As explicações insuficientes para a demissão da coordenadora do INPE, por Luis Nassif

A maior evidência de que a demissão de Libia foi decorrência da divulgação de estatísticas negativas é o fato de nenhum outro coordenador foi demitido nessa restruturação.

O Ministro Marcos Pontes, da Ciência, Tecnologia e Inovação, e o interventor do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) Darcton Policarpo Damião, esmeraram-se em justificar a demissão de Lubia Vinhas, responsável pelo monitoramento das queimadas na Amazônia.

Foi uma explicação bisonha. Segundo eles, está havendo uma reformulação no INPE, destinada a lhe dar reputação internacional. Aliás, a única mancha na reputação do INPE é estar sendo conduzido por interinos, sem capacitação acadêmica à altura do órgão.

A demissão de Lubia faria parte dessa restruturação. Não foi isso. A demissão foi uma decisão provavelmente do vice-presidente, general Hamilton Mourão, dentro da estratégia de esvaziar as denúncias de desmatamento.

Analise-se a exposição de ambos, pela visão interna no INPE.

1) Pontes tem um discurso padrão para todas as ocasiões. Lembra que foi astronauta e as lições que aprendeu em seu treinamento são transformadas em panaceias para curar  todos os males físicos, materiais e espirituais. A especialidade da qual mais se orgulha é ser coach. E a palavra mágica para abrir todas as engrenagens é sinergia. Não lhe pergunte como imagina a sinergia no INPE, pois ele não saberá responder.

2. O Power Point que ambos apresentaram foi claramente organizado às pressas, incompleto e improvisada. Havia muito achismo e pouca estratégia. E nenhuma palavra, nenhum diagnóstico sobre os desafios crônicos da instituição:

  • orçamentos declinantes;
  • obsolescência institucional em razão do envelhecimento de seus quadros;
  • diluição da cultura organizacional em razão da inexistência de reposição de pessoal, e;
  • obstáculos e travas impostas pelo marco legal.

3. Intencionalmente, ou por incompetência, a reestruturação mostra uma manobra para esvaziar a área ambiental. Para se alcanças a tal sinergia, colocou-se o PRODES (projeto que realiza o monitoramento por satélites), a Divisão BIG (Base de Informações Georreferenciadas), Queimadas e Adapta Brasil – os principais programas de monitoramento -, serão submetidos a uma Coordenação, Gestão de Projetos e Inovação Tecnológica, sob o comando de Mônica Oliveira. Pelo que se sabe, trata-se de uma funcionária da área de contatos, sem formação ou experiência ambiental.

4. A maior evidência de que a demissão de Libia foi decorrência da divulgação de estatísticas negativas é o fato de nenhum outro coordenador foi demitido nessa restruturação.

É importante ficar atento ao processo de seleção do novo diretor. Se deixar por conta do astronauta, é capaz que lance o INPE para o espaço.

Luis Nassif

8 Comentários

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  1. É bom lembrar algumas coisas:
    – Marcos Pontes não é nem foi astronauta. Embora o país tenha gasto milhões em seu treinamento, ele consta como visitante nos anais na estação espacial.
    – Falar em aumentar o prestígio internacional com uma reestruturação só pode ser piada. O INPE tinha prestígio, até a demissão do primeiro diretor. Com a segunda o prestígio acabou.
    – Perseguir quem apresenta resultados ruins do desmatamento só pode sair da cabeça de profundos ignorantes. Meus antigos alunos de Geoprocessamento podem apresentar resultados de taxas de desmatamento e sua evolução em algumas horas, usando imagens disponíveis gratuitamente na Internet, sem depender do INPE.

  2. Será que Bolsonaro e Mourão realmente acreditam q se o Inpe parar de divulgar informacoes negativas de desmatamento o resto do mundo nao saberá nada a respeito. Acham que os paises do primeiro mundo nao tem sistemas de monitoramento ambiental global capazes de avaliar cada metro quadrado da Amazônia. Provavelmente tem informacoes mais detalhadas que o Inpe.

  3. Que capacidade desse atual governo em provocar o rebaixamento de currículos da grande maioria de seus colaboradores e seus mais célebres seguidores.

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