De como Simplício descobriu que transparência pode ser idiotice

          Simplício aplaudiu com grande entusiasmo a decisão da Presidenta de não ir aos Estados Unidos como protesto contra a gravação das conversas dela e da Petrobrás por parte da espionagem americana, mas achou que o episódio era um bom momento para que o Governo tomasse alguma iniciativa concreta para que o país não se torne tão vulnerável à bisbilhotice estrangeira. “Somos uns idiotas, disse-lhe o professor Galileu. Em nome da transparência do setor público estamos entregando ouro aos bandidos, de graça.”

                — Como assim?, quis saber Simplício.

                — O Governo obriga empresas estatais como Petrobras e Eletrobrás a colocar na internet dados que deveriam ser secretos. Assim, qualquer um pode acessar informações que deveriam estar protegidas ou mesmo criptografas. É um espanto!

                — Conte-nos mais, disse Angeline.

                — Vou dar para vocês um exemplo. A Petrobrás tem vários contratos de desenvolvimento de tecnologia, alguns deles com a COPPE, uma instituição de alta credibilidade vinculada à UFRJ, como se sabe uma universidade pública. Pois bem, a Corregedoria da União quer obrigar a Petrobras e a COPPE a publicarem na internet contratos de desenvolvimento tecnológico, a pretexto de garantir sua transparência, supostamente para evitar a corrupção.

                — E daí?, perguntou Simplício.

                — Daí que, para certa categoria de acordos de desenvolvimento tecnológico no Brasil, os americanos estariam perdendo seu tempo e gastando muito equipamento sofisticado para ter acesso a algo que já está publicado na internet. Obviamente, seu sistema de rastreamento de informação publicada por burrice coleta tudo regularmente.

                — Não vejo como a publicação de contratos entre estatais pode prejudicar o Brasil!

                — Olhe, Angeline, esses contratos são muito detalhados. Para o truste do petróleo americano é muito importante saber o que a Petrobras está pesquisando. Ela está na fronteira tecnológica em águas profundas, e toda informação sobre desenvolvimento tecnológico nessa área é considerado altamente relevante. Menos para os órgãos de controle do Governo Federal, que quer democratizar para deus e para o mundo a linha de pesquisa da estatal.

                — E no caso da Eletrobrás?

              — É a mesma coisa. Também a Eletrobrás é submetida ao mesmo jogo.

                — O que deveria ser feito?, perguntou Angeline, já pensando numa manifestação de rua.

                — Deveria ao menos dificultar um pouco o trabalho para a espionagem americana. Poderíamos ser menos idiotas. O Governo deveria distinguir transparência de segurança de informação, e não fazer como Collor que acabou com o SNI sem construir praticamente nada no lugar, já que a ABIN é uma piada. A propósito, nossos Presidentes não têm informação; só  sabem que um ministro é corrupto depois que tomou posse!

 

                Angeline encostou em Simplício para ver o que estava escrevendo na agenda vermelha: “Transparência em excesso pode ser uma grande idiotice”.

Redação

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