No vácuo da análise do Pikkety, vem a turma dos fãs de Piquet!, por Monier

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Por Monier.,.,.,

No vácuo da análise do Pikkety, quem diria, agora vem a turma dos fãs de Piquet!

A F1 celebrou durante muito tempo a figura de Bernie como um gênio da criação de riqueza, pois do fim dos anos 70 ao final dos 90, e coincidindo portanto com o auge das idéias do neoliberalismo, o velho dirigente navegou nos ventos favoráveis da economia e acumulou riqueza como nunca antes na história do automobilismo. Era o guia ideal para um esporte onde não entra pobre.

Então os EUA enroscaram, a UE quase que se desfaz, e o bolo ficou menor. As montadoras não têm mais dinheiro para queimar em gasolina e borracha, a F1 tenta se adaptar procurando ser ecológica, e afundando aquela aura original. A ponto de a crítica ao Bernie ser unânime, e o próprio admitir que não sabe o que fazer para voltar o negócio ao rumo, dizendo que a distribuição do dinheiro está errada, com a Ferrari recebendo 100 milhões para participar apenas pelo seu valor histórico.

Porém, o que salta aos olhos é a lógica dos “99% x 1%” sendo utilizada recorrentemente pelos participantes de um negócio notoriamente elitista, em que alguns poucos milhões no bolso não são suficientes para montar uma equipe e competir.

Nesses tempos de aperto, está ficando claro que não importa a classe social: todos querem uma divisão justa da riqueza, que não pode ser produzida infinitamente. A concentração de riqueza em geral certamente afeta menos quem está no negócio do automobilismo, pois ninguém ali chega perto de resvalar na fome, na falta de teto, ou qualquer outra necessidade básica. Mas, diante do aperto, a lógica do 99% chega até eles também.

Tenho acompanhado notícias de bastidores da F-1 bastante por curiosidade nessa questão. Enquanto era fácil fazer o dinheiro crescer para o topo da pirâmide, a meritocracia era o ponto central. Agora que a fonte secou, a quem interessa a concentração do dinheiro e de seu potencial mobilizador das pessoas, enquanto equipes pequenas vão falindo, outras sequer são formadas? É interessante ver como o discurso está sendo formado.

Vontades de figurarem nas listas da Forbes à parte, o que dá legitimidade a quem tem os recursos financeiros imensos nas mãos é a capacidade de mobilizar uma quantidade grande de gente da melhor qualidade, dando um norte ao esforço de todos. Agora, em tempos de escassez, os 1% de acumuladores estão sendo visto como parasitas, gastando dinheiro com champagne enquanto a base da sociedade automobilística quebra. Dá-lhe Pikkety!

do Blog do Ico

Do DNA da F-1, só resta o GP da Itália. E ele é o próximo alvo de Bernie 

Luis Fernando Ramos (Ico)

 James Moy Photography

Foto: James Moy Photography

Se você procurar nos livros de história, a primeira corrida a carregar o nome de “Grande Prêmio” aconteceu no fim de junho de 1906 em estradas próximas à cidade de Le Mans, na França. Foi disputada em dois dias, com seis voltas em cada um deles, num percurso total de mais de 1.200 quilômetros. Uma verdadeira maratona de resistência vencida ao final pelo húngaro Ferenc Szisz com um Renault.

O grid contou com 32 carros fabricados em apenas três países: França, Alemanha e Itália. Neles se concentravam a indústria automobilística em seu nascimento, com o esporte a motor surgindo ao mesmo tempo. São estas três nações que formam o DNA do automobilismo.

Mais de um século depois, a chance da Fórmula 1 perder este seu código de origem é muito grande. O último GP da França aconteceu em 2008. Neste ano, o calendário não terá a prova da Alemanha. O atual contrato de Bernie Ecclestone com o GP da Itália se encerra no final do ano que vem e ele já avisou que não pretende renovar porque o acordo “é comercialmente um desastre”. O chefão da categoria parece mesmo querer acabar com o pouco que ainda resta de tradição nela.

O modelo praticado por ele é insustentável para muitos países. Ecclestone cobra uma taxa caríssima, com reajustes anuais extorsivos, apenas para que o organizador tenha o direito de realizar a prova. Este assume também todos os custos para sua realização. Na realidade econômica atual, são poucos os que se arriscam a fazer isso.

Especialmente na Europa, onde a ajuda governamental é praticamente inexistente, a situação é complicada. Os GPs da Áustria (Red Bull) e da Bélgica (Shell) sobrevivem pelo investimento de empresas privadas. A prova na Hungria acontece por uma relação especial de Ecclestone com os organizadores e o GP de Mônaco tem o privilégio de não pagar taxa nenhuma para, em troca, oferecer o cenário onde a maior dos negócios milionários que envolvem a categoria.

Enquanto isso, Espanha, Inglaterra e Itália fazem das tripas coração para manter os seus eventos. Já a corrida em Nürburgring se junta a uma lista longa de organizadores privados que não conseguiram sobreviver ao modelo de Ecclestone, sendo os GPs da Índia e da Coreia do Sul os exemplos mais recentes disso.

O GP da Alemanha pode até voltar no ano que vem em Hockenheim, mas também não é sustentável a longo prazo – no ano passado, o prejuízo dos organizadores foi enorme. As conversas sobre o futuro do GP da Itália prosseguem. Mas caminham também para o fim da corrida após 2016 – a organização não tem como pagar mais e Ecclestone não vai abaixar o valor pedido.

Negando sua origem, a F-1 caminha para deixar meia dúzia de milionários um pouco mais ricos, enquanto se afasta completamente do seu torcedor.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

4 Comentários

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    1. Não, Athos

      É sobre a frustração da F1 perder suas origens por causa do olho gordo do “tio” Bernie.

      Só não consegui encontrar uma ligação razoável dos fãs do Piquet com essa estória.

  1. Não, o texto não fala

    Não, o texto não fala propriamente que existem lugares no mundo que podem pagar pelo GP e que ele deve ser feito na Europa porque sim. Na realidade o texto fala de como esse modelo vampiro do Ecclestone está acabando com a categoria justamente por ir somente atrás de lugares que podem pagar em detrimento de onde estão os fãs verdadeiros. Todos nós criticamos quando a seleção brasileira joga somente em estádios mundo afora e nunca no próprio país dela, justamente porque lá fora estão os que pagam para levar os amistosos, enquanto que os torcedores que aqui estão pouco veem o time da CBF e com isso uma crise de representação ocorre.

    Pois então, na F1 é a mesma coisa. A crise na F1 tem dois lados. O lado financeiro, porque muito embora o Leprechaum (como eu acho o Bernie devido a sua altura e atitude) encontre quem se disponha a pagar pelas taxas altissimas para sediar os GPs, esse dinheiro não é distribuido de modo correto, e algumas equipes recebem muito enquanto outras sequer recebem o adequado para a manutenção e desenvolvimento de um time. O resultado, foi que se viu na Australia, prova de abertura do campeonato, onde apenas 15 carros largaram, 11 chegaram ao fim e a Mercedes fez 1-2 colocando meio minuto de vantagem (em padrões de automobilismo é uma eternidade) sobre a segunda equipe, Ferrari. Isso desanima o torcedor e a audiência televisiva que vem caindo no mundo todo por causa disso.

    A outra questão, é que tirando as corridas da Europa, por causa dessas taxas absurdas, o esporte se distancia do seu torcedor de fato. Querendo ou não, está na Europa ou público que lê, torce e segue a F1. Basta ver que o GP da Malasia é disputado desde 1999, e nunca teve as suas arquibancadas lotadas. O GP da China é disputado desde 2004 e é outro Grande Prêmio ignorado pelo público do país. Coreia do Sul entrou e saiu do calendário sem sequer atrair os sul-coreanos ou provocar comoção neles pela ausência posterior. Enquanto que na Europa há um público que se aproxima do esporte numa relação próxima ao que se tem no futebol. Com bandeiras, torcida, etc.

  2. Texto do Monier muito

    Texto do Monier muito fraquinho para ser um post. ” Quebra das bases da sociedade automobilística?” “demanda por distribuição justa da riqueza?” isso não tem nada a ver com o negócio do tio Bernie. Formula Um sempre foi um caos com algumas regras para parecer esporte, e que eu, por exemplo me apaixonei quando criança e ainda acompanho como adulto pela identificação com o país e pelo ambiente competitivo e tecnológico, por mais absurdo que isso possa ser, pois esperar justiça, igualdade de oportunidades e outros idealismos num evento fechado  é nonsense , assim como , por exemplo no  UFC, além de ser um belo produto de mídia. Evento da Globo, exclusivo.

    Nunca teve essa conversa de meritocracia. Sempre teve dinheiro envolvido, sempre se comprou vaga, sempre tiveram equipes melhores, só que carro era algo tecnologicamente mais simples e quebrava, criando alguma incerteza e expectativa. Além disso tinham os desastres. Já vi chamada da Globo e de outros canais para formula um e outras categorias editando somente os desastres.  Mórbido.  Quando adveio a eletrônica, a telemetria os túneis de vento e os designs aerodinâmicos  por supercomputadores, o fator humano tanto na engenharia quanto na pilotagem diminuiu muito. Acabaram os desastres, reduziram se os imprevistos, botaram motor eletrico e está virando um autorama. No mais continua a mesma selvageria econômica e assimetria de oportunidades que sempre teve. O que o Bernie continua fazendo é tirar proveito da situação. Quando apareceram as montadoras ele trouxe, quando apareceram os petrodolares ele surfou, os emergentes  Russia, Malasia, até quando quiserem pagar para ver os carrinhos girando.

     

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