As lojas Marisa podem ser a próxima Americanas?

Lojas do setor varejista começam a sentir o impacto do caso Americanas sobre as linhas de créditos. Marisa corre para renegociar dívidas

Na esteira do escândalo financeiro protagonizado pela Americanas, as lojas Marisa anunciaram dívidas que somam R$ 600 milhões e a tentativa de reestruturar a empresa e negociar com os credores mais prazo para pagamentos.

O anúncio de renegociação das dívidas da Marisa, feito em 8 de fevereiro, expôs o arrefecimento de linhas de crédito, sobretudo para as redes varejistas, fruto da desconfiança que o caso Americanas gerou no mercado.

Ao contrário das lojas Americanas, Marisa ainda não entrou com pedido de recuperação judicial. Com dívidas de R$ 600 milhões e receita de até R$ 250 milhões por mês, a loja de roupas não está no mesmo patamar de crise da Americanas.

Mas as dificuldades que as lojas Marisa enfrentam é só o começo do que deve acontecer com outras varejistas. Os bancos agora sabem do risco que é conceder crédito para o setor e o dinheiro ficará mais caro.

“Especialistas em reestruturação de dívidas e advogados afirmam que o caso Americanas afetou a confiança e a capacidade de crédito das varejistas, com impacto na cadeia de fornecedores. Pesaram o escândalo e a imprevisibilidade da insolvência da varejista agora em recuperação judicial”, resumiu a revista Infomoney.

Em entrevista ao podcast Flow, o empresário Caito Maia, dono da Chilli Beans, disse que está “revoltado” com a fraude nas Americanas justamente pelo impacto que vai gerar sobre fornecedores, redes varejista e até mesmo no desempenho econômico do Brasil em 2023.

Presidente da Marisa renuncia; ações caem na bolsa

Assim como aconteceu com a Americanas, a Marisa assistiu à renúncia do presidente da empresa, Adalberto Pereira dos Santos, às vésperas da dívida ser divulgada. Outros membros da diretoria também saíram em meio ao problema.

As ações da Marisa (AMAR3) estão em queda na bolsa de valores de São Paulo. Na quarta (8), quando a imprensa passou a noticiar a renegociação da dívida, a saída de executivos e a aprovação de uma reestruturação na empresa, os papéis da Marisa caíram 4,42%, custando R$ 1,08.

O caso Americanas, contudo, só acentuou a crise que a Marisa vem enfrentando há anos. “A ação da Marisa já perdeu 92% de seu valor desde o seu pico de preço, em fevereiro de 2020. Só nos últimos seis meses, a queda é de 59%”, anotou o UOL.

O histórico da Marisa

O processo de reestruturação vem desde 2017, mas a pandemia e a desaceleração da economia nacional (com juros altos e menor poder de compra dos brasileiros, entre outras questões) reduziram as vendas e “deterioraram a operação da empresa”, segundo a Infomoney.

Hoje, Marisa está à venda e não encontra comprador. Na lista de credores da Marisa estão bancos como Bradesco, Safra, Itaú e Caixa. Em 2021, a imprensa especulou que a própria Americanas teria interesse em algum tipo de negócio com a Marisa. Mas as duas empresas negaram.

Agora, em comunicado à Comissão de Valores Mobiliários, a Marisa informou que contratou a BR Partners para assessorar a renegociação de dívidas juntos aos bancos, e a Galeazzi Associados, para apoiar a estrutura de custos da empresa.

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3 Comentários

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  1. Existe uma questão comum a todas essas redes varejistas : o baixo crescimento econômico do Brasil. Crescimento baixo significa redução das possibilidades e da ampliação do potencial das empresas e das atividades. A queda da renda não afeta apenas famílias ou indivíduos, é uma bola de neve que vai engolindo toda a economia. Mesmo que existam setores aqui e ali que consigam sobreviver, de modo geral há perdas. Com concentração da renda em poucos lugares, perde-se a dinâmica em toda a economia e o que deixa de ser criado para a geração de riqueza. Há um aproveitamento muito abaixo do potencial econômico do Brasil e a redução do interesse de maior prazo no País. O crédito faz parte do cenário, mas só tem sentido com probabilidade boa de ser pago. Quem não recebe também não tem condições de pagar com segurança. Isso não é apenas pras pessoas físicas, é para as empresas de qualquer setor. Segundo a matéria desde 2017 as Lojas Marisa enfrentam dificuldades, e até tentam vender o negócio. Mas quem vai comprar quando o problema não apenas a administração boa ou ruim da empresa e sim o contexto de um País que praticamente é estagnado. Poder público e setor privado, estão todos de alguma forma comprometidos. O País precisa reagir, multiplicar a renda geral e as capacidades de todos os setores produtivos ou então, fechar pra balanço.

  2. A Marisa era uma empresa familiar, rica (no sentido de ter sólida situação financeira), que só vendia aos pobres e à vista. Penso que pela sua antiguidade seus donos se sucederam em família e seus negócios foram se ampliando, até que cresceram os olhos e abriram o capital da empresa. De uma loja na Rua Direita, agora as tem imensas, em todos os bairros e cidades. Quando se vê uma loja Marisa na Avenida Paulista, em prédio de esquina, cujo aluguel deve beirar milhões, e se observa que está sempre vazia, ainda que venda roupas baratas e de baixa qualidade, fica-se a dúvida: de onde sai o lucro da Marisa? As Lobrás, as Pelicanos, e outras tantas lojas já foram pro vinagre há muito, e das antigas de roupas, apenas a Besni e a C&A, acho que, enquanto grandes lojas de roupas no varejo estão sobrevivendo.

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