As forças armadas e os “bois do pasto” do plano cruzado.

As forças armadas e os “bois do pasto” do plano cruzado.

Li a pouco numa reportagem da revista Exame, revista que é um dos arautos do liberalismo na economia, uma notícia que mais me surpreendeu devido a mesma ser o maior absurdo que só tem comparação a um fato ocorrido em outubro de 1986, o famoso caso dos “bois do pasto“ do plano cruzado. Para não dizer que estou exagerando vou colocar o título, o subtítulo e dois parágrafos básicos da reportagem:

Entenda como as Forças Armadas vão agir na greve de caminhoneiros” (Título)

Ministro Raul Jungmman disse que decreto presidencial permitirá a requisição de bens para que alimentos, produtos e insumos cheguem à população” Sub-título.

Da Redação, com AFP e Agência Brasil access time 25 maio 2018, 19h32 – Publicado em 25 maio 2018, 19h14

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O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmman, afirmou que o presidente Michel Temer deverá editar um decreto para permitir a requisição de bens, prevista na Constituição, para que alimentos, combustíveis, medicamentos e insumos cheguem à população, em todo o país.

Ele acrescentou que os militares têm o respaldo legal para assumir a direção dos caminhões dos grevistas, se assim necessário. “O artigo 5, inciso 25 da Constituição Federal permite a requisição de bens, caso se faça necessário, em condições de pilotar veículo para que o desabastecimento seja contido e voltemos a ter distribuição regular.

……”

A notícia é a criação de um fato político que seria motivo de riso se não fosse trágico. Esta notícia dando ciência que as forças armadas poderão assumir a direção dos caminhões dos grevistas para permitir a redistribuição de bens a população, lembra em muito um evento ocorrido em outubro de 1986, ainda no governo de José Sarney, que se transformou numa piada de péssimo gosto, que está em vias de se tornar algo pior do que isto, numa verdadeira tragédia anunciada.

No governo Sarney a hiperinflação estava chegando a passos largos, atingia patamares em torno de 18% ao mês, e para combater-se isto se lançou um plano de congelamento de preços chamado “Plano Cruzado”.

Além do congelamento de preços os salários foram congelados com um pequeno aumento do poder de compra e mais outros tipos de ações que em pouco tempo se mostraram ineficazes por não tocarem em princípios básicos da economia e sofrer interferência dos próprios governistas. Porém na época os brasileiros, sendo nominados “Fiscais do Sarney” ainda acreditaram no plano, que se fosse livremente modificado pelos economistas do governo durante a sua ação tinham evitado coisas bem piores que viriam mais adiante, onde a inflação chegou a atingir valores de 80% ao mês na antevéspera do famigerado plano Collor.

Mas o que estou querendo falar não é sobre a hiperinflação e os diversos planos que surgiram para combate-la (Plano Cruzado, (Plano Cruzado II, Plano Bresser, Plano Verão, Plano Collor e por último Plano Real), mas sim por um evento que foi utilizado pelos liberais contra o congelamento de preços que foi denominado os “bois do pasto”.

O plano consistia num congelamento de preços de produtos que impedia a remarcação do preço de qualquer produto, para burlar este congelamento o capital utilizou as mais diversas formas de farsas, tais como o lançamento de “novos produtos” que eram os mesmos que os anteriores maquiados, a cobrança de ágio por fora e por último a simples não entrega dos bens de consumo para forçar o fim do plano e poder remarcar os preços.

Próximo ao fim do plano os pecuaristas simplesmente deixaram os bois no pasto e se recusaram a vender, para combater isto, dentro da legislação da época alguns funcionários públicos sem experiência em manejo com o gado foram enviados a algumas explorações pastoris para cataram sem a mínima experiência várias cabeças de gado. O que aconteceu que estas cabeças de gado que foram capturadas eram de bois magros que nem estavam prontos para o abate, e mais uma vez a golpista Rede Globo, filmou uma cena em que funcionários atabalhoados correndo atrás de algumas cabeças de gado para coloca-las nos caminhões.

O resultado foi que algum tempo após, depois das eleições em que o PMDB praticamente ganhou todos os governos dos estados, o plano foi desfeito gerando um segundo surto de inflação, sucedido por outro plano e a cada plano a inflação voltava com maior vigor.

O que o governo federal está propondo agora, segundo a reportagem da Exame, é uma reprodução da cena dos “bois do pasto”, pois simplesmente algumas centenas de motoristas do exército, assumindo a direção de caminhões parados na estrada, para transportar alguma centena de caminhões, não sabendo bem para quem ou para onde talvez melancolicamente se reproduza a nova cena dos “bois do pasto” do governo Sarney.

Seria uma verdadeira repetição da história como farsa, pois se na época deste plano Cruzado o povo brasileiro tinha ainda confiança no plano econômico no novo “boi no pasto” será provavelmente a reprodução farsesca da história, com o agravante de colocar as forças armadas mais numa situação desmoralizadora do que salvadora.

 

Redação

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