Empresas de telecomunicações aumentam envio de lucros para fora do país

Sugerido por macedo

Do O Globo

Remessa de teles brasileiras às sedes sobe até 150%
 
Investimento no país poderia ser maior, direcionados, por exemplo, à infraestrutura
 
BRUNO ROSA
 
RIO – Não há usuário que não deseje mais investimentos em serviços de telecomunicações no Brasil, onde imperam a baixa qualidade e os preços altos. A julgar pelos lucros crescentes das companhias do setor, sobram recursos para realizar melhorias na infraestrutura. Parte do dinheiro, porém, segue direto para o exterior e engorda o caixa das matrizes dos grandes grupos globais. Segundo especialistas e empresas de classificação de risco, as subsidiárias brasileiras de telefonia vêm aumentando o envio de seus lucros para fora do país, impedindo um avanço maior nos investimentos aqui. Em alguns casos, a alta na remessa de dividendos atingiu 150% entre 2009 e 2013. E há empresas que “exportaram” até 95% de seus ganhos anuais.
 
TIM e Vivo enviaram para suas matrizes cerca de R$15 bilhões em dividendos desde 2009. A Oi, dizem analistas, remeteu R$ 1,2 bilhão para a Portugal Telecom (PT) no período. A GVT, da francesa Vivendi, não divulga o quanto envia, assim como as empresas do grupo mexicano América Móvil no Brasil: Embratel, Claro e Net.

 
Segundo consultores, o aumento no envio de dividendos das teles brasileiras ocorre porque suas sedes – a maior parte na Europa — não querem abrir mão desses recursos, uma forma de reduzir seu endividamento e de compensar a queda na receita, afetada com a crise econômica.
 
-Todas as empresas no Brasil têm enviado às sedes mais recursos, que poderiam ser direcionados para elevar investimentos em infraestrutura, já que a qualidade dos serviços é ruim. As teles distribuem dividendos em um patamar bem maior que o mínimo de 25% do lucro – atesta o consultor Virgílio Freire, lembrando que a Vivo envia quase a totalidade do lucro.
 
Do outro lado do Atlântico, as matrizes querem os recursos das subsidiárias para não terem as notas de risco rebaixadas.
 
-Ao analisar o rating de uma empresa, levamos em conta o quanto vão receber de dividendos das subsidiárias, pois esses recursos entram no caixa. Essas empresas tentam não abrir mão disso, extraindo o máximo possível das filiais, que poderiam usar esses recursos em mais investimentos (no Brasil) — diz Soummo Mukherjee, analista sênior da Moody’s.
 
Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, lembra que as empresas no Brasil estão em movimento de valorização, ao contrário de suas sedes na Europa:
 
-Aqui há um potencial de crescimento. Lá, a crise tem reduzido as receitas das teles. Por isso, elas precisam dos dividendos brasileiros. Esse dinheiro aqui poderia ser direcionado para mais investimentos.
 
Tude lembra, porém, que os investimentos aqui já são altos, pois a rede está em construção. Em 2013, até setembro, as teles destinaram R$ 17,6 bi — alta de 7% ante 2012. Mesmo assim, o número de reclamações só aumenta. Na Anatel, agência que regula o setor, as queixas cresceram 42%: de 8.452 em 2012 para 12 mil em 2013. A implementação da tecnologia 3G encontra desafios para avançar no país, onde 33,6% das cidades têm apenas uma operadora prestando serviços.
 
– O desafio é aumentar a capacidade da rede de dados. Além disso, o setor sofre com a alta carga tributária. A alíquota de ICMS varia de 25% a 35% — lembra Tude, destacando que o usuário brasileiro paga uma das contas mais altas do mundo.
 
Na Europa, desafios para elevar o caixa
 
Na TIM, 67% dos dividendos vão para o caixa da Telecom Italia. O envio subiu cerca de 150% de 2009 a 2013, de R$ 327,4 milhões para R$ 843 milhões. A empresa distribuiu 56% de seu lucro líquido aos acionistas no ano passado, patamar bem maior que os 35% de 2010. A empresa não quis comentar o teor da reportagem.
 
A Telefônica (dona da Vivo) destina 73,8% de seus dividendos para a Espanha. Assim, dos R$ 18 bilhões pagos entre 2009 e 2013, R$ 13 bilhões foram enviados à sede. A companhia afirma, no entanto, que no mesmo período os investimentos no país somaram R$ 27,4 bilhões.
 
– O Brasil é uma subsidiária importante para a Telefónica e tem rating melhor que o da sede. Se a matriz for rebaixada, a operação brasileira acompanhará a redução — diz Luísa Vilhena, diretora da S&P.
 
A PT, cuja geração de caixa é declinante, tende a se beneficiar da fusão com a Oi, prevista para ser concluída em junho.
 
– Com a fusão, o rating da PT pode subir e ficar igual ao da Oi. Se não ocorrer, a nota da PT pode cair – ressalta Luísa.
 
Entre 2011 e 2013, o grupo português reduziu o pagamento de dividendos em quase 60% à Telemar Participações (holding que controla a Oi e 10% da PT), de R$ 187,8 milhões para R$ 75,9 milhões. Já os dividendos da Oi à PT aumentaram mais de quatro vezes, diz uma fonte. Procurada, a Oi não comentou, pois está em “período de silêncio” devido à fusão com a PT.
 
A GVT, do grupo Vivendi, não quis se pronunciar, bem como Net, Claro e Embratel, do grupo América Móvil.
 
Ao contrário do Brasil, na Europa há redução dos dividendos aos acionistas locais. A Telecom Italia reduziu de € 900 milhões para € 450 milhões a distribuição de lucros entre 2013 e 2015. A Vivendi cortou dividendos em 28,5% nos últimos dois anos. Mesmo caminho fez a Telefónica, com corte de 34% entre 2012 e 2013.
 
– As empresas na Europa sofreram um período longo de desaceleração e retração. Há muitos desafios para elevar o caixa – diz Mukherjee, da Moody’s.
Redação

19 Comentários

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  1. Dessas empresas todas, a que

    Dessas empresas todas, a que eu mais conheço, porque usei muito os seus péssimos serviços quando ainda não tinha outra escolha, é a Vivo. A Vivo não investe um mínimo de nada na modernização de seus sistemas. Há algum tempo atrás ficamos sabendo que o governo estadual lhe deu bilhões para investir em modernização, mas suspeita-se que tudo foi parar nas mãos de seus acionistas na Espanha, e até o BNDS já deu grana grossa para essa empresa, também campeã de reclamações no PROCOn do estado de SP.Não é a toa que o faturamento anual da Vivo no mundo todo, metade venha só da telefonia fixa do estado de SP.

  2. Ufa, que bom. Pelo menos elas

    Ufa, que bom. Pelo menos elas estão ganhando. Achei que estavam ficando pobres, tadinhas, tendo que pagar diariamente indenizações por danos morais. Vai ver é porque as indenizações são uma “merreca” – ou as multas insuficientes.

    Só para não perder a deixa, uma lembrança de como eles se esforçam para atingir as metas:

  3. Brasil na área de

    Brasil na área de telecomunicações é liberalismo hardcore, um laissez-faire em estado bruto.

    A Anatel dormita, no máximo aplica uma multinha para inglês (ou mexicano) ver, e jamais ameaçou romper contratos de concessão. Enquanto isso, quem paga a conta é o trouxa do usuário.

    E a correlação de forças? O governo falha em não obrigar as Teles a investir, mesmo tendo todos os instrumentos  para tanto. Se o PT tivesse maioria congressual, conseguiria também tributar mais os ricos, ou fatiar a Globo via lei da mídia, ou aprovar reforma política?

    Sei não hein..se quer convencer que são os outros partidos que impedem o PT de promover, deveria fazer a lição de casa em matérias que dependem de canetada.

    1. o problema da anatel

      é que a coisa já anda tão descarada que deputado chama o conselheiro da anatel para perguntar quanto vai para ajeitar o lado da operadora. só aqui no Brasil tal conversa passa despercebida pela instâncias de controle do governo.

      enquanto o pessoal da fiscalização tenta aplicar multas, o conselho fica dando voltas de como minorar as multas. como no caso da tim em sp onde o fiscal demonstrou que o cálculo do indicador de quedas de chamada era uma fraude, e que a própria operadora em reunião com a anatel reconheceu que havia um sistema “antifraude” que derrubava chamadas longas e ainda assim o conselho achou por bem autuar apenas o indicador por não atender a meta, que mesmo com oficio assinado pela tim não haviam provas de que derrubavam de propósito as ligações.

      por mais que os fiscais sejam capazes de detectar as fajutices das operadoras, quem decide as multas, são cinco cabeças retirados do mercado temporariamente e que ao mercado iram retornar. nunca vão fazer pesar a caneta contra quem será seu futuro patrão.

  4. OI TV

    “A Oi, dizem analistas, remeteu R$ 1,2 bilhão para a Portugal Telecom (PT) no período”.

    Contando com a cumplicidade das agências “desreguladoras” as empresas de telecomunicação estão fazendo os brasileiros de gato e sapato. A GVT, por exemplo, começou funcionando razoavelmente mas atualmente está um lixo principalmente a TV a cabo.

    A OI, contudo é um caso à parte em matéria de desorganização e desrespeito aos clientes.

    Depois de muitas dificuldades pedi o encerramento dos serviços em meados de junho de 2012. Eles me enviaram uma fatura com o valor cheio como se os serviços tivessem sido prestados até 30 de junho de 2012.  Perdi um tempão e liguei para umas quatro pessoas dizendo que não concordava em ser roubado até no encerramento do contrato e que não efetuaria o pagamento da fatura com o valor cheio e exigi a emissão de uma fatura com o valor correto.

    Na sexta-feira atendi uma ligação com uma gravação da dita cuja me informando um número para ligar. Fiquei sabendo que se encontra em débito a última fatura com o valor cheio. Aproveitei a oportunidade e disse algumas verdades para a infeliz que me atendeu.

    Se algum leitor conhecer alguma alternativa para essa situação gostaria de ser informado. Trata-se apenas de algumas dezenas de reais mas eu não concordo em ser roubado e ainda chantageado.

    Será que essas “empresas” atuam assim em outros países? 

     

    1. Juizado de Pequenas Causas

      Se vc estiver bem fundamentado, vai lá no JPC que vc pode tomar deles um múltiplo do que eles estão lhe cobrando.

  5. agora fhc!

    O fhc têm a obrigação de escrever aqueles quilométricos panfletos graciosamente disponíveis nas paginas da imprensa pig para justificar mais uma das suas heranças malditas.

  6. Caro Nassif;  nao é so falta

    Caro Nassif;  nao é so falta de investimentos,   em infra-estrutrura, é falta de manutençao  em toddas as  areas,  Quando uma  central  pegou  fogo  no Iguatemi da  Bahia   um engenheiro  na  epoca  denunciou  que  a   empresa  Oi telemar  tinha  despedido os  engenheiros  e  no lugar  colocaram  trabalhadores com salarios bem  menores,  Por outro lado  voce passa nas ruas hoje  é fio  caído  nas ruas,  mal   arrumados nos postes, caixas  abertas   pedido de   serviços  demorado, uma verdadeira  irresponsabilidade com essas operadores.  Ja  a parte  da telefonia celular, essa entao  o governo  deveria taxar  elas pois  ganham muito  e nao precisa  de investimento.  é  diferente do   telefone  fixo. que requer mais  investimentos  e que  tambem  tem deixado a  desejar. e muito 

  7. Redemoinho….

    Quando foi privatizado o setor comemoraram muito a “venda de ar”…. 

    Se esqueceram de que todo o lucro do serviço, que não é pouco, seria enviado para o exterior….

  8. Efeito colateral de governos

    Efeito colateral de governos que respeitam o liberalismo globalizatório, que favorece apenas os grandes players; empresas e países.

    E a nossa player de referência, a OI, fruto de grandes escândalos de favorecimento e corrupção?

    Depois de armada, vendida para os estrangeiros.

  9. Enquanto isso…

     

    Os usuários brasileiros penam com um serviço caríssimo e de péssima qualidade, mas as remessas de lucros obtidos mediante esses expedientes seguem incólumes, Dilma e a nulidade que colocou no ministério das comunicações nada fizeram para pressionar as empresas para melhorarem os serviços, e agora o boquirroto FHC e sua trupe de entreguistas do PSDB empunham novamente o discurso em defesa da bandalheira que nos levou a essa situação, é o clássico “se correr o bicho pega se ficar o bicho come”.

  10. Esse setor mostra como o

    Esse setor mostra como o governo é conivente com o desrespeito das empresas fajutas que atuam no país com o consumidor, preços caros, mau atendimento, produtos da pior qualidade possível; essas agencias reguladores parecem o banco central, só atuam para favorecer o lado mais forte; tinha uma linha no litoral que sempre que ia lá nunca estava funcionando, quando ligava para a operadora, a vivo, diziam que o problema era interno, depois de muito reclamar mandaram um tecnico e o problema não era interno era no posto da rua mesmo, depois de só pagar e usar pouco mandar desligar, além de mandarem uma conta para pagar, os créditos que tinha de mais de 100 reais foram engolidos sem nenhuma cerimonia, ou seja me mandara uma conta e sequer compensaram com os creditos (que foram efetivamente pagos) que tinha, se assim fizessem teriam que me devolver dinheiro, vergonha das vergonhas e o que dizer dos 0,99 que me descontam sem eu ter serviço de internet? Palhaçada!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

  11. CRISE???

    Ué, mas com uma crise ecônomica danada  que estamos passando no BRASIL, inclusive com a quase falência da PETROBRAS(o brasileiro consome muita gazolina), como é que essas empresas tem tanto lucro?????

    É como se diz: se isto é crise que perdure.

  12. Pára!!!!

    Passou da hora de por a culpa no FHC ou PSDB.

    PT há 10 anos no poder o que fez para diminuir o envio de lucros das privatizadas?

    Fácil isto aí, é só aumentar o imposto cobrado pelo envio de dinheiro ao exterior.

    Como é o superávit comercial entre estes países, talvez valha a pena deixar passar batido, se o superávit é superior.

  13. Passou dos limites. Corrupção?

    Há quanto tempo o assinante/consumidor brasileiro vem reclamando das operadoras por razões as mais diversas possíveis sem qualquer consequência prática por parte dos órgãos reguladores e governantes?

    E o que a gente constata é a Anatel, com aval do Min. Das Comunicações, dando o maior mole para essas empresas em detrimento dos direitos dos assinantes.

    É lícito concluir que alguém está “levando” para que esse estado de coisas permaneça do jeito que está.

    A coisa passou dos limites.

    Parece que as operadoras têm um pó mágico que faz todos; governo, legislativo, judiciário e até a imprensa se manterem inertes.

    No governo, o silêncio em relação às operadoras e sepulcral. Incompreensível.

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