O Brasil e o desafio da automação e da crise do emprego, por Luis Nassif

Em 2017, outro estudo, do McKinsey Global Institute, em cima da mesma base, constatou que apenas 5% dos empregos nos Estados Unidos poderiam ser totalmente automatizados, enquanto 60% poderiam ser parcialmente automatizados.

O estudo “Empregos perdidos, empregos ganhos: o que o futuro do trabalho significará” (https://goo.gl/n1SfAo) analisa quantidade e tipos de trabalho que poderiam ser criados e perdidos até 2030

1. Impacto no trabalho

O relatório constata ser possível manter o pleno emprego até 2030, mas com transições muito desafiadoras, maiores até que aquelas ocorridas com a agricultura e a indústria dos Estados Unidos e Europa no início do século 20. Em cerca de 60% das ocupações, pelo menos um terço das atividades poderão ser automatizadas. O efeito maior será nas tarefas repetitivas, como operar máquinas ou preparar fast food,  coleta e processamento de dados em trabalhos administrativos, como contabilidade e transações administrativas.

2. Cenários possíveis

O trabalho estima um crescimento do consumo, especialmente nas economias emergentes, que poderia garantir entre 250 milhões a 280 milhões de postos de trabalho. Importante: estima que gastos em saúde e educação poderiam gerar de 50 milhões a 85 milhões de novos empregos. Sobre isso falo no final.

Até 2030, haverá pelo menos mais 300 milhões de pessoas com 65 anos ou mais do que em 2014, exigindo mais gastos com saúde e outros serviços pessoais.

Desenvolvimento e implantação de tecnologia

Desenvolvimento e implantação das novas tecnologias poderão aumentar em mais de 50% entre 2015 e 2030, gerando de 20 a 50 milhões de empregos.

Investimentos em infraestrutura e edificações

Poderiam criar demanda de até 80 milhões de novos empregos, especialmente em habitação.

Investimentos em energia renovável, eficiência energética e adaptação climática

Energia eólica e solar; tecnologias de eficiência energética; e a adaptação e mitigação das mudanças climáticas podem criar uma nova demanda por trabalhadores.

”Marketização” do trabalho doméstico anteriormente não remunerado

Estime em 50 a 90 milhões de empregos em ocupações como como creches, educação da primeira infância, limpeza, culinária e jardinagem.

O grande problema é como enfrentar a transição, de preparar trabalhadores de setores automatizados para as outras atribuições. Entre 75 milhões e 375 milhões de trabalhadores precisarão mudar de categoria ocupacional e aprender novas habilidades.

3. Como gerenciar as próximas transições

Todas as sociedades precisarão trabalhar em quatro áreas principais.

Manter um crescimento econômico robusto para apoiar a criação de empregos

Políticas fiscais e monetárias que garantam demanda agregada suficiente, assim como apoio ao investimento e à inovação das empresas, serão essenciais. 

 Dimensionamento e releitura do treinamento profissional

Proporcionar reciclagem profissional e permitir que os indivíduos aprendam novas habilidades comercializáveis durante toda a sua vida será um desafio crítico – e, para alguns países, o desafio central. 

Fornecer apoio de renda e transição aos trabalhadores

Políticas mais permanentes para complementar os rendimentos do trabalho podem ser necessárias para apoiar a demanda agregada e garantir a justiça social. 

No entanto, nas últimas décadas, os investimentos e as políticas de apoio à força de trabalho foram corroídos. Os gastos públicos com treinamento e apoio da força de trabalho caíram na maioria dos países membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Modelos educacionais não mudaram fundamentalmente em 100 anos. 

O caso brasileiro

Enquanto o mundo ensaia mudanças centrais, o Brasil volta-se para a Idade Média, submetendo políticas públicas à religiosidade mais obtusa.

Na gestão de José Gomes Temporão, no Ministério da Saúde da Lula, e de Alexandre Padilha, com Dilma, foi desenvolvido o PDP (Programa de Desenvolvimento Produtivo) preparado pela excepcional Fiocruz. A ideia central consistia em tratar os gastos com saúde como investimento, e não como despesa. Criar-se-ia uma enorme cadeia produtiva, indo dos equipamentos e medicamentos aos cuidadores de idosos.

Essa política poderia se estender para Educação, permitindo ao país se inserir na economia global como fornecedor de tecnologias de bem-estar.

No entanto, um projeto precioso disso foi reduzido ao caso Labogen – o laboratório controlado pelo doleiro Alberto Yousseff -, meramente dentro do jornalismo de guerra que se implantou no país.

Ao mesmo tempo, o desmanche das redes de proteção ao trabalho, a ampliação da informalização, o fim do Ministério do Trabalho farão com que o país entre na próxima etapa sem nenhuma visão de futuro, jogando ao mar sua mão de obra.

Luis Nassif

17 Comentários

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  1. A bolsa adora…

    O mercado e a bolsa estão adorando esta situação de inexistencia de governo. A menos que alguem pense que o desastroso grupo bolsonaro/damares/ernesto aaraujo/moro/onix pode gerenciar algo maior do que uma churrasquira na praia.

    Nem vice tem mais.

    O mercado esta em delírio e a bolsa dispara. Alegria total e geral. Esquece o tal governo pequeno. Agora temos o total desgoverno. É o ideal deles, e nós nem dsconfiávamos.

     

  2. O capital não precisa mais do trabalho

    A questão é simples, Nassif: o capital não precisa mais do trabalho para se reproduzir. Então não há interesse do capital em investir em requalificação profissional e coisas do tipo, os 99% que vivem/viverão de bicos precarizados que se virem.

    1. Ledo engano
      O capital financeiro não entende que sem trabalhador com renda não vai ter arrecadação no governo para remunerar juro de dívida. Estão matando a galinha dos ovos de ouro…

    2. Não é bem assim…

      Caro Cesar, isso a que você se refere é um desejo, e não uma realidade.

      O sonho dos capitalistas é concentrar toda a riqueza e dizimar o trabalho. Talvez um servilismo feudal ou o clássico escravismo. Porém, não existe capital financeiro se não houver riqueza real para canibalizar. E aí está o problema: riqueza real só é produzida pelo trabalho. Por mais automatizada que seja uma economia, o trabalho é o pilar fundamental para a produção da riqueza.

      Tanto que um dos problemas do desemprego estrutural é esse: os capitalistas massacram o trabalho para compensar a queda da taxa de lucro, mas no fim do dia essa política tem um potencial destrutivo sistêmico. O que vale ter ações e “ativos financeiros” se uma hora o sistema dá “tilt” e toda essa “riqueza” vira pó? A destruição do trabalho é a destruição da própria base da rapina financeira. E esse é o problema do capitalismo atual.

      Se a sociedade é completamente desorganizada e empobrecida, o resultado é uma instabilidade social, política e econômica que no fim das contas sai mais cara aos capitalistas do que pagar um salário digno aos empregados. Mas aí a margem de lucro cai.

      Então temos a contradição de nosso tempo: ganância X sobrevivência.

       

    3. A eterna ganância, criada

      A eterna ganância, criada pelas eternas zelites, criaram um monstro e não sabem exatamente como lidar.

      Instauraram o caos.Não sabem o que fazer. Instalada a miséria criada porque vão se preocupar ?

      A qualquer momento sempre se terá zilhares, prontos a ocupar a vaga. Seja do que, e para que for.

      Assim perpetuarão o ditado: Criamos o problema e venderemos a solução.

      E a vida no eterno país do futuro continuará sua sina a espera semper do Messias.

      Que o inferno lhe seja pesado.

  3. Quando a tecnologia

    Quando a tecnologia industrial surgiu, ela foi uma criadora imensa de empregos (pegue o quanto de pessoas eram necessárias para cuidar de um cavalo e o quanto eram necessárias pra fazer um carro ) . Hoje está o seu oposto. Começou na própria industria automobilistica com o uso de robos e máquinas que preciam só de um funcionpario pra fazer várias funções.  Lembro-me da época em que o telemarketing foi a tábua salvadora de muitas pessoas para conseguir renda. Hoje, acabou, pois não é feito mais por gente. Outro setor que está na beira de se destruir milhões de empregos é o de motorista. Aquilo que até então só ficava nos filmes e desenhos animados tipo Jetson é realidade = carro sem motorista. Agora é questão de escala e confiança. E pra variar o Brasil está atrasado diante esse novo e temível mundo. Vai ser um milagre isso não ser o estopim de uma guerra mundial. 

  4. O dilema tostines…
    Não há transição possível…

    E isso Marx já desvendou desde o Gründisse…

    Os empregos gerados como resultado da expulsão dos contingentes da produção de valor acabam por integrar o espaço do antivalor, justamente a contradição imanente do processo capitalista, que é portanto, sua antítese…

    O desafio não é tentar dar uma natureza que esse trabalho improdutivo(do ponto de vista da produção capitalista) não tem, mas agregar esse contingente como plataforma anticapitalista…

    Porque o capital busca integrar esse trabalho que não gera valor, mas gera mais-valor (lucro) dando rentabilidade a esse trabalho e ao tempo ocioso disponibilizado por ganhos de produtividade e avanços tecnológicos…

    Em outras palavras:essa adaptação reivindicada por Nassif é mero enxugar gelo…

    E não sou eu que diz isso… é a história.

  5. O Brasil e o desafio da automação e da crise do emprego

    -> O estudo “Empregos perdidos, empregos ganhos: o que o futuro do trabalho significará”

    a ascensão da Big-Tech deve ser colocada lado a lado com a persistência da crise financeira mundial.

    o empenho para manter o austericídio, com o consequente rebaixamento de salários e degradação dos serviços públicos, é uma das razões do crescimento de empresas como Uber e Airbnb.

    por isto Silicon Valley também aderiu com tanto entusiasmo à Renda Básica Universal. pois assim boa parte da “população excedente” teria recursos para custear Serviços Universais Básicos.

    vivemos num mundo em rápida mutação.

    numa migração da forma de governar (governamentalidade) sob o modelo da economia política para um paradigma cibernético, a partir do qual estar vivo equivale fazer parte de um amplo sistema mundial de comunicação.

    vídeo: Evgeny Morozov Big Tech | IMPAKT Festival 2018

    [video: https://www.youtube.com/watch?v=nkReZuU5mxc%5D

    .

  6. ANTICAPITALISMO DE ESTADO ABSOLUTISTA ESQUERDOPATA

    Destruindo Empresas e Empresários Brasileiros, criando Estratais que ao invés de produzirem Empregos, Materias , Produtos e Tecnologias Nacionais, produziram apenas ‘Cabides de Parasitas’, como Monteiro Lobato já acusava nos anos de 1930, queremos produzir uma nova era de profissões? Quase 9 décadas desta politica cancerígena produziria outra realidade, diferente da qual criamos? Nossas discussões e projetos são lunáticos. País de muito fácil explicação.   

  7. O Brasil é um caso perdido,

    O Brasil é um caso perdido, sob todos os aspectos analisados; a permanência do atual governo nos levará ao caos. Em termos mundiais, a concorrência pelos mercados aumenta o estímulo para a automação. O controle dos Estados pelo capital financeiro impedirá qualquer política de desconcentração da renda e da riqueza.  É preciso uma dose cavalar de otimismo para acreditar em mudanças positivas que preservem um mínimo de dignidade para a maioria da população mundial. Mesmo conquistas científicas que poderiam solucionar o fornecimento de energia limpa ainda estão distantes.

    1. Você deve notar que não tem
      Você deve notar que não tem mais tutu
      e dizer que não está preocupado
      Você deve lutar pela xepa da feira
      e dizer que está recompensado
      Você deve estampar sempre um ar de alegria
      e dizer: tudo tem melhorado
      Você deve rezar pelo bem do patrão
      e esquecer que está desempregado

      Você merece, você merece
      Tudo vai bem, tudo legal
      Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
      Se acabarem com o teu Carnaval?

      Você merece, você merece
      Tudo vai bem, tudo legal
      Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
      Se acabarem com o teu Carnaval?

      Você deve aprender a baixar a cabeça
      E dizer sempre: “Muito obrigado”
      São palavras que ainda te deixam dizer
      Por ser homem bem disciplinado
      Deve pois só fazer pelo bem da Nação
      Tudo aquilo que for ordenado
      Pra ganhar um Fuscão no juízo final
      E diploma de bem comportado

      Você merece, você merece
      Tudo vai bem, tudo legal
      Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
      Se acabarem com o teu Carnaval?

      Você merece, você merece
      Tudo vai bem, tudo legal
      Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
      Se acabarem com o teu Carnaval?

      Você merece, você merece
      Tudo vai bem, tudo legal

      E um Fuscão no juízo final
      Você merece, você merece

      E diploma de bem comportado
      Você merece, você merece

      Esqueça que está desempregado
      Você merece, você merece

      Tudo vai bem, tudo legal

  8. A falha fatal de estudos assim

    Há um problema sério com estudos como este do McKinsey Global Institute: considera-se que todos os empregos são geradores de valor, o que é um engano, pois a maior parte dos empregos a serem criados são no setor de comércio, serviço e governo, que consomem o valor gerado na agricultura, mineração e, princpalmente, indústria, que são os setores que produzem a maior parte do valor e mais valor em escala mundial.

    E nesses setores produtores de valor o trabalho humano já é quase todo substituído por máquinas, o que vai se intensificar com a indústria 4.0. Como só o trabalho humano gera valor, isto significa que o capitalismo global não está gerando valor suficiente para se reproduzir como sistema.

    Por isso a grande quantidade de empregos gerada no setor terciário (consumidora de valor) tende a ser precária, em todo o mundo, pois para compensar a excassez de valor e manter o lucro se torna necessário reduzir o volume de trabalho humano ou explorá-lo mais, com baixos salários, jornadas mais longas e intensas e menos direitos, ou seja, precarização. Isto já está acontecendo e a culpa não é de decisões políticas equivocadas, pois se trata de uma necessidade estrutural do capitalismo para se manter a lucratividade.

    Por isso também o crescimento do setor financeiro, que gera capital fictício para a economia capitalista se manter a custa de crédito, já que a economia real não produz valor suficiente para se reproduzir.

    Por não considerarem a questão do valor e quais trabalhadores, no capitalismo, produzem valor (são produtivos da perspectiva do capital) e quais apenas consomem, tais estudos são falaciosos, pois se fiam apenas na quantidade de empregos futuros que serão criados.

    Não se atenta que nos setores que produzem valor de fato, principalmente a indústria, o trabalho humano já quase não é necessário, e será cada vez menos. Em consequência se produz cada vez menos valor a nível global. Por conta desta escassez de valor (apesar da imensa riqueza material que se produz, que no capitalismo isto não importa como riqueza), o capitalismo avança para um crise terrível, talvez final.

  9. Crise

    A extinção do Ministério do Trabalho é uma aberração que a classe média assiste calada. Falando sobre isso com um francês, ele perguntou como era possivel extinguir um ministério importante quanto esse para manter projetos e leis em direção do trabalho. Como? Pergunte aos eleitores do bolsonaro. E colocariam fim também nos tribunais de justiça agora mesmo se pudessem fazê-lo de canetada. 

    Entre o governo que se instala, as novas tecnologias e automatização crescente e a possibilidade de uma nova bolha mundial, caros amigos, apertem os cintos, que dias dificeis virão por ai para os trabalhadores. 

  10. Fim de uma era?

    Será que a era da escravização pelo trabalho vai acabar? Talvez a solução para o impasse produzido pela automaçao passe por aí. Todo ser humano teria direito a uma renda, desvinculada de qualquer trabalho. Seria a democratização do capitalismo, ainda que de uma forma inesperada. Todos já nasceriam herdeiros e acionistas do desenvolvimento acumulado pela humanidade.

  11. O Brasil e o desafio da automação e da crise do emprego

    crise do emprego? desemprego estrutural? “deploráveis” por toda a parte? don’t worry, be happy. Big-Tech já tem a solução: a realidade virtual!

    a Realidade Virtual tornará a vida melhor – ou apenas será o novo ópio das massas?

    “Palmer Luckey, the founder of Oculus Rift, and his chief technology officer, John Carmack, even speak of a “moral imperative” to bring virtual reality to the masses.

    “Everyone wants to have a happy life,” as Luckey likes to say, “but it’s going to be impossible to give everyone everything they want.” But VR can provide billions of people with virtual versions of everything the wealthy take for granted

    In Ready Player One, the 2011 bestseller that Steven Spielberg is adapting for film, the poor live in stacked trailer homes and spend most of their squalid lives logged into a metaverse called Oasis.”

    .

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