FINAL DA COPA DO MUNDO

COPA DO MUNDO

É final da Copa do Mundo, não quero saber. Dizem que será decidida nos pênaltis, ótimo! Tempo normal, acréscimos, intervalos, prorrogação e pênaltis, duas horas, tenho duas horas. Pego o livro de duzentas, trezentas páginas e vou à praça. O dia está bonito. Não estou só, há crianças menores, mães, babás e moradores de rua. Leio e reflito o que leio. Os narradores gritam gol! Não escuto. Sinto-me um alienígena, um ser superior. As crianças estão brincando de esconde-esconde, as mulheres conversando, os moradores de rua pegando e comendo o que acham e eu lendo e refletindo. Dia inútil até para os amantes irem ao motel. E o dia está bonito. Eu, as crianças, as mães, as babás e os moradores de rua estaremos excluídos nas conversas. Será que só nós saberemos que a final da Copa do Mundo não é o fim do mundo? Foi o melhor dia que vivi, as melhores companhias com que estive e o melhor livro que eu li bem no dia e na hora na final da Copa do Mundo que eu consegui não assisti e não saber o que aconteceu. Quem foi campeão do mundo? Em nenhum outro assunto a ignorância foi melhor do que saber. O dinheiro que foi gasto e arrecado também não me interessam, o dinheiro e o poder também não me interessam. Só me interessa saber viver com a solidão, com a escuridão, com o frio e com a paz o tempo todo.