…da negação da realidade psíquica como mecanismo de fuga…

…da negação da realidade psíquica como mecanismo de fuga…
(O magnífico filme “Um homem bom” como exemplo…)
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Convivo com familiares e amigos que aprendi a amar e admirar no que cabe. A maioria deles encaixa-se perfeitamente no que venho chamando há anos como “o rebanho tosco”.
Escrevo isso apenas em meu mural, jamais me permitiria invadir espaços alheios para impingir um pensamento meu, algo que minha RACIONALIDADE e minha ética me obrigam a dizer, a DENUNCIAR na verdade, como teria feito se morasse no sul dos EUA da década de 60, quando explodiu de vez o ódio racista ou na Alemanha nazista. Em ambos desses ambientes sociais, como no Brasil de hoje, a elite e classes médias dessas localidades não perceberam o fenômeno do “arrebanhamento” a que foram submetidos, a perda deplorável de princípios e valores de vida, a incoerência entre o que eram nas suas “relações normais” – educados, civilizados, tolerantes… – e no que se transformavam nas relações, pensamentos, ações, falas, diante das pessoas / grupos sociais transformados no “SATANÁS” de suas almas.
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Essas pessoas, por ingenuidade, cegueira mental, cinismo, vários motivos, foram e são INCAPAZES de perceber essas incoerências, e tratam tudo como “política” ou “um movimento social que abracei”, não enxergam as fraturas internas em si mesmas, a decadência mental, espiritual, moral, de que fazem parte.
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Foi só a partir do que vi e vivi no Brasil de hoje, que apreendi a essência da expressão consagrada por Hannah Arendt, a “banalização do mal”, quando, perplexa, vendo “de perto” os nazistas, enxergou neles pessoas comuns, que misturavam em si a abrangência dos sentimentos e características humanos, não eram “monstros” no sentido da “INCAPACIDADE DE VIVENCIAREM HUMANIDADES…” – um misto de ESCOLHA e processo mental perverso levou-as ao nazismo como opção de vida.
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E se estudamos os processos sociais PERVERSOS, baseados em intolerâncias, medos, preconceitos, fanatismos, ódio, percebemos que uma MINORIA engaja-se em seu extremo de perversidade, enquanto a maioria “segue o rebanho”, não encontrando dentro de si mesmos motivos e/ou força para questionarem aquele horror, que PELA FORÇA DA PROPAGANDA MASSACRANTE, passa a ser digerido, vivido, pensado, sentido, “como se normal fosse….”
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É a figura do “fascista-light”, que podemos ver no nazista “bom” que apoiava o movimento, mas não cuspia nem batia em judeus (posso vê-lo pensando algo do tipo: “eu jamais seria capaz de chegar a esse ponto….”) e se horrorizou – provavelmente de verdade, quando já era tarde demais…. – quando soube dos assassinatos em massa dos judeus no Holocausto.
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Do mesmo modo, posso muito bem imaginar milhões de brancos americanos, “apenas um pouco racistas”, não violentos, mas a favor de ônibus para brancos e outro para negros, a favor dos casamentos apenas entre as mesmas raças, etc. etc. – e. igualmente sentindo-se “pessoas melhores que os radicais”, porque “eu jamais bateria em um negro….”
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Também aqui, no Brasil, percebo claramente esse mecanismo de fuga, de negação, nos brasileiros que ABRAÇARAM O MOVIMENTO ANTIPETISTA como causa social e pessoal, “de forma light” – incapazes de chamar Lula de “Nine”, não usam o termo “petralhas”, não cometem falas e gestos violentos, agressivos, mas apoiaram vigorosamente todo o processo de SATANIZAÇÃO da figura política e HUMANA de Lula, Dilma e o PT enquanto um LEGÍTIMO PARTIDO POLÍTICO, uma força social merecedora de voz, respeito, e a disputa do PODER pelo caminho sagrado do VOTO, numa democracia plena.
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É aí que “o bicho pega” para essa turma, e a “banalização do MAL” que abrigam em si mesmos e espalham, corroboram com suas falas, ações e muito, por suas INACREDITÁVEIS OMISSÕES!
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Ao satanizarem a figura de Lula e do PT, acreditando em sandices absurdamente toscas, como “comunismo”, “bolivarianismo”, vindo do presidente que fez bancos e rentistas terem lucros incessantes e crescentes, além de um ambiente DEMOCRÁTICO como o Brasil jamais vivera, não só negaram toda a realidade do que foi o governo Lula, mas obrigaram-se a si mesmos a aceitar qualquer um que afastasse primeiro Dilma, depois a hipótese “medonha” de um terceiro governo Lula.
Não haveria NADA DE MAIS, se esse sentimento dessa parcela da sociedade encontrasse meios APENAS políticos para vir à tona, mas não foi isso o que ocorreu.
De repente, vem um furor chamado lava jato, um juiz justiceiro que avisa logo no início que “Lula é o alvo, pois é o chefe da quadrilha”, e o rebanho abraçou essa causa de modo radical, doentio, fanático e esquecendo que a presunção da inocência não é só o direito de todo cidadão, é UMA DAS GARANTIAS FUNDAMENTAIS praticadas em todo o mundo civilizado.
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Essas “pessoas de bem” não se importaram com a FARSA do impeachment da presidente. não se importaram com o MASSACRE a Lula e sua família, não se importaram com o evento covarde, criminoso, de sua condução coercitiva, não condenaram veementemente as agressões às autoridades e artistas ligados ao PT, nas ruas, e até em hospitais, e TORNARAM-SE CÚMPLICES, COVARDES E OMISSOS, ao seguirem seu apoio a esse movimento social histérico, violento, desejando esses brasileiros, A QUALQUER CUSTO, a deposição de Dilma, a prisão de Lula, e a maioria, ainda desejava literalmente, A EXTINÇÃO DO PT, como foi aventado por Gilmar Mendes.
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Não se entra num RIO DE ESGOTO, saindo-se dele limpo, “por molhar apenas os pés”, não se é melhor do que o fascista inteiro, por o ser “pela metade….”, não se ganha o reino dos céus, pela incapacidade das grandes maldades, “apenas das pequenas”, não se é ÉTICO, quando se cala a respeito da injustiça, a maldade, o massacre cometidos contra um adversário, para muitos, um ser merecedor de NOJO e DESPREZO, Lula…..
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O que desnuda a intolerância, o fanatismo, os preconceitos narcísicos e perversos desses “brasileiros de bem”, é o comportamento EXEMPLAR dos verdadeiramente éticos, saudáveis, civilizados, tolerantes, que não negam o devido respeito, HUMANO e também POLÍTICO, a Lula, Dilma, ao PT…..
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Gente como Cláudio Lembo e Bresser Pereira, homens de direita, do mercado, antipetistas racionais, dignos, que defenderam ardorosamente a pessoa de Lula, reconhecendo-o honesto, reconhecendo sua obra social IMENSA E REVOLUCIONÁRIA, que fez dele um homem respeitado até hoje, em todo o mundo,
Gente como Letícia Sabatella, que teve a grandeza de olhar nos olhos de Dilma e dizer: “Sou OPOSIÇÃO AO SEU GOVERNO….. mas estou aqui para defender o seu mandato e a democracia….” – porque a sabia digna, e não queria pisar em nossa democracia por motivo de ódio ou fanatismos…..
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Paro por aqui. Deixo o filme “Um homem bom” como exemplo desse autoengano, que movimentos paroxísticos, histéricos, perversos, podem provocar no homem comum, qualquer um de nós…..
Relata o filme a história de um homem que primeiro, rejeita o nazismo, depois, num processo psíquico lento e constante, vai abraçando-o, até diluir partes lindas de sua personalidade e perder-se de si mesmo, seus valores e princípios de vida mais essenciais.
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Como ocorre com milhões, no nosso tempo, no nosso país.
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(eduardo ramos)

Redação

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