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Lourdes Nassif
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  1. COVID-19 in Brazil: “So what?” The Lancet
    https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(20)31095-3/fulltext

    A pandemia do coronavírus de 2019 (COVID-19) chegou à América Latina mais tarde que outros continentes. O primeiro caso registrado no Brasil foi em 25 de fevereiro de 2020. Mas agora, o Brasil tem o maior número de casos e mortes na América Latina (105 222 casos e 7288 mortes em 4 de maio), e estes provavelmente são subestimados substancialmente. Ainda mais preocupante, a duplicação da taxa de mortes é estimada em apenas 5 dias e um estudo recente do Imperial College (Londres, Reino Unido), que analisou a taxa de transmissão ativa da COVID-19 em 48 países, mostrou que o Brasil é o país com a maior taxa de transmissão (R0 de 2-81). Grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro são os principais focos de transmissão agora, mas há preocupações e sinais precoces de que as infecções estão se deslocando para o interior para cidades menores com provisão inadequada de leitos de terapia intensiva e ventiladores. No entanto, talvez a maior ameaça à resposta do Brasil à COVID-19 seja seu presidente, Jair Bolsonaro.
    Quando perguntado por jornalistas na semana passada sobre o rápido aumento do número de casos da COVID-19, ele respondeu: “E daí? O que você quer que eu faça”? Ele não só continua a semear confusão ao desrespeitar abertamente e desencorajar as medidas sensatas de distanciamento físico e bloqueio trazidas pelos governadores de estado e prefeitos das cidades, mas também perdeu dois ministros importantes e influentes nas últimas 3 semanas. Primeiro, em 16 de abril, Luiz Henrique Mandetta, o respeitado e querido ministro da Saúde, foi demitido após uma entrevista na televisão, na qual criticou fortemente as ações de Bolsonaro e pediu unidade, caso contrário corre o risco de deixar os 210 milhões de brasileiros totalmente confusos. Então, em 24 de abril, após a demissão do chefe da Polícia Federal pelo Bolsonaro, o ministro da Justiça Sérgio Moro, uma das figuras mais poderosas do governo de direita e nomeado pelo Bolsonaro para combater a corrupção, anunciou sua demissão. Tal desordem no coração da administração é uma distração mortal em meio a uma emergência de saúde pública e é também um forte sinal de que a liderança brasileira perdeu sua bússola moral, se é que alguma vez a teve.
    Mesmo sem o vácuo das ações políticas em nível federal, o Brasil teria dificuldades para combater a COVID-19. Cerca de 13 milhões de brasileiros vivem em favelas, muitas vezes com mais de três pessoas por sala e pouco acesso a água potável. O distanciamento físico e as recomendações de higiene são quase impossíveis de serem seguidas nesses ambientes – muitas favelas se organizaram para implementar medidas da melhor forma possível. O Brasil tem um grande setor de trabalho informal, com muitas fontes de renda, não é mais uma opção. A população indígena tem estado sob grave ameaça mesmo antes do surto da COVID-19 porque o governo tem ignorado ou mesmo incentivado a mineração e o corte ilegal de madeira na floresta amazônica. Estes madeireiros e mineradores correm agora o risco de levar a COVID-19 a populações remotas. Uma carta aberta em 3 de maio por uma coalizão global de artistas, celebridades, cientistas e intelectuais, organizada pelo fotojornalista brasileiro Sebastião Salgado, adverte sobre um genocídio iminente.
    O que a comunidade de saúde e ciência e a sociedade civil estão fazendo em um país conhecido por seu ativismo e oposição franca à injustiça e à desigualdade e com a saúde como um direito constitucional? Muitas organizações científicas, como a Academia Brasileira de Ciências e a ABRASCO, há muito tempo têm se posicionado como Bolsonaro por causa de cortes severos no orçamento da ciência e de uma demolição mais geral da previdência social e dos serviços públicos. No contexto da COVID-19, muitas organizações lançaram manifestos dirigidos ao público – como o Pacto pela Vida e o Brasil – e escreveram declarações e apelos aos funcionários do governo pedindo unidade e soluções conjuntas. Batedeiras de varandas como protesto durante os anúncios presidenciais acontecem com freqüência. Há muita pesquisa em andamento, da ciência básica à epidemiologia, e há uma rápida produção de equipamentos de proteção individual, respiradores e kits de testes.
    Estas são ações esperançosas. No entanto, a liderança no mais alto nível de governo é crucial para evitar rapidamente o pior resultado desta pandemia, como é evidente em outros países. Em nossa série Brasil 2009, os autores concluíram: “O desafio é, em última análise, político, exigindo o envolvimento contínuo da sociedade brasileira como um todo para garantir o direito à saúde de todo o povo brasileiro”. O Brasil como país deve se unir para dar uma resposta clara ao “E daí?” de seu Presidente. Ele precisa mudar drasticamente de rumo ou deve ser o próximo a ir.

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