Engenheiros e técnicos, os proletários do século XXI.

 

Há uma grande confusão conceitual que sociólogos, políticos e demais agentes fazem sobre uma notação técnica que mais por ignorância de todos leva a conclusões antagônicas.

Até o início do século XX era clara uma classificação, o proletariado, o proletário consistia daquele que não tinha nenhum meio de vida exceto sua força de trabalho (suas aptidões), que ele vendia para sobreviver. Pois bem a partir desta definição do século XIX dada por Karl Marx foi expressa pictoriamente pela foice e o martelo, que simbolizavam o proletariado industrial e o camponês.

A imagem foi mais forte do que a própria definição, ou seja, um proletário necessariamente para a maior parte dos teóricos marxistas e mesmo de teóricos que desviaram da linha marxista, sempre era de um proletário da indústria como alguém que com um martelo, uma chave de fenda, ou mesmo outro tipo de ferramenta primitiva produzia bens para serem vendidos pelos capitalistas. Esta visão se reproduzia no campo através da foice, gadanho, enxada e outros equipamentos primitivos.

Os teóricos acadêmicos principalmente procuravam sempre mais a representação pictórica do que realmente o que vinha da definição, e mesmo os militantes dos partidos de esquerda só ficavam satisfeitos quando conseguiam incorporar nos seus grupos de estudos ou até partidos estas figuras que a cada dia se tornavam mais escassas.

Aceitava-se, como o máximo da modernidade teórica que um torneiro mecânico fosse aceito como proletário, porém mesmo assim sempre se procurava quem estava com o martelo na mão, pois estes seriam os verdadeiros proletários. Mesmo o velho Marx no seu trabalho principal sobre “Trabalho Assalariado e Capital” faz um erro de notação distinguindo sistematicamente máquinas de ferramentas, dando uma impressão de quem lê na diagonal o seu texto que aparentemente as ferramentas são quase que uma propriedade dos proletários e as máquinas algo que através da acumulação do capital pertence aos capitalistas (produto do trabalho anterior).

Devido esta aparente divisão, Marx tem que passar por uma discussão do processo de acumulação, que em última instância mostra que tanto as ferramentas como as máquinas são exatamente produtos do mesmo processo de acumulação.

À medida que a indústria fica mais sofisticada, as máquinas tomam em grande parte as tarefas manuais dos proletários tradicionais, e cada vez mais o processo de acumulação leva a uma distância maior a propriedade dos meios de produção das mãos dos próprios criadores deste capital.

Baseado neste raciocínio e por dificuldades de entender a lógica fabril dos processos produtivos, os proletários-operários ficam mais distantes do conjunto do processo produtivo imaginando que este é algo mais mágico do que real.

Porém, a mesma sofisticação do processo produtivo, torna uma figura que no passado era mais um feitor de escravos-proletários em um elemento da cadeia de produção, os técnicos de nível superior, os Engenheiros.

Esta figura nascida nas fábricas como uma extensão da mão do capitalista para controlar e fiscalizar a produção dos proletários transforma-se pouco a pouco num outro ator dentro do cenário da produção. Os engenheiros que há cinquenta anos tinham seus grupos de apoio que o tornavam uma espécie de micro capitalista explorando o trabalho de secretárias, desenhistas, datilógrafos, mestres de ofício, chefes de oficinas e centenas de outras titulações, começa ele mesmo a assumir as tarefas deste grupo de apoio, e por mais incrível que pareça temos neste novo paradigma a mais violenta e mais intensiva acumulação de capital dos proprietários que se viu nas últimas décadas.

Um técnico de nível superior, ou mais comumente chamado engenheiro, passa a substituir dezenas ou mesmo centenas de proletários-operários atingindo uma acumulação de mais valia ao capitalista que para não utilizar o termo marxista é chamado o aumento de produtividade.

Este processo simplesmente tem dois lados que vão em direção contrária, mas podem resultar numa situação não usual nos próximos anos. A aproximação do proletário-operário-engenheiro do domínio total e completo da produção, retomando a noção que o proletário-operário possuía nos séculos anteriores e o mais interessante de tudo, o total e completo desconhecimento do processo produtivo pelo capitalista e suas novas denominações!

A necessidade de formação técnica mais sofisticada levou que em países mais desenvolvidos a existência dos engenheiros nas fábricas, que eram uma pequena parcela dos assalariados, se tornasse uma maioria com grandes contingentes destes profissionais nas linhas de produção.

Isto se reproduz não só nos setores fabris, no campo e no setor de serviços a quantidade de profissionais de nível superior se torna imperativo a produção, substituindo no último setor profissional de nível médio por profissionais de nível superior. No lugar de um simples gerente que era formado na própria empresa, hoje se têm os chamados cada dia de forma mais imprópria de administradores de empresas, imprópria, pois não administram as empresas, são os mesmos gerentes mais qualificados que nas gerações anteriores, e a cada dia mais substituem não só os gerentes, mas como também os funcionários administrativos em geral.

Voltando ao papel dos capitalistas, se olharmos no passado empresas como a Ford, a Citroën e todas as outras que não herdaram o nome de seus capitalistas que as originaram, eram geridas e destacadas pelas técnicas ou equipamentos que Henry Ford ou André Citroën criaram. Ainda nos mercados mais inovadores como o de informática, nomes como Bill Gates e outros estão associados em parte a uma ou outra diferenciação tecnológica que os mesmos criaram. Porém a imensa maioria do capital está nas mãos de quem não sabe quase nada do processo produtivo.

Aí vem um ponto que é interessante destacar, os proletários-engenheiros ou os proletários-administradores, dominam todo o processo produtivo ou pelo menos o entendem, quando os capitalistas e seus CEOs simplesmente quase que ignoram o que produzem. Criando uma verdadeira inversão que é por poucos percebida, os capitalistas que mudaram de nome para empreendedores, simplesmente não entendem e não compreendem o que estão produzindo, enquanto os novos proletários do século XXI, são mais independentes para criarem e para levarem adiante o que produzem do quem teoricamente os domina, logo voltando de novo ao passado:

Logo:

Proletários de todo o mundo, uni-vos, não tendes nada a perder a não ser vossos grilhões.

Redação

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