ECONOMIA: QUEM REGULA O MERCADO

APRENDIZES DE MADOFF

GANANCIA INFECCIOSA & LAISSEZ FAIRE

Um grupo de jovens competitivos –alguns, filhos de famílias endinheiradas, todos formados nas melhores faculdades de economia e administração do país–  operava no mercado brasileiro um esquema de pirâmide semelhante ao que gerou um rombo de US$ 30 bi nos EUA, no célebre calote da corrente especulativa administrada pelo financista  Bernard Madoff'(condenado a 150 anos de prisão). A exemplo do que aconteceu lá, a pirâmide dos aprendizes  nativos de Madoff implodiu aqui na semana passada. A ‘Porto Forte’,Fomento Mercantil, criada em 2002, captava recursos no mercado , aspas para o jornal Valor de 28/02, “à margem de qualquer tipo de regulamentação ou fiscalização” das zelosas autoridades ortodoxas do BC  tupiniquim. As mesmas que devem anunciar nesta 4º feira mais um aumento na taxa de juros do país em nome da ‘estabilidade’.  Os acionistas do fundo especulativo, entre eles José Ermírio de Moraes Filho, herdeiro do grupo Votorantim e membro do ‘conselho consultivo da ‘Porto’, prometiam o céu na terra : remuneração mínima sem risco, na base de 160% acima dos CDIs, fosse qual fosse a taxa do CDI (o CDI é um título de transações entre bancos; sua a taxa,cobrada por um banco quando empresta a outro, funciona como um piso do mercado, semelhante a Selic). Há  alguns dias o ‘mercado’ descobriu que a ‘Porto Forte’ tinha ido a pique. Não dispunha de caixa para entregar o que prometera . Quem ainda estava atracado arcará com o ‘prejú’ decorrente da revoada anterior dos mais espertos. O tombo, calcula-se, é  de pelo menos 50% do investimento original. A  seleta turma que levou o ‘beiço’ -cerca de 450 gentis cidadãos- pertence  à fina flor das chamadas ‘classes dirigentes’ nativas. Um pessoal acostumado ao trato com o dinheiro grosso, escolado nos ardis e picaretagens das finanças. A ganância infecciosa e o laissez faire que subsiste na área financeira, levou-os, porém, a amarrar o dinheiro numa canoa furada. É mais uma história exemplar de estrepolias dos endinheirados, a ser abafada pelos defensores da desregulação e do Estado mínimo.

 

 

fraude1Um suposto esquema de pirâmide estourou na última sexta-feira no coração financeiro de São Paulo, deixando prejuízos e gosto amargo na boca de um grupo bastante seleto de investidores. A empresa de factoring conhecida como Porto Forte Fomento Mercantil, uma sociedade anônima de capital fechado que faz empréstimos para pequenas e médias empresas, suspendeu o resgate de suas ações depois que parte de sua diretoria descobriu a existência de um rombo patrimonial em suas contas.

As cifras envolvidas não são bilionárias como no escândalo do investidor Bernard Madoff – trata-se de algo bem inferior a isso pelo que se pode apurar até o momento. Mas o estrago ganha relevo devido ao peculiar perfil dos investidores que se deixaram levar pela promessa de ganhos expressivos. Banqueiros de investimentos, analistas de ações, gestores de carteiras e advogados compõem o quadro de acionistas da Porto Forte que até o início da semana passada acreditavam ter feito um excelente negócio. Assim como no fundo de Madoff, as ações da Porto Forte ofereciam, ao menos virtualmente, um rendimento fixo, sob a forma de dividendos. Algo que girava em torno de 160% do Certificado de Depósito Interfinanceiro. Era um dividendo obrigatório fixo, algo inusitado em se tratando de um investimento de renda variável. Entretanto, o ganho só se tornava real quando o investidor vendia suas ações para a tesouraria da Porto Forte. Ao todo, hoje são cerca de 450 acionistas e, além dos qualificados profissionais ligados ao mercado financeiro, há ainda amigos e familiares que até agora acreditavam ter recebido deles aquela tão ansiada dica preciosa de aplicação. Entre esses acionistas, um dos mais expressivos é José Roberto Ermírio de Moraes Filho, herdeiro do grupo Votorantim e dono da gestora de recursos Perfin, conhecido no mercado financeiro como Beto Moraes. Ele passou a investir na Porto Forte no ano passado e ingressou no conselho consultivo da empresa, sem participação na gestão. Seu nome e assinatura constam de atas das assembleias de acionistas de 2010. Procurado por meio da assessoria de imprensa do grupo Votorantim, Moraes não foi encontrado para comentar.

Criada em 2002 por um grupo de jovens formados nas melhores faculdades de administração, economia e contabilidade do país, a Porto Forte foi crescendo na base do boca a boca. Animados com os retornos, uns foram indicando o investimento aos outros e há relatos de gente que saiu antes de o esquema estourar e ganhou muito dinheiro. O sócio principal da empresa e que ocupa a sua presidência é o economista formado na Unicamp Guilherme Affonso Ferreira de Camargo, de cerca de 35 anos de idade, e que no início da carreira atuou no departamento financeiro da multinacional Procter & Gamble. É ele quem concentra hoje a ira dos investidores, que acreditam que foram traídos por Guilherme em sua confiança.

Entre os acionistas, um dos mais expressivos é José Roberto Ermírio de Moraes Filho, herdeiro do grupo Votorantim

 

 

 

Na prática, a Porto Forte funcionava como uma espécie de fundo, que captava recursos dos investidores com a venda de suas ações. Quando um desses acionistas queria sair, a tesouraria recomprava os papéis, dando liquidez ao investimento. Isso fazia com que o quadro acionário da Porto Forte tivesse uma alta rotatividade, variando de acordo com o movimento de resgates e de aportes de novos investidores via ações preferenciais. Ou seja, uma sociedade anônima de capital fechado vinha captando recursos de um grande número de acionistas no mercado à margem de qualquer tipo de regulamentação ou fiscalização.

Paralelamente a esse mecanismo de acionistas, conforme crescia, em 2008 a empresa criou um fundo de direitos creditórios (FIDC) que leva o seu nome, hoje com patrimônio de cerca de R$ 50 milhões.

Quando o fundo foi criado, o dinheiro dos acionistas passou a ser usado para comprar cotas dos fundos, não quaisquer cotas, mas aquelas chamadas de subordinadas. São as cotas mais arriscadas, que devem arcar com a inadimplência eventual da carteira de recebíveis e que, por terem mais risco, podem acabar oferecendo um retorno também maior. As chamadas cotas sênior são as mais seguras numa estrutura como essa. Parte das cotas sênior do fundo estava com investidores como a gestora BRZ e a Valora. Em 2010, o FIDC Porto Forte Multissetorial reportou que o rendimento de suas cotas subordinadas foi de impressionantes 46% no ano.

Há poucos dias, esse rendimento começou a mostra-se bom demais para ser verdade. Segundo o relato de investidores e pessoas familiarizadas com a questão, foi constatado um rombo patrimonial da empresa Porto Forte. Até o momento, o fundo estaria a salvo de problemas. A cifra à qual o conjunto de mais de 450 investidores da empresa acreditam ter direito não existe. O patrimônio da empresa, embora positivo em R$ 12 milhões, é insuficiente para pagar o principal e os dividendos aos quais os acionistas acreditam ter direito, de acordo com a política de remuneração acertada. As perdas para os investidores da empresa devem ser de, no mínimo, 50%. A rigor, entretanto, esses investidores de perfil bastante qualificado deveriam saber dos riscos envolvidos no investimento em ações, que pressupõe renda variável e não garante liquidez ou retorno.

Os problemas teriam sido descobertos por Marcos de Alcântara Machado, um ex-executivo da gestora Claritas, também investidor da Porto Forte e que, na página da empresa na internet, aparece no quadro de sócios.

Luciana Lima, vice-presidente da Porto Forte, que chegou à empresa em 2009 para cuidar do FIDC, falou ao Valor ontem e contou ter convocado uma reunião de sócios ocorrida no último dia 17 para dar ciência a todos de que “havia indícios de má gestão e possível utilização indevida do caixa.” “Também houve venda de ações em desacordo com o valor contábil”, diz ela. Luciana diz que Guilherme Camargo comprometeu-se a entregar um relatório respondendo a essas duas questões até o dia 4 de março. “O Guilherme era responsável pela gestão do caixa e era o executivo de relação com investidores da empresa.” Por conta das inconsistências, diz a executiva, a compra e venda de ações pela tesouraria da empresa foi suspensa temporariamente. Essa decisão disseminou o pânico entre os investidores. “Mas a empresa não quebrou. Ela tem patrimônio líquido positivo de cerca de R$ 10 milhões e caixa”, afirma ela. O balanço da factoring Porto Forte do primeiro trimestre de 2010 mostra que a factoring operava com um prejuízo de R$ 384,8 mil. Em igual período de 2009, a empresa também havia registrado um prejuízo de R$ 412,3 milhões.

Quanto ao fundo, Luciana afirma não haver problemas. “O fundo está operando normalmente, é muito difícil entrar em liquidação. Tem uma subordinação de 25%, R$ 10 milhões em caixa, e os investidores são de longo prazo.”

Apesar de diversos interlocutores garantirem que o FIDC da Porto Forte não tem problemas, se houvesse saques expressivos nas cotas subordinadas, o fundo deixaria de cumprir a meta de 22,5% de subordinação. A Socopa, administradora do fundo, informou, por meio da assessoria de imprensa, que já foi questionada pela CVM, mas que comunicou que não há nenhuma irregularidade e que, se há algum problema, não é no fundo.

Acionistas ouvidos pelo Valor dizem ter recebido dos sócios gestores da Porto Forte a informação de que Guilherme Camargo teria desviado dinheiro da empresa, inclusive para o exterior. A diferença patrimonial, dizem esses investidores, seria da ordem de R$ 10 milhões. Luciana diz não saber dizer se houve algo nesse sentido (desvio). “Contratei a Price para fazer um levantamento.” Os investidores dizem também que a Porto Forte teria emprestado dinheiro a uma empresa da família de Guilherme.

 

Factoring dá prejuízo a 450 executivos

 

Equipe Da porto forte ou seria  porto fraco

A Porto Forte S/A vem aumentando a sua base de clientes não só através do entendimento e solução de suas necessidades, mas também através do desenvolvimento de parcerias de longo prazo. Com base nesta filosofia, o time de colaboradores da empresa busca o melhor e mais personalizado atendimento dos clientes

Com sede em São Paulo a Porto Forte S/A conta também com uma equipe de sócios que trabalham em tempo integral e profissionais qualificados na gestão da empresa.

Histórico profissional de alguns dos sócios:

Guilherme Affonso Ferreira de Camargo – Formado em economia pela Unicamp, é sócio e presidente do Conselho da Porto Forte S/A. Anteriormente, foi um dos responsáveis pelo departamento de finanças da Procter & Gamble no Brasil, onde atuou entre o período de 1998 a 2002.

Luciana Lima – Formada em Direito pela PUC/RJ, pós-graduação pela Faculdade Cândido Mendes e MBA Executivo pela São Paulo Business School – BSP, trabalhou na Ambev por 15 anos tendo atuado nos departamentos Jurídico e de RH. Luciana é a Diretora Geral da Porto Forte.

Paulo Augusto Pires – Formado em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) e Economia pela USP/SP (FEA), é responsável pela área comercial da Porto Forte S/A. Iniciou sua carreira como analista na World Invest – Investment Banking em 2002, de onde transferiu-se em 2004 para o Grupo Fasano, onde foi um dos responsáveis pela controladoria dos empreendimentos pertencentes ao grupo até o ano de 2005.

Joana D’Arc Xavier Soares da Silva – Graduada em Ciências Contábeis, trabalhou na Procter & Gamble por 8 anos na Controladoria e nos Departamentos de Contabilidade e Suporte a Vendas, até se juntar a equipe da Porto Forte em Julho de 2006. Atualmente, Joana é a Diretora Administrativa e Contábil da companhia.

Juliana Rocha Menegatti – Bacharel em Física pela Universidade de São Paulo (USP). Iniciou sua carreira no mercado financeiro no banco Rabobank International Brazil em 2005, na área de backoffice. Foi estagiária e analista da área de equity research da corretora Link Investimentos entre 2006 e 2008. Sócia desde 2006, é responsável pela área de relações com investidores da Porto Forte.

Jorge Mortara – Formado em Administração de Empresas pela PUC-SP, iniciou sua carreira no Banco Safra, onde trabalhou por 3 anos no departamento de crédito para empresas de médio porte. Posteriormente, atuou durante 4 anos na agência de classificação de risco Moody’s, analisando empresas de diversos setores. 

Marcos de Alcântara Machado – Formado em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), é um dos sócios responsáveis pela área comercial da Porto Forte e expansão de novos negócios. De 2000 a 2010, foi gestor de carteiras e sócio da Claritas Investimentos. Anteriormente, foi estrategista do Banco CCF.

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador