto: a meia dúzia de instruídos que existiam no Brasil dos séculos 17, 18 e 19 estudaram na Europa. Chegando a Pindorama, encontravam uma população formada por analfabetos. Para quem falar? Para quem escrever? Fizeram uma mágica. O corpo ficou aqui, mas a cabeça em Lisboa, Paris ou Londres. Quando abriam a boca ou pegavam a pena, dirigiam-se a um público imaginário — culto e refinado. 

    A moda pegou. Falar bonito tornou-se obsessão. Virou motivo de gozação de escritores e humoristas. Vale lembrar a piada que ironiza Rui Barbosa. O baiano exibido ignorava o leitor ou o ouvinte e só tinha olhos para a ponta do nariz ou o próprio umbigo. Exibia erudição a quem se apresentasse a sua frente e não iria perder a oportunidade, mais uma vez:

    Ao chegar em casa, Rui ouviu um barulho estranho vindo do quintal. Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar os patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com os seus amados anatídeos, disse-lhe: 

    — Oh, bucéfalo anácrono!, não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à qüinquagésima potência que o vulgo denomina nada. 

    O ladrão, confuso, ‘prá fechar os panos’, perguntou: 

    — E aí doutor, levo ou deixo os patos? 

    Economês

    Augusto Marzagão, obcecado por falar e dizer, perdeu a paciência com as páginas de economia de jornais e revistas. Mandou às redações brincadeira publicada pela Newsweek em 1985. A revista ensina as pessoas a falar economês sem entender patavina de economia. Em outras palavras: ensina os sabidos a fazer o leitor de bobo. Como? A publicação americana agrupou, em três colunas, as seguintes palavras mágicas: 

    Coluna 1

    programação, estratégia, mobilidade, planificação, dinâmica, flexibilidade, implementação, instrumentação, retroação, projeção.

    Coluna 2

    funcional, operacional, dimensional, transacional, estrutural, global, direcional, opcional, central, logística.

    Coluna 3

    sistemática, integrada, equilibrada, totalizada, insumida, balanceada, coordenada, combinada, estabilizada, paralela. 

    E agora?

    Para fazer carreira com um discurso empolado, basta escolher ao acaso três vocábulos – um de cada coluna.

    A eleição der, por exemplo, ‘projeção transacional equilibrada’ – uma tolice que não quer dizer nada – impressiona os ‘bobos na casca do ovo’.

    Quer impressionar?

    Siga o exemplo de Rui Barbosa ou a receita da Newsweek.

    Quer dar o recado?

    Seja claro e direto como o LADRÃO DE PATOS.

    Você decide!

    O texto foi publicado no site do Senado.

  17. Poxa, Luciano…

    Não bastasse nos presentear com seu canal de músicas do youtube repleto de preciosidades e, porque não dizer, muitas delas relíquias, agora ainda oferece a todos nós uma coleção de ditos ditos por esse povo que habita por aqui desde os tempos da Terra de Santa Cruz. Bem, não sei se os verdadeiros donos dessa terra, os índios, tinham o costume de elaborar ditados. Você sabe se algum dos ditados pode ter origem indígena? 

    E que delícia a resenha da Lourdes! Vendeu bem o peixe do Luciano, deixando a gente com água na boca…

    Por falar em peixe, vou ter que sair correndo pois nesse momento estou com um olho no peixe e outro no gato; Literalmente!

    Abraço nos dois (Lu&Lu)

  18. Peço desculpas ao Editor do

    Peço desculpas ao Editor do Blog por não  conhecer Lourdes Nassif,entendendo que seja alguém de sua família.Nota-se claramente que também é do ramo.Sinto falta dos comentários de Maria Inês,para mim,a melhor analista de política do Brasil.

  19. Mas será o Bene Dito?

    Dito e digo.. o Luciano?

    O Hortêncio aqui da nossa horta? Em pessoa? Pessoa que não o Fernando?

    Pois se ainda aqui não foi dito, agora digo eu: tu é cearense, mas parece mineirim… quietim, quietim.

    Grande surpresa.

    Ah… sim… e o dito pela Lourdes também!

     

  20. Bravo !

    Bravíssimo !

    Ao Luciano, à Lourdes e ao “Seo” Nassif , três pessoas muito lindas, por dentro e por fora.

    Parabéns a todos !

    Um beijão nas faces rosadas do Luciano.

  21. Sensacional

    Sensacional Luciano

    O seu post é um ícone da nossa “curtura” Nassifista

    Alguém depois poderia “gurmetizar” os ditados, do tipo:

    subtrair a vida do ofídio e exibir o artefato de madeira que causou-lhe o óbito (matou a cobra e mostrou o pau)

    Grande abraço

  22. um homem que nunca fodeu pode ser um bom escritor?

    António Lobo Antunes: “Fernando Pessoa me aborrece até a morte”

    O eterno candidato português ao Nobel publica no Brasil ‘Não É Meia-Noite Quem Quer’

     

    JAVIER MARTÍN | Lisboa 24 SET 2015

    O escritor António Lobo Antunes, em sua casa de Lisboa na passada semana.

    O escritor António Lobo Antunes, em sua casa de Lisboa na passada semana – JOÃO MEIRELES

    Os livros devoram as paredes. “Já não cabem. Tenho que mudar para um apartamento maior”. E por que não joga fora algum? “Nunca. A maioria é muito ruim, mas não consigo. Tenho muito respeito pelos livros”. Um dos quartos do apartamento de  (Lisboa, 1942) é preenchido apenas com as traduções dos cerca de trinta livros que publicou. No estúdio escreve um professor canadense especializado em sua obra. Na Holanda, seu livro Caminho Como uma Casa em Chamas está na quarta edição, e no Brasil será publicadoNão É Meia-Noite Quem Quer (Alfaguara, com previsão de lançamento em 19 de outubro), um retrato da condição humana ambientada na guerra de libertação de Angola. Como em cada uma de suas obras, quando Lobo Antunes escreve, dói; e quando fala, também.

    Pergunta. Obrigado por receber-nos em sua casa em Lisboa, a cidade de Pessoa.

    Resposta. Não sou um fã de Pessoa.P. Caramba! O Livro do Desassossego…R. O livro do não sei o quê me aborrece até a morte. A poesia do heterônimo Álvaro de Campos é uma cópia de Walt Whitman; a de Ricardo Reis, de Virgilio. Eu me pergunto se um homem que nunca fodeu pode ser um bom escritor.http://totodenadie.blogspot.com.br/search/label/Fernando%20Pessoa

  23. Adorei

    O post e a ideia do livro.

    Ainda hoje me chegou uma denuncia, pelo twitter, de uma “queima de livros nazista” na Cultura pelo golpe. Estao apagando resultados de pesquisas, cancelando projetos e demitindo pessoas.

    Os atingidos?

    Os projetos que valorizam a(s) cultura(s) populares e, assim, empoderam (tambem politicamente) o povao.

    Dano de geraçoes!

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