Covid-19 – Como sair da crise?, por Felipe A. P. L. Costa

Em números absolutos, os 20 países mais afetados seguem a concentrar 78% dos casos (de um total de 136.174.000) e 81% das mortes (de um total de 2.938.740)

Covid-19 – Como sair da crise? Reino Unido, França, EUA e outros países comunistas estão a apontar o caminho.

Por Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. – Este artigo atualiza as estatísticas mundiais a respeito da pandemia da Covid-19 divulgadas em 5/4 (aqui). No caso específico do Brasil, o artigo também atualiza os valores das taxas de crescimento (casos e mortes) divulgados em 8/4 (aqui). Entre 5 e 11/4, essas taxas ficaram em 0,54% (casos) e 0,91% (mortes). No ritmo atual, o país irá contabilizar 14.533.969 casos e 400.902 mortes até o último domingo de abril (25/4). Embora o Palácio do Planalto continue a apostar na confusão e no malfeito, há como estancar e reverter essas tendências macabras. Não há mistério. Basta seguir o exemplo de cidades, estados ou países ‘comunistas’ (e.g., Reino Unido, França e Estados Unidos) que venceram ou estão a vencer a pandemia.

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1. UM BALANÇO DA SITUAÇÃO MUNDIAL.

Levando em conta as estatísticas obtidas no fim da manhã desta segunda-feira (12/4) [1], eis um quadro da situação mundial.

(A) Em números absolutos, os 20 países [2] mais afetados seguem a concentrar 78% dos casos (de um total de 136.174.000) e 81% das mortes (de um total de 2.938.740) [3].

(B) Entre esses 20 países, a taxa de letalidade caiu de 2,3% para 2,2%. A taxa brasileira subiu de 2,5% para 2,6%. (Os outros três países da América do Sul que estão no topo da lista têm as seguintes taxas: Argentina, 2,3%, Colômbia, 2,6%, e Peru, 3,3%.)

(C) Nesses 20 países, 80 milhões de indivíduos receberam alta, o que corresponde a 75% dos casos. Em escala global, 102 milhões de indivíduos já receberam alta.

2. O RITMO ATUAL DA PANDEMIA NO PAÍS.

Ontem (11/4), de acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados em todo o país mais 37.017 casos e 1.803 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 13.482.023 casos e 353.137 mortes.

Em números absolutos, ambas as estatísticas escalaram em relação aos números anteriores. Vejamos.

Foram registrados 497.067 novos casos – um aumento de 10% em relação à semana anterior (450.268). Foi a 19ª semana com mais de 300 mil novos casos – 14 dessas semanas foram registradas em 2021.

Desgraçadamente, porém, atingimos um novo patamar no número de mortes: 21.704 – 13% a mais que o recorde anterior (19.227, entre 29/3 e 4/4). Foi a 21ª semana com mais de 7 mil mortes – 13 dessas semanas foram registradas em 2021.

3. TAXAS DE CRESCIMENTO.

Os números absolutos e os percentuais referidos acima pouco ou nada dizem sobre o ritmo e o rumo da pandemia [4]. Para tanto, tenho usado como guia as taxas de crescimento no número de casos e de mortes.

Vejamos os resultados mais recentes.

Em comparação com os valores da semana anterior (29/3-4/4), as médias da semana passada (5-11/4) mostraram tendências de alta (ver a figura que acompanha este artigo).

A taxa de crescimento no número de casos subiu de 0,5% (29/3-4/4) para 0,54% (5-11/4) – estamos a patinar entre 0,5% e 0,6% desde a segunda quinzena de janeiro [5].

A taxa de crescimento no número de mortes subiu de 0,86% (29/3-4/4) para 0,91% (5-11/4) – é o maior percentual desde meados de agosto (ver a figura que acompanha este artigo) [5, 6]!

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FIGURA. A figura que acompanha este artigo ilustra o comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 28/6/2020 e 11/4/2021. (Valores acima de 2% não são mostrados.) As médias mais baixas das duas séries (casos e mortes) foram observadas entre 11/10 e 8/11, razão pela qual o período é referido aqui como o ‘melhor mês’. Logo em seguida, porém, note como as duas nuvens de pontos experimentaram rupturas e mudaram de rumo. E note como o apagão que houve na divulgação das estatísticas, na segunda quinzena de dezembro, rebaixou artificialmente as duas trajetórias.

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4. CODA.

No ritmo atual, o país irá contabilizar 14.533.969 casos (em vez dos 14.931.329 previstos anteriormente) e 400.902 mortes (em vez das 396.797 previstas anteriormente) até o último domingo de abril (25/4).

Embora o Palácio do Planalto continue a apostar as suas fichas na confusão e no malfeito, há como estancar e reverter essas tendências macabras. Não há mistério. Basta seguir o exemplo de cidades, estados ou países ‘comunistas’ (e.g., Reino Unido, França e Estados Unidos) que venceram ou estão a vencer a pandemia.

O recado para governadores, prefeitos e lideranças empresariais de boa-fé cabe em uma frase: A saída para a crise depende da adoção de medidas efetivas de proteção e confinamento [7].

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NOTAS.

[*] Há uma campanha de comercialização em curso envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço [email protected]. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Vale notar que certos países atualizam suas estatísticas uma única vez ao longo do dia; outros atualizam duas vezes ou mais; e há uns poucos que estão a fazê-lo de modo mais ou menos errático. Alguns países europeus (e.g., Suécia, Suíça e Espanha) insistem em não divulgar as estatísticas em feriados e fins de semana. A julgar pelo que informam os painéis, o comportamento da Suécia tem sido particularmente surpreendente e vexatório. Acompanho as estatísticas mundiais em dois painéis, Mapping 2019-nCov (Johns Hopkins University, EUA) e Worldometer: Coronavirus (Dadax, EUA).

[2] Os 20 primeiros países da lista podem ser arranjados em cinco grupos: (a) Entre 30 e 32 milhões de casos – Estados Unidos; (b) Entre 12 e 14 milhões – Índia e Brasil; (c) Entre 4 e 6 milhões – França, Rússia e Reino Unido; (d) Entre 2 e 4 milhões – Turquia, Itália, Espanha, Alemanha, Polônia, Colômbia, Argentina, México e Irã; e (e) Entre 1,5 e 2 milhões – Ucrânia, Peru, Tchéquia, Indonésia e África do Sul.

[3] Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março, em escala mundial e nacional, ver os cinco volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

[4] Arrisco dizer que a pandemia chegará ao fim sem que a imprensa brasileira (grande parte dela, ao menos) se dê conta de que está monitorando a pandemia de um jeito, digamos, desfocado – além de burocrático e bastante superficial. Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento – seja do número de casos, seja do número de mortes. Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março, em escala mundial e nacional, ver referência citada na nota 4.

[5] Entre 19/10 e 11/4, as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,43% (19-25/10), 0,4% (26/10-1/11), 0,3% (2-8/11), 0,49% (9-15/11), 0,5% (16-22/11), 0,56% (23-29/11), 0,64% (30-6/12), 0,63% (7-13/12), 0,68% (14-20/12), 0,48% (21-27/12), 0,47% (28/12-3/1), 0,67% (4-10/1), 0,66% (11-17/1), 0,59% (18-24/1), 0,57% (25-31/1), 0,49%(1-7/2), 0,46% (8-14/2), 0,48% (15-21/2), 0,53% (22-28/2), 0,62% (1-7/3), 0,59% (8-14/3), 0,63% (15-21/3), 0,63% (22-28/3), 0,5% (29/3-4/4) e 0,54% (5-11/4); e (2) mortes: 0,3% (19-25/10), 0,26% (26/10-1/11), 0,21% (2-8/11), 0,3% (9-15/11), 0,29% (16-22/11), 0,3% (23-29/11), 0,34% (30-6/12), 0,36% (7-13/12), 0,42% (14-20/12), 0,33% (21-27/12), 0,36% (28/12-3/1), 0,51% (4-10/1), 0,47% (11-17/1), 0,48% (18-24/1), 0,48% (25-31/1), 0,44%(1-7/2), 0,47% (8-14/2), 0,43% (15-21/2), 0,48% (22-28/2), 0,58% (1-7/3), 0,68% (8-14/3), 0,79% (15-21/3), 0,86% (22-28/3), 0,86% (29/3-4/4) e 0,91% (5-11/4).

Não custa lembrar: Os valores citados acima são médias semanais de uma taxa diária. Outra coisa: para fins de monitoramento, é importante ficar de olho nas taxas de crescimento (casos e mortes), não em valores absolutos. Considere uma taxa de crescimento de 0,5%. Se o total de casos no dia 1 está em 100.000, no dia 2 estará em 100.500 (= 100.000 x 1,005) e no dia 8 (uma semana depois), em 103.553 (= 100.000 x 1,0057; um acréscimo de 3.553 casos em relação ao dia 1); se o total no dia 1 está em 4.000.000, no dia 2 estará em 4.020.000 e no dia 8, em 4.142.118 (acréscimo de 142.118); se o no dia 1 o total está em 10.000.000, no dia 2 estará em 10.050.000 e no dia 8, em 10.355.294 (acréscimo de 355.294). Como se vê, embora os valores absolutos dos acréscimos referidos acima sejam muito desiguais (3.553, 142.118 e 355.294), todos eles equivalem ao mesmo percentual de aumento (~3,55%) em relação aos respectivos valores iniciais.

[6] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, consulte qualquer um dos três primeiros volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado (ver nota 3).

[7] É um erro imaginar que a saída para a crise será pavimentada pela campanha de vacinação, mesmo na hipótese de que ela saía do marasmo em que se encontra. Como alertei em artigos anteriores, os efeitos da vacinação só serão percebidos – na melhor das hipóteses – quando mais da metade dos brasileiros tiver sido vacinada. E tal não ocorrerá antes do segundo semestre. E mais: Devemos tomar cuidado com as armadilhas mentais que cercam a campanha de vacinação. Três das quais seriam as seguintes: (1) a imunização individual não é instantânea nem nos livra de continuar adotando as medidas de proteção social (e.g., distanciamento espacial e uso de máscara); (2) a imunização coletiva só será alcançada depois que a maioria (> 75%) da população tiver sido vacinada; e (3) a população brasileira é grande, de sorte que a campanha irá demorar vários meses (mais de um ano, talvez).

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Redação

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