NOSSA TRAGÉDIA FUTEBOLÍSTICA

Não. A selecinha não foi desclassificada por “falta de organização” ou “falta de treinos”. FOMOS CAMPEÕES CINCO VEZES SEM LIGAR MUITO PRA ISSO. Nós, brasileiros, se dependêssemos da cultura organizacional para alguma coisa estaríamos extintos. Somos a nação do improviso, do “jeitinho” e do atalho às regras. Então, vamos cair na real? Analisando friamente, o Brasil até foi longe demais quando olhamos a combinação de alguns fatores:
 

Felipão deu de bandeja o plano tático do time e a “missão” de cada jogador durante a Copa das Confederações: dupla de zaga postada e precisa; dependência quase que total de Neymar na ligação entre meio-campo e ataque; Hulk e Dani Alves jogando abertos como falsos pontas; Fred isolado na condição de “matador”; Oscar e Paulinho aparecendo na condição de meia-atacantes e L. Gustavo na hercúlea função de tirar os espaços de campo nas jogadas contrárias. Seria muita ingenuidade imaginar que os adversários não perceberiam isso e tomariam medidas para anular nosso esquema. Portanto, ERROU FELIPÃO AO REPETIR TOTALMENTE UMA FÓRMULA QUE JÁ ESTAVA MANJADA, SEM ALTERNATIVAS OU “PLANO B”. 
 

O que aconteceu no curso dos jogos da selecinha nesta Copa foi uma consequência disto, não há o que “inventar”. Os times que derrotamos, vencemos sem convencer. Nosso toque de bola era totalmente dependente das arrancadas de Neymar. Muito pouco para um escrete que tem a pretensão de ser campeão mundial. Sendo assim, bastou uma marcação mais dura sobre o craque para que nossa seleção perdesse quase toda identidade e passasse a contar majoritariamente com “bolas paradas”. Sem Neymar, não houve alternativas, não houve “Plano B” e, se ainda houvesse, estaria dependente de um lampejo técnico de jogadores que pareciam desgastados e perdidos – Hulk, Paulinho e Oscar – e não de um eficiente modelo tático. Cabe ao erro de Felipão agora uma reflexão: a ausência de uma estratégia alternativa ocorreu por erros na convocação dos jogadores ou falta de competência da comissão técnica?

Para mim, seria a segunda alternativa, pois não acho que as “estrelas” que ficaram de fora resolveriam a parada sozinhos – Lucas, sempre pipocou na Seleção; Ronaldinho Gaúcho e Kaká estão em fim de carreira; L. Fabiano mal joga bem no São Paulo…
 

O que aconteceu nesta fatídica terça, dia 08 de julho, nada mais foi do que, de novo, uma consequência da teimosia e inoperância da comissão técnica. Tínhamos passado pelo Chile na base do sufoco – sufoco esse que nos trouxe mais uma revelação: o despreparo psicológico do time em lidar com situações limites. Quem foi o imbecil que enraizou na cabeça desses garotos – estrangeiros em seu próprio país – que a felicidade do povo dependia da vitória deles? A exclusão de Neymar na partida contra a Colômbia – justamente porque o adversário sabia que minar Neymar era imprescindível para detonar, simultaneamente, meio campo e ataque da Seleção – era o nosso começo do fim. Assim, entramos em campo contra a Alemanha já trazendo vícios e erros que anunciavam a derrota. O talento dos alemães mais a péssima estratégia usada por Felipão foi a conjuntura que transformaria nossa derrota em catástrofe. Escalar Bernard ainda mais aberto na lateral e colocar Oscar mais à frente para compor com Fred faria de nosso meio campo um céu de brigadeiro para as investidas adversárias. Após o primeiro gol, a maior parte dos jogadores se abalou psicologicamente, pois ficou diante de dois rolos compressores: a pressão pelo sucesso e a ausência do único sujeito com talento suficiente para reverter. Os germânicos já tinham percebido a via láctea no meio campo e ao contar ainda com o colapso moral do Brasil, deitaram e rolaram, literalmente. Nosso plano tático, que já era ineficiente, ruiu de vez. Resumindo, dava dó. 
 

Somente a torcida poderia recompor o descontrole emocional do time. Mas o que se esperar de torcedores que vão ao estádio mais pra xingar do que torcer? Gente interessada mais em fazer selfie do que assistir ao jogo; uma galera que canta que é “brasileiro com muito orgulho”, mas que quer distância do povão e de suas demandas. Gente egoísta, mal humorada, imediatista. Realmente, não dá pra esperar desse perfil de torcedor uma alavanca de entusiasmo moral. Portanto, a tragédia era dentro e fora de campo. Em meio ao massacre teutônico, nossa “torcida” se revezava, perplexa, entre choro, ofensas ao país e aplausos à Alemanha! 

Felipão foi honesto ao dizer, na entrevista após a partida, que a culpa era totalmente dele e que só podia fazer algo durante o intervalo. Sim, ele fez e embora o time mostrasse alguma reação no início do segundo tempo, esbarrou em algo que tem sido praxe nesta Copa: a competência do goleiro. Em 2014, essa foi o jogador que mais evoluiu entre todos. Assim, mesmo “despiorando”, não rolava o gol. Os dois tentos que a Alemanha fez na segunda etapa soaram naturais, pois a selecinha foi obrigada a se lançar desesperadamente ao ataque, ficando à mercê de contra golpes. A desolação tomou conta de todos – de narradores a expectadores, de jogadores à comissão técnica. Quando o juiz encerrou o jogo, nem havia mais lágrimas a escorrer, exceção feita ao bravo David Luiz. Estávamos triturados e resignados com a própria dor. 
 

Coube à mídia a tentativa de criar um clima de indignação, através de depoimentos acalorados dos mesmos comentaristas que antes bradavam ufanismo; da exposição do país às ironias e festas estrangeiras e da ressuscitação do discurso de que a Copa para o Brasil não era um bom negócio. Lamentável. Quanto mais me sinto esclarecido pelo viés empírico e humanista, mais repúdio sinto por boa parte dos nossos “jornalistas”. Jornalismo que se pauta, neste instante, muito mais na “maior vergonha sofrida pela Seleção na História do futebol” do que na possibilidade de evitar uma humilhação ainda maior na disputa do terceiro lugar. Alguém aí nas redações tem noção de dignidade? 
 

Sobra também o discurso de que “alguma coisa precisa ser feita para mudar nosso futebol radicalmente”. Sinto muito, mas se alguém imagina que teremos sucesso imitando a práxis europeia está redondamente enganado. Se há alguma coisa que deva ser profundamente alterada é essa mania de querermos ser aquilo que não somos. Precisamos nos reinventar a partir de nossas próprias tradições e talentos, a partir de nós mesmos. Chega a ser risível querermos um esquema tático coletivo mecânico e metódico e termos que ficar na dependência sempre de um craque. Foi assim em 94 com o Romário, foi assim em 2002 com o Ronalducho e queriam que fosse assim, em 2014, com Neymar. Não, não e não! A Seleção de 1982, mesmo perdendo, deixou mais saudade e nostalgia do que as duas últimas conquistas. Se houver alguém de juízo em nossos cartolas, que escolha um técnico que tenha apenas duas sapiências: optar pelos jogadores mais individualmente talentosos e deixar, apenas, que eles, alegremente, joguem o que sabem. O nosso futebol precisa se abrasileirar. E todos que o amam, agradecem!

Redação

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