IEDs cobrem rombo nas contas externas

Do Estadão

Investimento externo de US$ 48,4 bi é recorde e cobre déficit na conta do País

Movimento extraordinário de dezembro, causado pela entrada de US$ 7,1 bi em operação no setor de petróleo, elevou o valor do IED em 2010

26 de janeiro de 2011 | 0h 00

Fabio Graner e Fernando Nakagawa – O Estado de S.Paulo

Com um movimento extraordinário no último mês do ano, o Investimento Estrangeiro Direto (IED), aquele voltado para o setor produtivo, fechou 2010 com o recorde de US$ 48,46 bilhões. O fluxo positivo de US$ 15,36 bilhões em dezembro, o maior para um único mês em toda a série histórica, levou o saldo do ano a ser mais que suficiente para cobrir o déficit em conta corrente de 2010, que teve o recorde de US$ 47,52 bilhões.

A conta corrente registra as transações comerciais, serviços e transferências de renda do Brasil com o exterior. A série histórica divulgada pelo Banco Central (BC) tem início em 1947. Até novembro, tanto o mercado quanto o BC davam como certo que o IED não seria suficiente para cobrir o resultado negativo da conta corrente neste ano, tendência que se acentuaria em 2011.

ArevA reviravolta ocorreu basicamente por uma operação gigantesca no setor de petróleo, envolvendo os chineses da petrolífera Sinopec e os espanhóis da Repsol, que levaram ao ingresso de US$ 7,1 bilhões nos últimos dias do ano passado. A Sinopec adquiriu sozinha esse montante em ações da Repsol Brasil, que aumentou seu capital para realizar a aliança com os chineses.

Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, essa operação era esperada no início de 2010, quando a autoridade monetária projetava um IED de US$ 45 bilhões. Mas, ao longo do ano, com o adiamento dessa e de outras operações, o BC reduziu sua estimativa de IED pra US$ 38 bilhões.

“Algumas operações foram postergadas durante o ano passado. Mas, de fato, algumas que esperávamos só no início de 2011 se materializaram antes, no fim de 2010”, disse Altamir.

O técnico da autoridade monetária salientou que, apesar de essa operação individualmente ter alavancado o resultado de dezembro, o saldo seria elevado mesmo sem ela. “Tínhamos a expectativa de US$ 38 bilhões em IED e o resultado final foi US$ 10 bilhões superior”, disse Altamir. Além da operação da Repsol, ele observou que foram registradas duas operações de cerca de US$ 1 bilhão cada nos setores de extração mineral e metalurgia.

Inversão. Para 2011, embora admita a possibilidade de rever para cima sua projeção de IED, o Banco Central não trabalha com um cenário em que esses investimentos sozinhos cubram o déficit em conta corrente.

A atual projeção da autoridade monetária é de ingressos de US$ 45 bilhões em investimentos diretos, enquanto o déficit em conta corrente esperado é de US$ 64 bilhões. A diferença deve ser coberta com investimentos em títulos, ações e pelo ingresso de recurso de empréstimos tomados no exterior, movimento que em 2010 ganhou força.

O presidente da Sociedade Brasileira de Estudos das Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luiz Afonso Lima, disse que é bem provável que o IED realmente não seja suficiente para cobrir o rombo na conta corrente. Embora não veja isso como um fator que possa provocar alguma crise, Lima considera que a persistência de tal situação poderá levar a um ajuste para cima na taxa de câmbio no médio prazo. 

Luis Nassif

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