Le Monde lamenta ter se baseado na mídia brasileira para analisar o golpe

Do RFI

Le Monde admite ter ignorado parcialidade da mídia brasileira

Publicado em 23-04-2016 Modificado em 23-04-2016 em 20:21
mediaReuters

Na edição antecipada de domingo (24), o mediador entre os leitores e a redação do vespertino francês Le Monde, Franck Nouchi, faz a seguinte pergunta: “Le Monde foi parcial na cobertura da crise politica brasileira?”

O questionamento foi feito depois do jornal ter recebido dezenas de cartas de brasileiros e franceses vivendo na França e no Brasil. O jornal cita a carta, que elogia como muito bem argumentada, de quatro brasileiras residentes em Paris,” movidas pela consciência do impacto que o Monde tem sobre a opinião pública “. Na carta, elas perguntam porque Le Monde escolheu a parcialidade para abordar a crise politica brasileira ao invés de indagar, abordar novos ângulos… e não seguir o coro uníssono da grande mídia brasileira.

Na mesma linha, Le Monde também levou em consideração o correio de um outro grupo de ex-exilados políticos brasileiros da França e da Bélgica, que interrogam porque não foram feitas reportagens mais balanceadas com personalidades de destaque como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros nomes, sobre suas razões para se posicionarem com tanta firmeza pela democracia. Na contramão, é citado somente um leitor que elogia diversos artigos e o mediador defende as coberturas de algumas matérias.

Parcialidade das mídias brasileiras é reconhecida

No entanto, reconhece e lamenta que o editorial de 31 de março, intitulado”Brésil: ceci n’est pas un coup d’Etat” (Brasil: isto não é um golpe de Estado, em tradução livre), não tenha sido equilibrado, em especial por ter omitido que os apoiadores do impeachment são acusados de corrupção, a começar por Eduardo Cunha, presidente da Câmara, assim como por não ter abordado suficientemente a parcialidade das mídias nacionais. Nesse contexto, o mediador lembra um dossiê completo publicado em janeiro de 2013 pela ONG Repórteres sem Fronteiras, que chamava o Brasil de “o país dos trinta Berlusconi”*, lembrando que os dez principais grupos econômicos, familiares, dividem o mercado da comunicação de massa.

Finalizando, o jornal admite que o ideal teria sido enviar um jornalista de Paris para apoiar sua correspondente em São Paulo, Claire Gatinois, para relatar com mais profundidade as fraturas sociais da população, reveladas durante esta crise.

* referência ao ex-premiê italiano Silvio Berlusconi, dono de um império midiático na Itália.

 

 

Luis Nassif

21 Comentários

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  1. Parece que, diferentemente do

    Parece que, diferentemente do ocorrido em 64, a Globo desta feita não tá vendo brechas pra escapar. 

    Podemos considera, tentão, que toda crise traz seus benefícios?

    Viva Nicolellis. 

  2. Sobrou para a estagiária,

    Sobrou para a estagiária, hahahahhahahha Le monde ne pas un jornal sérieux. hahahhahaa (mas eu gosto dele)

  3. Estava pensando comigo, todos

    Estava pensando comigo, todos os partidos receberam dinheiro de empresas para serem eleitos e beneficiaram estas empresas depois de eleitos. A perseguição encima do Lula por estes partidos e funcionários corruptos do governo, se trata de uma grande hipocrisia que visa distrair o povo da grande verdade; grandes partes dos políticos e agentes públicos não trabalham pela democracia e a liberdade do povo, mas para sua escravidão financeira e mental. Daí a perseguição hipócrita a pedalinhos….

  4. o jornal frances já deveria

    o jornal frances já deveria ter percebido há tempos essa torpeza da nossa grande mídia golpísta…

    golpísta em 54, contra getúlio.

    .rgolpista contra jango, em 64….

    golpísta contra o governo popular, como sempre….

    é questão de história…

    portanto, não há desculpas do jornal le monde, diga o que queira dizer,

    diga o que quiser, não convencerá……..

     

  5. Um entrave do jornal que,

    Um entrave do jornal que, normalmente, os brasileiros gostam. O Brasil está na merda, gente de local mais baixo dos esgotos está prestes a tomar o poder. Um retrocesso de centenas de anos. Tomara que isso não aconteça com a França, mas saibam que isso aconteceu no Brasil de maneira surpreendente, e esperamos que a França não seja pega de surpresa. Boa sorte aos franceses.

  6.  A imprensa mundial trata a

     A imprensa mundial trata a mídia brasileira como esta merece: lixo. O Globo envia carta ao The Guardian, pensando que seria reconhecido como igual. Patético. O Le Monde lamenta ter-se fiado pelo que os jornais e a televisão brasileiros divulgaram. A nossa mídia julga fazer parte da elite internacional. Típica ilusão da oligarquia brasileira. Vem de longe, do tempo em que os coronéis enviavam seus filhos para estudar em Coimbra e dar-lhe algum lustro. Filhos que voltavam para serem coronéis iguaizinhos aos pais. Cruéis e primitivos.

    Os antecedentes antidemocráticos do Globo e da Folha, para ficar em dois exemplos, são conhecidos pelos jornalistas bem informados do exterior. Se tivessem um mínimo de bom senso, os nossos donos de jornais saberiam que não podem esperar ser tratados como iguais pela imprensa mundial. Reputações, boas ou más, exigem um longo tempo para serem estabelecidas. E o que temos por aqui? Apoio a ditaduras, empréstimos de carros para órgãos de repressão, e por aí vai.

    A Folha pretende-se democrática, abre algum espaço para colunistas com opiniões divergentes. Foi hábil na mudança de sua imagem no início do nosso processo de redemocratização. Vendo para que lado sopravam os ventos, contratou e deu espaço para jornalistas com ampla história de luta contra a ditadura. Foi bem pensado, calculado. Mas oligarcas são sempre oligarcas. Historicamente, quando os tempos ficam difíceis, ela não perdeu uma única oportunidade de apoiar os golpes.

  7. O olho seleciona aquilo que

    O olho seleciona aquilo que quer ver e descarta o que não compreende. Classe média na Europa é uma descrição social que diz respeito a 70% da população, não a um “estado de espírito” de uns 20 quando muito 30% da população que se entende como classe média no Brasil. Uso a expressão de “estado de espírito” para me referir aquela gente que se acha “cheirosa” e “diferenciada” das demais – racialmente talvez?! – na verdade tal qual os outros 70% restantes a classe média trabalha melhor ou pior remunerada para 1%, mas acredita que seus próprios interesses coincidem com os dessa mínima fração da sociedade. Na Europa nem a classe média alta cai no erro de se comparar ou de atrelar seus interesses com o dessa fração do 1%, em geral as classes médias em sua maioria defendem a cobrança de impostos e a necessidade de gastos públicos em educação e saúde e de gastos sociais compensatórias como seguro desemprego e políticas de renda mínima. Imprensa na Europa é formada por uma enorme quantidade de meios de comunicação grandes médios e pequenos, públicos e privados, que refletem de alguma medida o pluralismo de ideias e interesses de todos os setores sociais, e não umas poucas famílias que detém o controle da maioria e a propriedade cruzada dos diferentes meios de comunicação nacional e local e que foram sustentáculos de muitos governos antidemocráticos e autoritários, e que monopolizam praticamente toda a verba publicitária pública e privada. Na Europa mercado de bens e de consumo é acessível a 100% da população, não se trata de exclusivo ou distintivo social como em nossa realidade social. O Judiciário é um poder de fato separado do poder executivo, e não uma casta privilegiada (mesmo se utlilizando os padrões europeus, poucos magistrados de última instância ganha o que alguns de primeira instÂncia percibem no Brasil. Os partidos são fortes e ideológicos na Europa, no Brasil são paroquiais e apenas instrumento de acesso a vida política, pode-se trocar de legenda como se troca de camisa, e as lengendas poucos informam sobre seu conteúdo. Ou seja, realidades muito mas muito diferentes em muitos aspectos.

     

  8. afinal o reconhecimento do equívoco

    Porque ‘Le Monde’ sendo publicado em parte no Brasil, não ignora as questões que nos dizem respeito, ao contrário. Apenas se equivocaram, cometeram um “faux pas” uma bobaginha, que é a grande asneira da imprensa e TV brasileiras: o golpe legislativo que se está cometendo contra a presidente brasileira. Errar é humano: desculpar-se é o normal entre gente dita e crida como civilizada!

  9. Erro primário

    Erro primário! Se dessem importância aos reflexos disso teriam percebido muito antes de “receber cartas” que uma cobertura especial era necessária. Uma correspondente? Para botar a culpa? “Pufavô né”. Ou ela tem visão simplista do trabalho, ou já havia solicitado apoio ha temps.

  10. A midia inventa tudo !!! … mas só quando convém

    As 4 brasileiras morando em Paris devem realmente estar sentindo na pele todos os problemas vividos aqui. Bem como Chico Buarque, com seus milhões obtidos por renúncia fiscal brasileira. E a midia brasileira, que tem tanto ardorosos defensores do impeachment, como o Estadão e a IstoÉ, e ardorosos defensores do governo, como Carta Capital e a Folha, não podem ser acusada de parcial. Pode-se dizer que cada mídia específica tenha sua orientação política mas não que a midia como um todo tenha deixado de expressar pontos de vista pró e contra o que quer que seja

    1. Primeiro ponto: Apoiar ou nao
      Primeiro ponto: Apoiar ou nao o Impeachment não se trata de gostar ou não gostar da situação econômica e política do Brasil, se trata de respeitar a democracia e o Estado de Direito ou apoiar um processo de cunho político com base jurídica frágil, ou seja, um golpe branco. Segundo: A matéria não cita todos os veículos de comunicação, mas apenas os 10 maiores, e estes estão sim, comprometidos com o GOLPE.

    2. E vc …..

      Não se envergonha da abrir a boca para falar do Chico, não? E talvez desconheça a Lei , que não foi criada pelo PT, pois vc não sabe de nada mesmo, e dá isenção fiscal para artistas do naipe de uma Claudia Leite e Ivete, p. ex.? Não se envergonha de dizer que a FSP é isenta? somente pq tem um jornalista como o Jânio de Freitas? Vc nem deve ler a FSP e muito menos a Carta Capital. Tenho uma pena danada de vcs, que se vendem por uns trocados. E acreditam  piamente na imparcialidade de nossa imprensa, pq não conseguem  analisar nada . Os estrangeiros somente perceberam o estado das coisas por aqui, após enviarem correspondentes, pq se continuassem lendo apenas o que vc lê, nunca saberiam a verdade real dos fatos.

      E nunca mais fale mal do Chico, um menino de 16 anos que compôs ” Pedro Pedreiro” e que mostra o quão consciente era desde criança e sempre mostrou em suas letras, as diferenças sociais existentes no Brasil. Seu coxinha !

  11. JÁ RASGARAM A CONSTITUIÇÃO!!
    JÁ RASGARAM A CONSTITUIÇÃO!!NÃO EXISTE MAIS. RASGADA E PISOTEADA! O golpe já aconteceu! E assim o farão!  GOLPE DADO, PODER TOMADO, TUDO NA NORMALIDADE! FOI ASSIM EM 1964 E OS TOGADOS REPETEM SUA CUMPLICIDADE COM O GOLPE! Está comprovado que esta quadrilha – políticos corruptos, mídia canalha e corrompida, judiciário covarde e executivo, em boa medida resultado desta promiscuidade para a tal governabilidade – fará o que quiser com nosso pobre país. Apropriou-se do poder, já o fez!Nem sei se falta mesmo só a coragem, se seria apenas covardia do STF! Pobre povo brasileiro que sequer sabe reagir.Pobres de nós. Nossa ação somente poderá ser assim sutil e permanente. “Nós conhecemos a língua que eles entenderão: Prejuízos, muitos” >> https://gustavohorta.wordpress.com/2016/03/29/nos-conhecemos-a-lingua-que-eles-entenderao-prejuizos-muitos/

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