Bitcoin

Folha.

Engenheiro de 64 anos nega ser criador da moeda virtual Bitcoin

Damian Dovarganes – 6.mar.2014/Associated Press
Dorian S. Nakamoto foi apontado pela revista Newsweek como criador dos Bitcoins. Ele nega.
Dorian S. Nakamoto foi apontado pela revista Newsweek como criador dos Bitcoins. Ele nega.

DE SÃO PAULO

07/03/2014 12h55

Dorian Prentice Satoshi Nakamoto disse nesta quinta-feira (6) que não é o criador do Bitcoin, aumentando o mistério que se tornou a moeda virtual mais popular do mundo.

A negativa veio depois que a revista “Newsweek” publicou uma matéria de capa afirmando que Nakamoto é a pessoa que escreveu os códigos que criaram os Bitcoins.

Em uma entrevista excluisva de duas horas à Associated Press, Nakamoto, 64, negou ter qualquer relação com a moeda e disse que não tinha ouvido falar de Bitcoins até seu filho ser contatado por uma repórter da Newsweek, há três semanas.

Nakamoto admitiu que muitas da informações da reportagem da Newsweek estão corretas, inclusive a de que ele trabalhou como contratado militar e de que seu nome de batismo era Satoshi. Mas negou veementemente a afirmação de que ele seria “a cara por trás do Bitcoin”.

“Não tenho nada a ver com isso”, disse várias vezes.

A “Newsweek” continua sustentando a história que publicou, que marcou o relançamento de sua edição impressa depois de um hiato de 15 meses e a reorganização da publicação sob nova direção.

ORIGEM DOS BITCOINS
Desde o nascimento do Bitcoin em 2009, a identidade do criador da moeda permanece um mistério. A pessoa –ou o grupo de pessoas– por trás da origem do dinheiro virtual ficaram conhecidas apenas por “Satoshi Nakamoto”, nome que muitos creem se tratar de um pseudônimo.

A popularidade do Bitcoin é crescente entre entusiastas da tecnologia, libertários e investidores de alto risco porque a moeda permite fazer transações, comprar mercadorias e trocar dinheiro com outros países sem envolver bancos, operadoras de cartão de crédito, ou outros terceiros. Criminosos gostam do Bitcoin pelo mesmo motivo.

Por várias razões técnicas, é difícil saber quantas pessoas no mundo possuem Bitcoins, mas a moeda atraiu grande atenção da mídia e o fascínio de milhões, enquanto um número crescente de varejistas como começou a aceitá-la.

Especuladores também entraram na confusão dos Bitcoins, levando a cotação da moeda a oscilar violentamente nos últimos meses. Em dezembro, o valor do Bitcoin atingiu seu maior valor na história, de US$ 1.200. Na quinta-feira (6) estava em US$ 665, de acordo com o site bitcoincharts.com. Blogueiros especulam que o criador dos Bitcoins tem centenas de milhões de dólares em Bitcoins.

SEM SOSSEGO
Depois que a “Newsweek” postou a história em seu site, Nakamoto disse que sua casa foi bombardeada por ligações. No meio da manhã, uma dúzia de repórteres estavam esperando na frente de um modesto sobrado em uma rua residencial de Temple City, na Califórnia, onde ele vive. Nakamoto apareceu pouco depois do meio dia dizendo que falaria apenas com um repórter e pedindo um “almoço grátis”.

Durante o caminho no carro e depois no almoço no escritório da AP em Los Angeles, Nakamoto falou extensamente sobre sua vida, carreira e família, tocando em vários pontos da reportagem da “Newsweek”.

Ele também disse que uma parte chave da matéria, em que ele é citado dizendo para a repórter “Eu não estou mais envolvido nesse assunto e não posso mais discuti-lo”, foi um mal entendido. Nakamoto disse que é nativo de Beppu, no Japão, mas foi para os Estados Unidos ainda criança, em 1959. Ele fala inglês e japonês, mas seu inglês não é perfeito. Perguntado se disse o que constava na reportagem, respondeu: “não”.

“Eu estava dizendo que não era mais engenheiro. Era isso”, disse. “E mesmo que eu ainda fosse, quando somos contratados, temos que assinar um contrato dizendo que você não vai revelar nada durante nem depois do emprego. Isso que eu quis dizer”.

“Soou como se eu estivesse envolvido antes com o Bitcoin e não estivesse mais envolvido agora. Não foi o que eu quis dizer. Quero deixar isso claro.” disse.

A repórter Leah McGrath Goodman, que passou dois meses pesquisando a história, disse à AP: “Eu sustento completamente [o que disse sobre] o diálogo que tive com o Sr. Nakamoto. Não houve confusão alguma sobre o contexto de nossa conversa –tampouco sobre sua admissão de envolvimento com o Bitcoin.”

A revista chegou à sua tese ao constatar a semelhança entre supostas características do criador dos Bitcoins tais quais nome, histórico de educação, carreira, inclinação anti-governo e estilo de escrita, com Nakamoto. A publicação também citou a ex-mulher e outros familiares de Nakamoto que disseram não ter certeza de que ele era o criador do Bitcoins.

Várias vezes durante a entrevista com a AP, Nakamoto erroneamente se referiu à moeda digital como “bitcom” e tratou-a como se pertencesse a uma única empresa, o que não é verdade. Ele disse que nunca ouviu falar de Gavin Andersen, desenvolvedor-chefe da Fundação Bitcoin que disse à “Newsweek” ter trabalhado com a pessoa ou entidade conhecida como Satoshi Nakamoto para desenvolver o sistema, sem que nunca tivessem se encontrado ou falado ao telefone.

Quando viu a proposta original do Bitcoin, que a “Newsweek” linkou à sua matéria, Nakamoto disse que não a escreveu e que não é dono do endereço de e-mail que consta no documento. “‘Peer-to-peer [“pessoa a pessoa”, método de pagamentos usado pelo Bitcoin] pode ser qualquer coisa”, disse. “É só uma questão de endereço. Que coisa é essa? Não faz sentido para mim.”

Perguntado se seria tecnicamente capaz de ter a ideia para o Bitcoin, Nakamoto respondeu: “[Se teria] capacidade? Sim, mas qualquer programador teria”.

O mais perto que Nakamoto chegou de trabalhar com sistema financeiro, disse, foi um projeto para o Citibank com uma empresa chamada Quotron, que provia uma ferramenta para mostrar preços de ações em tempo real para corretoras. Nakamoto disse que trabalhou no software por quatro anos, começando em 1987.

“Aquilo não tinha nada a ver com driblar instituições financeiras”, disse.

Nakamoto disse que acredita que ou alguém inventou o nome ou especificamente tentou atingi-lo para que fosse confundido com o criador da moeda.

Ele também disse que não discute sua carreira porque, em muitos casos, seu trabalho era confidencial. Quando trabalhava na Hughes Aircraft, a partir de 1973, trabalhou em sistemas de mísseis para a Marinha e Aeronáutica dos EUA. Ele também disse que começou a trabalhar para a Administração Federal de Aviação dos EUA em 1999, mas saiu depois do atentado de 11 de setembro, em 2001.

Ser contratado por uma firma militar foi o motivo pelo qual ele se candidatou, e conseguiu, a cidadania americana. Por volta daquele tempo, ele decidiu mudar seu nome, adicionando o “Dorian Prentice” a Satoshi Nakamoto –em parte porque soava mais ocidental. Ele disse que escolheu “Dorian” porque significa “um homem simples” e se referia aos gregos antigos. “Prentice” alude à sua afinidade pelo aprendizado, disse.

Enquanto examinava a reportagem da Newsweek, Nakamoto repetidamente dizia “Ah, meu Deus” enquanto lia detalhes pessoais seus, citações de familiares e até especificidades de seu histórico médico. “Quando tempo esse circo da imprensa vai durar?”, perguntou.

 

Redação

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