Kátia Abreu: “Não existe mais latifúndio no Brasil”.

Após o fim das eleições gerais de 2014, vem à nova organização dos ministérios que deve atender objetivos da presidenta, do partido e da base aliada. Isso gera um mosaico de nomes, partidos e intenções político-econômicas. Num mesmo governo, podem atuar em diferentes ministérios nomes políticos ou técnicos, progressistas ou conservadores. Isso foi visível no governo Lula, nos dois mandatos. O governo Dilma também exibe esse comportamento, haja vista, a composição de sua coligação (PT, PCdoB, PDT, PMDB, PP, PR, PSD, PRB e PROS)

Dentre as nomeações para compor a sua nova equipe ministerial, a presidenta Dilma surpreendeu ao indicar Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e Kátia Abreu para a Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Levy não é um nome político partidário, é ex-diretor do Bradesco, ou seja, ligado ao setor financeiro e que agradou o empresariado também. Já Kátia Abreu, foi eleita senadora pelo DEM pelo estado do Tocantins em 2006, passando para o PMDB em 2013, compondo os políticos da base aliada de Dilma, é presidente-licenciada da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Dessa forma, que são nomes importantes de setores ligados ao mercado, financeiro e agronegócio, respectivamente, isso todos sabem. Mas mesmo assim, não deixa de ser uma surpresa, como no caso da nomeação de Kátia Abreu, que pareceu ser um verdadeiro descompasso no discurso político da presidenta petista. A escolha de Kátia deve ser vista como uma medida para acalmar um dos setores mais raivosos, conservadores e que nos últimos anos tem estado insatisfeito com as medidas do governo, principalmente os produtores de açúcar e álcool.

Dilma foi eleita com um forte apoio de movimentos sociais, como o MST. Mas a escolha de Kátia Abreu não agradou um dos movimentos sociais mais importantes do país. Esse descontentamento com a peemedebista pode ser visto na entrevista publicado hoje (05/01/2015) concedida pela ministra Kátia Abreu para a Folha de São Paulo (segue link abaixo).

Três posições chamam atenção na nova ministra: a posição em relação à reforma agrária e aos índios.

Questionada se era preciso acelerar o processo de reforma agrária, a ministra foi categórica.

“Em massa, não. Ela tem de ser pontual, para os vocacionados. E se o governo tiver dinheiro não só para dar terra, mas garantir a estrutura e a qualidade dos assentamentos. Latifúndio não existe mais.”

Primeiro, a ministra entende reforma agrária como a compra de terras pelo governo para os assentados. Terras improdutivas ou de posse ilegal, como a grilagem não é citada por ela. Por que não?

Mas oque chama atenção é o discurso fajuto em relação ao direito do índio sobre a terra. Quando a repórter perguntou sobre a proposta da PEC 215, que busca passar a responsabilidade em demarcar terras indígenas para o Congresso e não mais para a FUNAI, podendo ocasionar no fim da demarcação de terras indígenas.

“Não. Porque não vai sair mais nada nunca do jeito que está. O STF já decidiu que terra demarcada não pode ser ampliada. Até então tinham saído várias, de forma equivocada, empurradas pela Funai [Fundação Nacional do Índio] a toque de caixa. Enquanto os índios reivindicavam áreas na Amazônia, a gente nunca deu fé do decreto de demarcação [em vigor]. É um decreto inconstitucional, unilateral, ditatorial, louco, maluco. “E por que vocês só foram ver isso depois?” Porque os índios saíram da floresta e passaram a descer nas áreas de produção. Não temos problema com terra indígena, a nossa implicância é com a legalidade. Se a presidenta entender que os pataxós estão com a terra pequena, arruma dinheiro da União, compra um pedaço de terra para eles e dá. Ótimo. Eu só não posso é tomar terra das pessoas para dar para outras.”

“As terras dos índios também foram tomadas”, resaltou a repórter da Folha.

“Então vamos tomar o Rio de Janeiro, a Bahia. Por que [o raciocínio] só vale em Mato Grosso do Sul? O Brasil inteiro era deles. Quer dizer que nós não iríamos existir”, respondeu Abreu.

Que discursinho vazio sobre a legalidade da demarcação, fazer uma avaliação tão simplificada e banal leva ao agravamento da situação do indígena no Brasil. É decepcionante ver uma ministra da cota pessoal da presidenta ter uma posição tão conservadora, mas ao mesmo tempo devemos lembrar quem é a ministra: política que começou a carreira partidária ainda no PFL que depois se tornou DEM (aliado histórico do PSDB), depois foi para o PSD e no fim, acabou se alojando no PMDB. Aliás, Abreu foi eleita para o senado pelo DEM em 2006, quando Dilma disputou a presidência com José Serra do PSDB.

Então, todo cuidado parece pouco em relação a ministra. Se Dilma queria agradar aos empresários e produtores do agronegócio, ela esta comprando uma briga “feia” com o MST e com os indígenas. Espero não chegar em 2018 me arrependendo do voto que creditei à presidenta. Vamos ver qual é o projeto que a presidenta junto de seus demais ministros irá apresentar a nação nos próximos anos. Abandonar ou mesmo esquecer o apoio dos movimentos sociais que buscam a reforma agrária há muitos anos, não é a melhor forma de Dilma começar o seu segundo mandato.

http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/01/1570557-nao-existe-mais-latifundio-no-brasil-diz-nova-ministra-da-agricultura.shtml

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador