Bem vindo a Alemanhaiti ou Haitimanha

Enquanto a direita aplaude a aprovação da PEC 241/16 e a esquerda lamenta a derrota parlamentar, farei algo diferente. Olharei para o passado a fim de criar cenários futuros plausíveis. Sobre nosso passado não há descrição mais poderosa que aquela que foi feita por Galeano:

“Não há no mundo nenhum país tão desigual como o Brasil, e alguns analistas já estão falando em brazilização do planeta para traçar um retrato do mundo que está chegando. E ao dizer brazilização eles não se referem, por certo, à difusão internacional do futebol alegre, do carnaval espetacular e da música que desperta os mortos, maravilhas através das quais o Brasil resplandece a grande altura, mas à imposição, em escala universal, de um modelo de sociedade fundamentado na injustiça social e na discriminação racial. Nesse modelo, o crescimento da economia multiplica a pobreza e a marginalidade. Belíndia é outro nome do Brasil: assim o economista Edmar Bacha batizou este país, onde uma minoria consome como os ricos da Bélgica, enquanto a maioria vive como os pobres da Índia.” (De pernas pro ar – A escola do mundo ao avesso, Eduardo Galeano, L&PM Pocket, Porto Alegre, 2011, p. 30)

A PEC de Michel Temer, aprovada em primeira votação na Câmara dos Deputados, vai fazer o Brasil voltar a ser uma Belíndia? Duvido muito, pois o padrão de vida na Índia daqui a 20 anos será certamente bem melhor do aquele que existirá no Brasil. Afinal, ao contrário do governo brasileiro, o governo indiano é nacionalista. Seria impossível à Índia entregar suas reservas minerais aos norte-americanos como o Brasil está entregando o Pré-Sal.

Ao contrário dos brasileiros (que consomem filmes e seriados norte-americanos), os indianos valorizam sua própria produção cultural. Bollywood já produz mais filmes anualmente que Hollywood. O cinema brasileiro, todavia, tende a perecer em razão da falta de investimentos estatais. No futuro haverá espaço para o nacionalismo indiano na Índia. No Brasil só haverá espaço para um patriotismo norte-americano semelhante ao de José Serra.

Os ricos brasileiros não voltarão a consumir como os belgas, pois eles não deixaram de fazer isto durante os governos Lula e Dilma. O mais provável é que no futuro os ricos sejam ainda mais ricos e passem a consumir como seus duplos na Alemanha, enquanto os pobres brasileiros afundam numa miséria estrutural pior do que aquela que existia em 2001.

Uma coisa é certa, daqui a 20 anos o Haiti provavelmente estará numa situação igual ou pior do que na atualidade. Ninguém quer investir naquele país, nem os ricos haitianos. Em consequencia da PEC de Michel Temer, daqui a duas décadas os pobres brasileiros serão tão ou mais pobres que os haitianos.

Portanto, o projeto de Temer não é recriar a Belíndia de Edmar Bacha. O que ele criará será a Alemanhaiti ou o Haitimanha, país dividido por muros e muralhas. De um lado riqueza, opulência e conforto. Do outro, miséria e desesperança. Entre ambos uma PM cada vez mais homicida. O tráfico de drogas vai explodir, pois a única forma de manter os miseráveis desorganizados e desligados do mundo é oferecendo a eles a ilusão química.

Numa distopia perfeita, com aquela desejada por Temer e seus amigos, o mesmo Estado que se recusa a dar educação e assistência médica a todos os cidadãos fornecerá crack gratuitamente aos miseráveis. Os pastores abocanharão verbas estatais para cuidar de inesgotáveis legiões de viciados e isto certamente irá garantir uma fonte inesgotável de riqueza e poder para as Igrejas Evangélicas.

Os Templos lucrarão com a miséria e com a explosão do vício em drogas. Os Bancos e investidores manterão a distância social entre ricos e pobres drenando através de juros extorsivos os recursos estatais que poderiam ser utilizados para libertar o país da armadilha criada em 2016. Este é um futuro possível. Antes disto, porém, seremos sacudidos por uma guerra civil que inundará o país de sangue. 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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