Brioches com Doriana

 

As mariantonietices não eram nem são privilégio da Maria Antonieta. A frase “Que comam brioches” não é fruto de insensibilidade ou crueldade, ela de fato achava que, se não havia pão, pois ora, que comessem brioches, qual é o problema? Esse descolamento total da realidade social não é uma exceção, mas a regra de todas as classes dominantes ao longo de toda a história. A acumulação de riqueza e poder leva o indivíduo a perder completamente a noção da realidade. Nos píncaros do poder real vive-se, literalmente, num mundo de fantasia.

A peculiaridade do capitalismo é que o poder da classe dominante é delegado cada vez mais a profissionais como os políticos de carreira e os CEOs das empresas. No capitalismo, o único poder que o capitalista exerce diretamente na vida social coletiva é contratar ou demitir diretores executivos e conselhos diretivos, financiar ou deixar de financiar este ou aquele político. Toda a gestão da sociedade capitalista é feita por empregados de um tipo ou de outro, mais ou menos bem pagos, e a única medida de bem estar social acessível aos donos do mundo são os bons ou maus resultados financeiros do ano e o volume da distribuição de dividendos.

Essa delegação de poderes evita, entre outras coisas, que indivíduos cujo contato com a realidade é nulo tomem decisões como a celebração do Tratado de Methuen entre Portugal e Inglaterra, que, protegendo os interesses dos grandes senhores feudais que não tinham a menor ideia do que era o capitalismo e nutriam um profundo desprezo pelo comércio e por todos os que o exerciam, condenaram o império português à decadência inexorável, assistindo com perplexidade como o ouro do Brasil fluía para as mãos dos ingleses em troca daqueles panos horríveis e grosseiros que o populacho, inexplicavelmente, preferia usar para fazer as suas roupas. Evita também, na maior parte das vezes, que esses aleijões sociais se envolvam diretamente, em pessoa, na gestão da sociedade. Os poucos que escapam a esse controle são justamente os mais despistados, os que não têm sequer a consciência de que não sabem nada sobre o manejo da sociedade e as necessidades dos seus súditos, e acham que têm a solução perfeita para garantir o suprimento de brioches. São os Trump e os Dória que a cada tanto se aventuram na vida política, e invariavelmente dão co’s burros n’água.

É só esperar pra ver.

Redação

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