Após atentado, EUA se reúnem com talibãs pela 1ª vez depois de retirar tropas

"Vamos pressionar os talibãs para que respeitem os direitos de todos os afegãos, inclusive as mulheres e meninas", informou o porta-voz dos EUA

Milhares de afegãos invadem a pista do aeroporto de Cabul para fugir do talibã; algumas pessoas sobem no topo do avião,16 de agosto Foto: Wakil Kohsar/AFP via Getty Images

da RFI

Uma delegação dos Estados Unidos se reunirá neste sábado (9) e domingo (10) em Doha, capital do Catar, com representantes do movimento islamita, informou um porta-voz do Departamento de Estado.

Os Estados Unidos mantiveram contato com os talibãs desde que o grupo tomou o controle de Cabul em agosto, após a retirada das tropas americanas, mas este será o primeiro encontro presencial.

 “Vamos pressionar os talibãs para que respeitem os direitos de todos os afegãos, inclusive as mulheres e meninas, e para que formem um governo inclusivo com um apoio amplo”, informou o porta-voz do Departamento de Estado.

“Enquanto o Afeganistão enfrenta a perspectiva de uma severa contração econômica e uma possível crise humanitária, também vamos pressionar os talibãs para que permitam às agências humanitárias o livre acesso às áreas necessitadas”, acrescentou.

O Departamento de Estado enfatizou que a reunião não indica que os Estados Unidos estejam reconhecendo o governo talibã no Afeganistão. “Temos claro que qualquer legitimidade deve ser conquistada através das próprias ações dos talibãs”, advertiu o porta-voz.

Atentado durante oração

A iniciativa foi anunciada horas depois de um atentado realizado durante a oração do meio-dia em uma mesquita xiita de Kunduz, e que deixou 55 vítimas, nesta sexta-feira.

O EI, que realizou um ataque a outra mesquita de Cabul no último domingo – com cinco mortos – assumiu a responsabilidade pelo atentado em um de seus canais do Telegram.

De acordo com a organização extremista islâmica, o suicida era chamado de “Mohammed, o uigur”, o que implica que ele fazia parte desta minoria muçulmana chinesa. Alguns de seus membros se uniram ao EI.

Segundo informações preliminares, a explosão foi cometida por um kamikaze.Esse foi o ataque mais sangrento no Afeganistão desde a retirada das tropas americanas do país, em 30 de agosto.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou “nos termos mais enérgicos” o ataque, “o terceiro contra um local religioso em menos de uma semana”

O ataque ocorreu durante a oração do meio-dia, a mais movimentada de sexta-feira, dia do descanso muçulmano. Dost Muhammad, chefe dos serviços de segurança dos talibãs em Kunduz, afirmou que “quem cometeu este ato quer semear discórdia entre sunitas e xiitas”. “Asseguramos a nossos irmão xiitas que garantiremos sua segurança e que estes ataques não vão se repetir, acrescentou.

Inimigo dos talibãs, grupo EI aumenta ataques

Desde que os talibãs tomaram o poder no Afeganistão, em meados de agosto, o braço local do EI, o EI-K (Estado Islâmico do Khorasan), multiplicou seus ataques.

Em várias ocasiões teve como alvo combatentes talibãs na província de Nangharar, no leste do país, onde o grupo jihadista tem estado muito presente desde a sua criação, em 2015.

Para os talibãs, que controlam o conjunto do Afeganistão, a principal ameaça vem do EI-K, que contaria entre 500 e vários milhares de combatentes em território afegão, segundo as Nações Unidas. Apesar de ambos serem sunitas radicais, EI e Talibã são inimigos declarados.

O EI-K também reivindicou o atentado cometido em 26 de agosto nas imediações do aeroporto de Cabul, que deixou mais de uma centena de mortos, inclusive 13 soldados americanos.

O ataque desta sexta-feira se soma a vários atentados do EI-K, que reivindicou alguns dos ataques mais sangrentos realizados nos últimos anos no Afeganistão e no Paquistão. 

O EI-K tem como alvo os muçulmanos que considera hereges, como os xiitas do grupo étnico hazara, que representa entre 10% e 20% da população afegã (cerca de 40 milhões de habitantes).

“A principal mensagem dos talibãs à população desde 15 de agosto é que restauraram a segurança pondo fim à guerra. No entanto, um atentado como este em Kunduz põe isso em dúvida em grande medida”, disse Michael Kugelman, especialista em sudeste asiático no Woodrow Wilson International Center for Scholars.

(Com informações da AFP)

Redação

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