Novo presidente do Equador segue roteiro de dependência visto na Argentina de Mauricio Macri

Renato Santana
Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.
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Durante conferência no The Interamerican Dialogue, em Washington, Noboa pediu empréstimos ao FMI, Banco Mundial e ao BID

O presidente eleito do Equador, Daniel Noboa, com sua delegação em reunião com o FMI. Foto: Rede X de Daniel Noboa

O Equador já caminha a passos largos para submeter ainda mais a economia estatal aos ditames dos fundos e bancos estrangeiros. 

O presidente eleito, o liberal Daniel Noboa, pediu neste domingo (5) a organizações multilaterais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (BM) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) que concedam ao seu país o que chamou de “um empréstimo-ponte” alegando que o Equador poderá dar um calote em suas dívidas.

Numa conferência no think tank The Interamerican Dialogue, em Washington, capital dos Estados Unidos (EUA), o futuro presidente equatoriano explicou que pretende realizar uma série de reformas para as quais o seu país necessita de financiamento, conforme os principais jornais do país noticiaram.

“Precisamos de um ‘empréstimo-ponte’ de nove meses para nos ajudar no investimento público, na educação e proporcionar benefícios fiscais para a criação de emprego e investimento privado”, explicou.

Na opinião de Noboa, que vem de uma das famílias mais ricas do Equador, um empréstimo de curto prazo o ajudaria a empreender reformas rapidamente para ser elegível à reeleição em 2025. “Algo que expliquei (aos organismos multilaterais) é que para o projeto ser sustentável é preciso que eu seja reeleito, e para ser reeleito é preciso dar soluções”, afirmou.

Caminho da Argentina 

Conforme o acertado em 2018, durante o governo liberal do presidente Mauricio Macri (2015-2019), a Argentina devia reembolsar ao FMI mais de 40 bilhões de dólares em 2022 e 2023. 

No ano passado, em fevereiro, o governo Alberto Fernández pagou aproximadamente US$ 370 milhões em juros do empréstimo de US$ 44,5 bilhões – Macri conseguiu US$ 57 bilhões, mas Fernández decidiu não sacar o montante restante. 

Para esta segunda-feira (6) outro pagamento estava agendado, desta vez US$ 800 milhões de juros, segundo a agência Télam. Além do pagamento exorbitante de juros, o acordo com o FMI causou dependência da Argentina ao fundo e se tornou um dos motivos da inflação alta. 

Conforme sempre defendeu Alberto Fernández, a Argentina tem que deixar essa dependência tão grande que tem com o FMI, que dedicou cerca de 20 programas ao país desde 1998, com o último intervalo em 2006-2018. Mas os problemas não param por aí.

O governo argentino anunciou neste domingo (5) que o FMI começará a investigar no final deste mês de novembro a fuga de capitais do empréstimo contraído pelo ex-presidente Mauricio Macri. 

A fuga de dólares tem sido tratada como caso de polícia pelas autoridades argentinas, que já efetuaram detenções no último mês, pois essa tem sido uma outra causa de desidratação da economia. 

Ameaça de calote no Equador

Noboa, por sua vez, explicou às instituições financeiras que “se não tivermos os programas que geram empregos, que aumentam as receitas do Estado em termos de receita fiscal e de exportações, será muito difícil este Estado não entrar em ‘default’ em 2026 e 2027”, afirmou o presidente eleito.

Um ‘default’ é o popular calote, o incumprimento das obrigações legais ou condições de um empréstimo, por exemplo, quando um comprador não pode pagar sua hipoteca, ou quando uma corporação ou governo não é capaz de pagar uma obrigação que tenha chegado a sua maturidade.

Sariha Belén Moya Angulo será a ministra de Economia e Finanças da gestão Noboa e ela já fez parte da da delegação equatoriana nas reuniões com o FMI e o Banco Mundial. Sua nomeação foi confirmada na segunda-feira (6).

Tecnocrata, Sariha é economista e nos últimos anos fez carreira no Ministério do Governo do presidente Guilhermo Lasso, onde trabalha desde julho de 2017 ocupando-se de diversas tarefas. Atualmente, ela é coordenadora de Planejamento e Gestão Estratégica da pasta, cargo que ocupa desde junho de 2021.

Assume em dezembro 

Em dezembro, Noboa assumirá um mandato de 18 meses como presidente do Equador, um país com níveis alarmantes de violência, grande incerteza política e uma profunda dívida social, depois de vencer as eleições antecipadas convocadas após a renúncia e declaração de ‘morte cruzada’ do atual presidente, o direitista Guillermo Lasso.

Com informações do jornal Primicias

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Renato Santana

Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.

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